segunda-feira, 25 de maio de 2015

Talvez


Obra de Leonid Afremov

Sentou-se. Maquinalmente. Como a sua vida nos últimos tempos. Desligada da mente. Um corpo que repetia gestos memorizados ao longo dos anos. Só isso é que explicava a razão de ainda não se ter apercebido de olhares estranhos. Talvez a estranheza fosse uma palavra que apenas ela discernia. Em si. Não nos outros. Talvez o real pertencesse ao domínio dos matemáticos que sempre engendravam fórmulas para demonstrar os impossíveis. Ela só sabia de perceções. Um pouco de grandezas. De cores. De cheiros. Ah, de amor, sim – acreditava – mas talvez fosse apenas mais uma perceção. E eram assim os seus dias. E algumas noites. Cheias de muitas coisas e de poucas coisas. Nada de substancial. Mas sempre com um Talvez a azucrinar a mente. Poderoso, este advérbio. Sorrateiro, apoderava-se do leme e conduzia o barco a seu bel-prazer.
E a vida não tinha vida.
Talvez… Ou teria?

Odete Ferreira 24-05-15

quarta-feira, 20 de maio de 2015

E já lá vão 4 anos...


O tempo vai-me adiando a decisão. Impunha-se que já tivesse editado um outro livro. Escritos não faltam. Editoras são mais que muitas.  Talvez seja esse o problema... Não consigo decidir (-me)!

Para quem tiver alguma curiosidade, deixo os links das postagens que transcrevem momentos que vivi em suspenso...
http://portate-mal.blogspot.pt/2011/05/e-ja-amanha-20-de-maio.html
http://portate-mal.blogspot.pt/2011/05/o-evento-o-espaco.html
http://portate-mal.blogspot.pt/2011/05/o-evento-sessao-de-lancamento.html

(Aproveito para agradecer as visitas e comentários d@s amig@s que acompanham o que vou divulgando. Como há momentos em que estou mais embrenhada na escrita de textos com estrutura narrativa mais elaborada ou a participar em eventos ou desafios literários, tardo nas minhas visitas aos espaços que sigo. Mas lá vou!)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Surreal XXV



E os montes pintaram-se de amarelo.
Do verde já cansados
chamam o maio das maias.
Também o das marias.
Na terra ainda humedecida
de madrugadas ondulantes
ouvir o terço faz sentido.
Avé-Marias de aconchego
pela noitinha…

OF-04-05-15

domingo, 3 de maio de 2015

Sorri (-me) sempre, Mãe!



Hoje não há sol. E as mães precisam de sol. Não é bastante o sol que carregam consigo, como eterno ventre emprenhado. Os raios de sol são-lhe tempero e o sorriso fica mais apaladado. Sentimo-lo nos pratos que saboreamos. Mastigamo-lo como iguaria. Para mais tarde recordar. Como as fotos. Quando se ia tirar o retrato ao fotógrafo era sacramental a advertência “Sorria”. Com o tempo, aprendemos a distinguir os sorrisos. E eu bem queria que sorrisses mais. Ultimamente, tenho tentado compor uma moldura dos teus sorrisos na minha memória. Vá lá, faz um esforço! Como aquele, tranquilizador, quando, apreensiva, te perguntava “Mãe, vou ficar assim pequenina como a Lidinha do carvão?”. Pouco mais cresci, mas esse sorriso cresceu comigo.
Hoje, ao desejar-te um feliz dia, enquanto te pouso os lábios nas faces ainda frescas e as rosas do meu jardim nos teus braços, vou pedir-te um sorriso. A minha moldura precisa de mais cor.
A chuva parou. Talvez seja a aberta por que esperava o sol . Já o sinto sorridente, por detrás das nuvens plúmbeas…


(OF) Odete Ferreira - 03-05-15
( Na 1.ª foto, era a pujança da juventude; na 2.ª a força do querer. Hoje, aos 78 anos, continua, simplesmente, linda...)