Blog de carácter pessoal, com predominância de textos em prosa e poesia. Ocasionalmente, de reflexão...
domingo, 28 de abril de 2013
POESIA SEM GAVETAS - PARTE I ....AUTORES
Foi ontem, 27 de abril na Fábrica Braço de Prata, o lançamento. Uma vez mais não pude estar presente. Além da distância, um outro problema de saúde inviabilizou a minha participação na festa. Mais ou menos há um ano, estive naquele espaço culturalmente apetitoso, no lançamento da Antologia Inverno. Talvez a editora se lembre dos coautores nortenhos...Além de uma nota de autor, cada um participou com três poemas. Deixo-vos o efeito visual...
domingo, 21 de abril de 2013
Quando me sinto peça de mobiliário
Estou
assim assim,
entre
atos que me espantam,
e
papéis que voam para mãos de asa…
Stalking
– que não conhecia –
perfeita
loucura!
Nada
disto se conjuga em poesia.
Indefino-me
nestes momentos.
Sinto
o corpo, vejo-o, é real
tal
como uma qualquer peça de mobiliário.
O
ser enclausurou-se num santuário.
Não
possuindo a chave,
perecerá
para esse louco mundo.
Não
acordei com este pesar.
Os
oráculos prometiam um dia de sonho.
O
sol cumprimentou-me a raiar.
O
guarda-chuva ficou em repouso.
O
jardim sacudia as gotas teimosas.
As
pessoas mataram-me de furiosas…
Por
isso estou assim assim.
De
semblante ensombreado…
Libertas-me,
meu amor?
OF
01- 03-13
Foto – Autor desconhecido
sábado, 13 de abril de 2013
Emigrei. Ponto final.
Emigrei.
Ponto final.
Hoje
não estou cá! Emigrei. Não saí do país. Apenas sei que é um lugar onde o pensar
e o sentir andam de mãos dadas. Hoje não podia estar cá. A tristeza da chuva,
os cinzas e os pretos das pessoas que vestem o luto do país, são-me insuportáveis.
Hoje é impossível sentir algo de colorido e o esforço de o pensar, uma violação
mental. Tão pouco me apetece enfeitar o meu estar com sonhos, metáforas ou
imagens, tão apetecíveis no ato de poetar.
Como
estou assim tão entediada e sem vontade de sentir olhares enviesados,
silenciosos mas recriminativos, emigrei! Aliás, segui um conselho sábio: já não
há lugar para o sonho, temos de deixar de ser tão românticos (ouvi dizer a
alguém numa rádio – até podia dizer o nome da pessoa e do meio de comunicação
que lhe deu voz, mas não merece esse instante de fama neste meu escrito!).
Emigrei,
ponto final. No tal lugar, os jardins simplesmente existiam, cuidando-se como
vizinhos em sociedades comunitárias; a singeleza das flores era de uma beleza
tal, que foi fácil esquecer o estímulo de prazer de ramos florais,
cuidadosamente elaborados pelas floristas. Tive dificuldade em descobrir a
presença de pessoas. De tão coloridas, perturbavam a minha perceção,
julgando-me num infinito de arco-íris, profusos, amplificando-se… Visão
surrealista, decerto. Não acredito em paraísos terrenos e desconfio mesmo da
semântica da palavra paraíso. O deslumbramento tornou-me demente, pensava. Mas
logo me sossegava com a certeza de ser impensável existir por ali algo
semelhante a hospícios. Talvez tivesse emigrado para o Woodstock, lugar de
culto do “peace and love”.
Uma
época. Um paradigma. O abalar do “status quo”. A revolução geracional que
vivia para o pensar e o sentir. Como me senti perturbada pensando nos jovens
dos trinta, penando por um trabalhito do qual precisam visceralmente para
sobreviver numa sociedade em que, sem dinheiro, não há lugar para a dignidade!
Ah,
mas tinha emigrado. Não podia deixar que estes pensamentos me roubassem de mim.
Também não houve tempo. Senti-me elevada, levitando por cima deste mar florido.
Percebi que não se falava, murmurava-se. Os sons naturais compunham uma
encantadora música como se estivera em concerto permanente. Como me
alimentaria? Como me vestiria? Como comunicaria? Não, os questionamentos também
precisam de férias.
Emigrara.
Ponto final. Estava num mundo novo. E como era desafiante!
Odete
Ferreira, 10 e 11-02-13 - Foto - Autor desconhecido
(Nota: quem me lê, já sabe que não publico os escritos, por ordem cronológica; é um pouco ao acaso; no caso da prosa, por vezes o escrito fica no bloquinho a aguardar vez...)
sábado, 6 de abril de 2013
Apetitosa mente sadia
Respinga o silêncio na madrugada.
Amortecem-se vagidos na aurora sombreada.
Cansados, os olhos da noite desejam sua cama.
Clareia o dia na floresta prateada.
Num novo dia em seu esplendor de dádiva,
docemente abana corpos sonolentos
despertando com jatos de água
a pele untada, bem cuidada.
sulcos cavados,
regados,
envoltos em amados
sonhos sonhados.
Um novo dia.
Um novo olhar.
Um apetitoso despontar.
Um café a fumegar…
Abençoada mente sadia…
OF
17-05-12
Foto – Carlos Alvarenga
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