sábado, 27 de outubro de 2018



Voragem

Na aquiescência da voragem dos púlpitos,
perdem-se as horas quietas nas varandas
da secagem dos frutos.
Parece desnecessária a mastigação
dos entardeceres acompanhados de copos de três,

não os reconheço, não lhes tomei o corpo,
mas sei deles porque a afeição telúrica
das gentes da minha memória
honravam os pretextos para o escancaramento das portas.
E as pedras dos muros eram testemunhas
da veemência das falas e dos braços roliços,

a segurar mundos. Mundos em que o silêncio
era pesado apenas fora deles.
Dentro, os ecos eram sinais de vida,
púlpitos autênticos sem fake news.
Com rostos abertos a olhares viris, sem medo,

e as crendices, que habitavam os gestos,
uniam as almas crentes.
Neste tempo, de redes com cantos de sereia,
asfixiam-se peixes. Sobretudo,
os que teimam em manter as guelras limpas.

Odete Costa Ferreira, 27-10-18
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Obra de Rosi Costa