quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Tempo que fica



Passeio os dias pela macieza do afeto,
num apetite voraz de sabor
a tempo que fica.
Como comensal na mesa de iguarias irrepetíveis.
Humanos risos, humanas mãos
que se tocam no burburinho dos talheres.
Que conversam. Entre-os-dentes.
Demorando-se na boca, na degustação das palavras.
Estaladiças, fogosas, vermelhas de paixão.
Num desnudamento vestido de cores.
De frutos. De mim. E de céu.
Que se compraz no desenho de olhos
em dedos ávidos de fugas.
Para dentro das raízes que somos.
Que se veem. Nas têmporas já maduras.
E nas histórias cheias de enredos.

(Odete Costa Ferreira) - 24-08-17
Obra de Josefa de Óbidos
(Passarei a incluir o apelido Costa nas minhas publicações)

sábado, 19 de agosto de 2017

Tontices e lamechices

Se custou? Em absoluto! Sinto-me como peixe na água, ou melhor, como aquariana num aquário ilimitado de água e tempo! A cadência da contagem mental, medindo a distância, manteve-se ágil. As bordas esbranquiçadas ainda marcam os limites conforme a maré; as ondas permanecem leves como os espíritos que as seguem. O corpo… O corpo é ainda de água a escorrer a malícia do sal benfazejo…
Toquei uma das rochas e o contentamento rebentou, incontrolado, iluminando o rosto e ostentando, sem pudor, as marcas da idade. Durante anos, o conjunto de rochas desiguais, delimitando a praia, foi uma espécie de meta, a marca da superação da caminhada praia afora. Daí que, o gesto simbólico do toque, soubesse ao rebuçado que ainda me é permitido saborear. E, por largos momentos, a sensação de festa não teve idade, apenas um experimento emotivo, o único que sustém o tempo e mantém as asas de anjo…
E todos os pensamentos se assemelhavam, se repetiam, teimando em reproduzir as memórias de verões (sobretudo pela Figueirinha, Portinho da Arrábida e Tróia) com o rebento a apalpar a areia, a chapinhar, a desafiar o mundo azul. Curiosamente, este ano, o olhar só ia na direção da cumplicidade entre avós e netos. E os ouvidos engatilhavam diálogos a partir da doçura das palavras, intensificada pelas bolas de berlim, que os netos e as netas mais crescidos aceitavam prontamente. Ora, férias são férias.  E não se deve recusar ofertas duplamente saborosas dos avós!
Tontices e lamechices… E é tanto!

Odete Ferreira, 18 de julho de 2017
Fotos de Odete Ferreira

Um apontamento sobre o regresso à praia de Monte Gordo, após alguns anos de ausência.


Onde me atrevo a nadar sem receio…


O hábito de deixar chapéus de sol, cadeiras e toalhas na praia, à hora de almoço, mantém-se.