Atento sempre
nas citações que muitos amigos partilham nas suas páginas. É raro não as tomar
como sábias e, ainda mais raro, não fazer uma reflexão com o meu ser ou modo de
estar na vida. Aliás, desde muito cedo, adotei, implicitamente, meia dúzia de
provérbios como mestres na minha conduta e modo de ser, como: não guardes para
amanhã o que podes fazer hoje; não faças aos outros o que não gostarias que te
fizessem a ti; há males que vêm por bem.
É evidente que não sei se haveria já no meu ADN uma predisposição
para tal ou se estes (e outros) ditados funcionaram como linhas orientadoras. Sempre
tive uma natural admiração pelas pessoas que, conversando, usavam imensos
provérbios ou ditos populares. Hoje, dia em que adiantamos a hora, o meu
pensamento anda às voltas com a reflexão sobre o termo felicidade. Tenho-me (ou
tinha-me) como uma pessoa tendencialmente tristonha, sem que esse aspeto me
impedisse de ser comunicativa, sociável e de sorriso fácil.
Tomava a felicidade como um nome abstrato, apenas traduzida em
momentos felizes. Mas hoje – até porque o sol é mesmo milagroso – concedo-me um
espaço para ser cobaia da minha própria análise. Sinto-me feliz e não houve
circunstâncias palpáveis que me tenham levado a este estado. E, quase por
extensão, tomei como certo que, afinal, a felicidade até pode ser um nome
concreto, um sentir que está dentro de nós, independentemente das
circunstâncias e dos momentos.
É como se fizesse uma viagem ao contrário. Não estou feliz porque
houve algo exterior; sinto-me feliz porque é cá dentro que se aloja a fábrica
do sentir. Maravilho-me com esta tomada de consciência. Sei que haverá muitos
momentos de tristeza, de inquietação, de aflição, de irritação, de frustração e
por aí adiante. Apesar disso, penso ter compreendido o que significa quando
alguém diz “sou uma pessoa feliz”.
É nestes momentos que lamento ter perdido a minha avó paterna tão
cedo. Escutar os mais velhos, sempre foi um momento de encantamento. Talvez comece
a sentar-me, de vez em quando, ao lado de pessoas mais velhas, ouvindo as suas
histórias. Os bancos dos jardins da minha cidade até são convidativos. E o rio chegará
ao mar mais enriquecido com a diversidade dos palestrantes. Pelo caminho, entre
salgueiros e escarpas graníticas, gargalhará as cusquices ouvidas. E eu prometo
matar-lhe a sede vindo uma e outra vez, com gente cheia de vida(s)…
Odete Ferreira – 29-03-15
Foto – Odete FerreiraAdenda em 04-04-15: na impossibilidade de vos visitar em tempo útil, desejo-vos uma Feliz Páscoa. :)