sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um momento musical muito especial...

As lágrimas não são sinónimo de tristeza. O semema nela contido é vasto. A unidade mínima de significação, o sema, talvez seja o ser humano quando tomado pela emoção. Depois os mais variadíssimos semas que possam estar associados às lágrimas, é que resvalarão para a tristeza, a alegria e os vários graus intermédios de significação entre estes opostos. É como uma palete de cores...O vídeo que deixo, toma-me por inteiro!
(pausar Mixpod)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Rimas perdidas

Um novelo
                  enovelado.
Um gato
                  esfomeado.


Uma árvore
                   apoquentada.
Uma cadelita
                     perdida.


A vizinha
               atarantada
procura os bichos
                            afogueada.


Coitados dos bichos,
                                perderam o tino para casa!                                   


OF 04-07-2011  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Igualdade de oportunidades???

 Mais um dia em que as crianças ou jovens me obrigam a um olhar perscrutador. Mais um dia em que a rispidez ou cansaço dos progenitores me faz mexer na cadeira. Mais um dia em que posso até se mal educada apenas com o olhar (as palavras têm de ser medidas e mediadoras). Mais um dia...
Mais uma noite em que leio poemas de amigos e amigos em grupos poéticos. Mais uma noite em que leio (e comento) uma ou outra postagem em grupos ligados a questões de política em geral. Por vezes, consigo uns sorrisos, outras o semblante carrega-se de raiva e teclo com mais força e, num ápice, escrevo algo. É o caso.
Imperativo de consciência. Partilhei um vídeo nas minhas páginas do FB, Fica também aqui. Sobretudo, para reflexão...

(Acasos ou nem por isso; postei hoje um poema para quem comunica por palavras de silêncios. Agora, não escrevendo, remeto para imagens...Não são minhas mas de todos nós...)

Não sou surda. E vós?

 Que me diz o teu sorriso
quando te vejo alheado?
Que pergunta me fazes
com esse olhar calado?

Que mundo é o teu mundo
em silêncio fechado?
Que mundo é o meu mundo
em palavras pronunciado?

A ternura que me tolda
o olhar embaciado,
revolve-me de vergonha
do país mal amado.
Não te sentes ameaçado
pela revolta surda
do discriminado?
Talvez antes orgulhoso
perante a luta determinada
de gente segura
e merecedora
de um prémio maior
- o respeito!
Sente-se no peito
inchado do vento
que insufla as velas
do veleiro
que em ti, menino surdo,
viaja carregado de sonhos
e em malas, empacotados.

 
OF 11-09-2011
(Homenagem - 26 de Setembro, dia nacional no Brasil, dos que falam doutra forma...)
http://worldartfriends.com/pt/club/poesia/n%C3%A3o-sou-surda-e-v%C3%B3s#comment-152052

domingo, 25 de setembro de 2011

Quisera eu…

Quisera eu aprontar um sorriso genuíno,
afastar as regras da etiqueta,
não buscar falsa inspiração
em motores de busca
conforme estivesse de feição…
Rejeitar a panóplia de pensamentos
e versos com etiqueta
que se vendem como saldos de Verão…

Quisera eu apenas arrancar o sorriso que vem do coração…


Sim, hoje não é o meu dia de eleição
mas também não quero pedir perdão…

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Memória de ti, André V.

