segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Daqui a nada…





Daqui a nada, a instantes mesmo, dada a pequenez da existência, dobra-se o ano, de forma perfeitamente objetiva sem qualquer interferência, nem mesmo a do senhor tempo, pois que este é, em simultâneo, dono e servo. E nós, apenas servos. É certo que temos o nosso momento de brilho: os rituais, os fogachos e outros artefactos. A futilidade útil, o brinde com espuma e sorriso. Mas apenas isto!

Neste postulado assenta a minha natural rejeição para fazer balanços, no que à postura e assunção de caminhos diz respeito. A conjugação das circunstâncias, dos espaços e das emoções, ditam-me o balanço necessário, em cada momento, ao longo dos dias do ano. As contas, essas, fazem-nas por nós; são números plasmados no deve e haver das folhas de excel, do extrato bancário ou simplesmente (e infelizmente) na troca direta entre as necessidades. Resta-nos a conta que temos connosco próprios: a de, em cada segmento temporal, extrairmos o saldo positivo de cada transação.
Assim sendo, com mais ou menos fogachos, que o sorriso se sobreponha ao choro e que o respeito pelo outro esteja na ordem do(s) dia(s)!

Odete Costa Ferreira, 30-12-2018
Direitos Reservados
Arte de Graça Morais, “O Segredo II”, 2008 (pintora nascida no concelho vizinho, Vila Flor, em Freixiel.) 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

És tu que me anuncias o natal




És tu que me anuncias o natal,
ainda que as palavras me cheguem
mais curvas e empalidecidas.
Talvez até medrosas. Se lá chegar;
Vêm cá este ano?
Não sei se as perguntas são mesmo perguntas,
que as respostas são cada vez mais incertas.
Mas, certo, certo, é o natal, mãe!
E as rabanadas que ainda fazes
bem molhadinhas em chá preto.
E somos dezembro, o mês inteiro.
Cordão umbilical que não se corta,
apenas se molda aos dias
em que és mais mãe e eu mais filha.
Por vezes, ausento-me e narro-te
em folhas que nascem de árvores.
Prefiro as outonais, caem mas são natal:
anunciação, advento, nascimento.
E somos gestação e parto. E dor,
quando os olhos não abrem sorrisos.
Nem ouso falar-te da orfandade fora de portas.
Dessa ainda posso cuidar. Mais tarde, quando vir
que o beijo te adormeceu o cansaço dos dias mais escuros.

Odete Costa Ferreira, 05-12-2018
Direitos Reservados
Arte de Christian Chloe

Com carinho, desejo aos meus amigos da blogosfera, uma excelente quadra natalícia.

(Aproveito também para, no meu espaço, divulgar o Prémio Literário da Lusofonia Prof. Doutor Adriano Moreira, deixando o link do regulamento, podendo ser este solicitado para o mail da Academia - http://altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.com/2018/11/regulamento.html)