Nunca escrevi tão pouco e nunca tive tanto
para dizer! Nunca fui tão pouco assídua na visitação material às casas das
pessoas que nelas habitam, lhes dão luz e me permitem delas retirar um pouco de
lustro! E, contudo, nunca me senti tão próxima, tão cheia de palavras! Porque
sei (e sabem) que sou presença e cuidado. Porque sei (e sabem) que o tempo,
aquele que é rigoroso e impessoal, tem de ser cadenciado, em cada ciclo, para o
afeto maior: respiração que me fogueia o coação, oxigena o corpo e me
presenteia com promessas de sossego.
Paz! A condição justa para objetivar, serenamente,
as coisas; para percecionar os momentos marcantes e intransferíveis, no nosso
percurso pessoal; para deixar a clarividência, como se sibila fosse, pousar nos
mais singulares sinais… E essas covinhas, meu anjo, são a leitura mais grata de
fazer…
Obrigada, meu querido amor, por este ano de
plenitude. É para ti o primeiro escrito do ano. Foi por ti que o ano de 2017 se
fez luzeiro e que os meus braços desanichados se encontraram no farol nascido
às 12:07 do segundo dia do ano. Depois, cada momento de ti, se foi colando à
minha pele, como segunda camada protetora; cada sorriso, um envolvimento
meloso; cada olhar, um estremecimento húmido e circular… E tantas foram as
palavras de versos soltos que me sapatearam o caminho…
Amanhã, meu pequenino, sensivelmente à
mesma hora, farei o mesmo percurso de há um ano atrás, para entoarmos os
primeiros parabéns, renovando, cada um de nós, um cântico velho de palavras, mas
sempre novo no eco emotivo dos votos futuros. E todos te envolveremos na circularidade
dos nossos olhares. Brilhantes, como a luz que ainda não apagarás…
1.º
aniversário do Ivo - 02-01-18 – Porto
-----------------------------------
(In)finitude
Breve é o momento.
Intenso o pensamento.
Incomensurável o estremecimento.
Na viagem memorial, como compor
as palavras na imensidão
de um sorriso germinal?
Escrevo-me de espantos, hoje,
enquanto a chuva, o nevoeiro e as nuvens
- novelos de lã para tricotar o céu
quando o sentir friorento -
me falam de manhãs gulosas
de versos e de beijos nos olhos.
Por isso, hoje, só me encontro no plural
do afeto. A palavra inteira e límpida,
como o olhar dos pássaros luzeiros.
Uns partem ao encontro de outros,
feridos, em amanheceres embrumados.
Outros, estão ali, à espera que as velas
se cumpram nos seus aniversários.
Odete
Costa Ferreira, 02-01-18, pelas 11H
Escrito durante a
viagem, Mirandela-Porto, para o aniversário do Ivo
(Na tarde do dia anterior, soubera da partida da querida
Alice Queiroz)