Não, não sou indiferente aos eventos mundiais e nacionais, na
exata medida do meu tempo e interesse que me suscitam. Também às minudências e,
sobretudo, às reações inflamadas que leio ou assisto, em direto ou diferido. Dou
crédito às análises sustentadas em factos credíveis, apesar do pântano
noticioso e pernicioso. Sei que nada é inocente e que há (quase) sempre
interesses e aproveitamentos por detrás de ações, ainda que nasçam de gestos
espontâneos. É época do vídeo viral, do voyeurismo mediático e de palcos
mirabolantes para diletantismos bacocos.
E não há sossego. Até o respiro soa desalinhado da sua
natural cadência.
E, depois, para que serve este arrazoado, este
efémero escrito, perguntará, porventura, quem se interessar na sua leitura.
Clarifico: apetece-me, frequentemente, tomar
posição sobre algo mais mediático, sobretudo quando, de ânimo levíssimo, se
atenta contra o carácter das pessoas, contra as suas diferenças e quando a
indiferença, a roçar o ódio, vem disfarçado numa espécie de opinião e, se feito
algo reparo, os ditos venham com aquela frase batida, de ter direito à liberdade
de expressão.
Depois, precisamente para dar aso a que o meu
respiro se alinhe pelo bom senso, deixo a arena para os digladiadores, sendo
que, em muitos, delego o ato de defesa da honra, da minha e de todos os que
creem fazer sentido remar em contraciclo, em conceder-nos o tempo de gestos
vagarosos pausados em instantes de eternidade. Que fazem o meu sentido, no todo
do dizer e do fazer, ramificando-me para o lado de lá, numa ânsia de
crescimento que acontece sempre que se desafia a altura dos muros.
Como este meu arbusto: nascido à minha revelia, em terra
vaga, glorifica-se, em todo o seu esplendor, apenas do lado de lá. Em verde de
esperança. Em vermelho de vida.
Odete Costa Ferreira, texto e foto, em 22-12-19
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Nota: quem me acompanha sabe das razões deste meu espaço estar cada vez mais minguado, em termos de publicações. A escrita, essa, embora mais esparsa, continua a ser produzida. Vou tentar passar nas vossas casas, por estes dias. Entretanto, deixo os meus votos de uma excelente quadra natalícia e notícias, em fotos, do meu Ivo, que fará três anos no dia 2 de janeiro de 2020.
O primeiro trabalho (e presente) do Ivo, desenho e recorte.