sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Há neste outono um luto diferente


Há neste outono algo que me cega.
Há neste outono algo que me ilumina.
A cegueira dos incautos.
A luz dos esperançados.
Há neste outono uma noite que se tarda no dia.

Ainda não te sinto.
Os verdes são primavera.
Os amarelos são verão.
Os negros focos de escuridão.
Incêndios que morreram na tua mão.

Onde morarão as telas outonais,
os vestidos que vestem a estação,
as brisas que acolhem teus ais,
as manhãs que nascem tímidas
e as noites precoces de solidão?

Ainda não te pertenço.
Ainda me quero viva.
Ainda não adormeço.
Mesmo que o sol pardacento
me convide a um estar sonolento.

(Há neste outono um luto diferente…)

OF  - 25-09-2013


(Hoje já choveu...O outono parece que se anunciou. Mas não aquele de que gosto...)

domingo, 22 de setembro de 2013

Momento(s) - I





  
Momento(s) – I

Oferecida sinto a flor
quando se abre ao dia.
Em mim projeta luxúria
vestindo-se de inusitada cor.

Na pele enrubescida
escorrem gotas sumarentas.
Guardo-as engarrafadas
oferto-as em dias de verão.

OF, 08-03-13
Foto – Odete Ferreira
Decidi incluir alguns escritos numa série que apelidei de Momento(s). Não tinha intenção de os divulgar neste espaço, mas como ando em acções cívicas até ao final de setembro, não quis deixar o blogue com um ar de desleixo... E já sabem que a minha cidade é linda... :)

sábado, 14 de setembro de 2013

Dou-te pedacinhos de mim

Dou-te pedacinhos de mim,

meu amor,
desiguais, é certo, mas sempre
a minha totalidade…

Olhares de silêncio
numa profundidade
que vai para lá do infinito.
Lágrimas que seco
antes do nascimento
numa emotividade
aconchegada no meu ventre…

Ainda te sinto.
Ainda te vivo
como se crescesses
fora de um tempo…

Sabes, não tenho coragem
de te dizer
és meu amor maior,
agiganta-se na floresta selvagem
do meu ser
onde as orvalhadas manhãs
recebem as gotículas soltas
dos olhos esverdeados…

Sabes, mas tenho coragem
de te escrever em poema.
De desenhar o teu sorriso
e nele fazer a minha viagem.
De colorir meu afeto terno
e nele gravar meu amor materno.

Sim, meu querido,
tu és exemplo de inusitada coragem.
A que bebo quando sedenta desfaleço.
OF, 04-09-13

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Para ser sincera ignoro a verdade



Para ser sincera,
queria escrever-te um poema
das ausências forçadas
das falhas imprevistas
da luz artificial
em dias de temporal
dos afagos que guardas
para noites de sonho…

Mas a verdade é que não tenho direito
ao meu presente sentir. Imperfeito,
observando a vida que me sobrevoa,
sentindo a espuma do banho de mar
      (bolas de sabão
      que se imiscuem
      na brincadeira de crianças
      em quente dia de verão).

Mas talvez não seja mal nenhum
ignorar-me nesta interdição
e sim fazer-te o poema
que trago sempre à mão,
guardado no olhar velado
do doce salgado
que me escorre pela face,
algaliada na solidão,
ancorado no porto revolto
da maré que manejo a gosto.

Sim, sou pró contradição…
Mas amo-te…Por maldição
do feitiço virulento
de que padeço.
Alma catavento,
ignora as brisas suaves,
esquece o sabor do beijo,
despe a pele do desejo…
                         
Ah! Não!
Se deixasse de sentir
deixaria de sorrir…

OF       13- 02-13
Foto –  Autor desconhecido