quarta-feira, 26 de julho de 2017

Como Fénix

Obra de Tomasz Alen Kopera

Sossego-me de vida em gesto lento,
apascentando colos de verde alimento.
Há corpos cansados em varandas de espera,
tardinhas secas, dessecadas, moribundas,
Já nada resta do que foi uma praça.

Despega-se a saudade do seu sentido.
É ao vazio que se cantam loas
de silêncio, de olhar mudo, de boca caída,
na apatia de escombros adormecidos.

Pelas ruas que já foram,
Cuido das flores azuis, sobreviventes,
testemunhas de sonhos recentes
e da crença na inalterabilidade dos elementos.

São ares a quebrar vidros,
instantes de roncos intestinos,
ira de deuses proscritos
da perfeita ideia legada.
Falha nossa. Pela boca morrem os atos.

Talvez sejam avisos, mensagens cifradas
no livro da Terra inscritas,
mas ao senso do Homem cerradas.
Que não se perturbem os silêncios emprestados.
São eles que nos permitem o caminho.

OF (Odete Ferreira) – 31-08-16

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Eflúvios


 Arte de Anastasia Vostrezova

Na plasticidade dos dias lentos,
exalta-me o viço da cor,
colírio de rosas brancas,
olhar líquido, abraço sedutor.

Que não fiquem secretos os pergaminhos,
testemunhos de humanos amores.
Dos primórdios chega-nos o rufo dos tambores,
soltando o ritmo, chamando a dança…
Vem de longe, a chama do abraço.

Na plasticidade dos dias escorreitos,
fervem-me líricos espasmos,
eflúvios de palavras fogosas
pluviosidade fora de tempo…
Quando em ti me cerras o peito.

OF (Odete Ferreira) - 24-05-17 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Sã idade. Ou sanidade

Foto, Odete Ferreira
É sempre um sentimento de plenitude, quando aqui me sento; o rio pausado no descanso das margens largas, abertas ao acolhimento gracioso; a esplanada despretensiosa e despreconceituosa, cenário perfeito para qualquer enredo e personagem; o som alternativo, emergente de emoções que só este adentramento permite; a postura sorridente que capto e captura as palavras, libertando-as para, de imediato, as aprisionar no escrito, testemunha de uma possível definição de felicidade…
E todas as inquietações capitulam.
E todos os sorrisos são risos loucos.
E todos os rostos amados se endeusam.
E todas as almas que não retive em momentos como este, são o quase, o senão para a assunção da felicidade em estado sólido.
E humidifica-me o seu estado líquido, barrento, como tempestade castigadora.
Mesmo nestes momentos. De poesia. Imperfeita, em todo o caso…
(25-06-17)
Obra, Pawel Kuczynski

… e para os casos em que todas as vozes castradas de uma réstia de bom senso se atropelam nas tragicomédias destes tempos. Definitivamente, o acessório saltou para a ribalta. Porque os olhos (e os ouvidos) se tornam, cada vez mais, fúteis. E, assim sendo, o essencial é domínio dos raros. Que serão os novos loucos a precisar de instituir uma outra sanidade…
Odete Ferreira
(30-06-17) 

*as datas são relevantes no escrito