            É frequente pensarmos em pessoas que já passaram pela nossa vida profissional. Se bem que, se as evocamos, é porque o pessoal não ficou alheio. Pessoas, ainda que se encontrem na fase etária designada criança e/ou jovem. Escrevo sobre elas, em prosa ou verso, conforme o momento, o tempo e as circunstâncias. Explicitamente ou veladamente. Mas são centrais, não apenas pretexto para escrevinhar.
            Trago em mente um jovem. Sorridente, um olhar dócil que foi crescendo em contexto escolar, com alguma harmonia, até ao dia em que se cansou. Debalde, os meus (e de outros intervenientes educativos) argumentos. Sentia que tinhas razão nesse cansaço, mas não te podia deixar transparecer a irritação surda que me tomava perante barreiras reais, intransponíveis, apesar de exercer funções diretivas, à época.
            Menino com acentuada surdez devido a um azar do destino. Vítima de um acidente, aos 3/4 anos  que te lesionou para a vida, num país onde os recursos físicos e humanos eram, na altura, muito escassos, impossibilitando que as tuas capacidades fossem desenvolvidas. Obrigado seguir o mesmo currículo dos colegas por mais  adaptações que fossem operadas, como te fazer apreender os conceitos que só a palavra consegue? Entendia-te, entendias, no que era básico em termos comunicacionais. Foste feliz, na escola, enquanto pudeste.
            Todos somos culpados porque nos acomodamos, porque não gritamos ainda mais quando é preciso. Tinhas direito à aprendizagem da língua gestual, língua materna que os surdos reclamam. E têm razão! Se este país quisesse que todas as crianças tivessem igualdade de oportunidades, trabalharia há muitas décadas para esse desígnio.
            Ocorreu-me que, só quando alguma dita “figura pública” tem no seu seio uma criança diferente, é que se consegue algo mais. Se tivéssemos governantes com problemáticas deste género, estou convicta que se revoltariam com os dinheiros mal parados que tanta falta fazem para investir em equipamentos e recursos humanos em favor da tal igualdade de oportunidades, plasmada na Constituição da República.
            Ocasionalmente cruzámo-nos, André, quase sempre na companhia da tua mãe, mulher fabulosa entre rochedos nascida. Tal com tu!  Sorris, sempre. Derreto-me mas a mágoa da minha impotência permanece…
            Não lerás este texto, nem sequer imaginas que tenho um blogue. Contudo, apetece-me percorrer alguns quilómetros e saber de ti, da tua vida. Em todo o caso, algo saberei pela colega e amiga que vive no mesmo local. Sempre a escola, a ligar as pontas soltas, seja a formal ou a da vida! Um sorriso enlaçado, André V. em azul!
 Odete Ferreira - 11-09-2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tertúlia no Abrigo Poético - Tema: Tempo

Tempo…
            Há um tempo e as fases do tempo. Há o tempo cronológico e as fases desse tempo cronológico, dentro do qual crescemos como pessoas. Há o tempo psicológico e os estados de alma que nele projectamos…
            Há o tempo do ser, do estar, do fazer e a forma como cada um de nós o decalca na sua essência. É neles que se faz a aprendizagem que nos torna seres com particularidades.
            Há o tempo do pensar, do questionar, do memorizar que se molda na memória da nossa história de vida e nos leva a exteriorizar, frequentemente traduzindo-a por palavras, em prosa ou verso.
            Depois vem a saudade do próprio tempo, a saudade de nós, entrosada com a de outros. O tempo concreto e o abstracto. O tempo que se percepciona como real e o tempo do irreal, do sonho, da utopia. O tempo relacional e o empenho que nele investimos para que possa ser transcendental, plasmado em momentos, instantes.
            O tempo e a sua ausência, metaforicamente falando…
            Hoje o tempo será o da poesia ou a sua dialéctica. O despoletar de um subconsciente. A introspecção vertida na extroversão de sentires…O tempo, hoje, é vosso…Mas não façam do tempo um tempo de fuga!

Tempo de fuga

O calendário assinala
dias de aniversário
e datas com sentido, apreendido
entre dedos que folheiam
memórias,
marcadas pelo tempo…

Em fuga permanente
o tempo nada nos diz.
Escapa-se
e sente-se feliz.
Ri às gargalhadas
de pessoas orfandadas
de momentos
que não sentiram
nem colaram na sua pele…

Lamentam-se…
Para quê?
O tempo sorri
de lágrimas ensopadas
nas suas próprias palavras
que alguém não quis
transformadas…
Em instantes das suas vidas.

O tempo fugiu…
E eu não fui atrás…
Então sorrio
é a minha vez
de soltar gargalhadas
abafadas
em lábios trocistas
estampadas
em qualquer espelho…

Triste figura a minha!
O tempo, esse, está em fuga!
E muito bem, é a sua sina!

Odete Ferreira 
(Texto introdutório e poema da tertúlia do dia 16-09, como convidada principal)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Breve encontro com o tempo

 Num encontro fortuito com o tempo
(antes que tanto queria dizer)
naquele momento não saiu nada.
Receei que se tornasse inimigo,
ainda mais do que já o sinto.

Ele, coitado, até é bom rapaz,
Culpa minha, não ser capaz
de com ele ter convivência.
Atraiçoaria a minha consciência,
tenho culpa desta quesilência.

Ele é apenas abstracto,
eu um ser concreto
sapiente de racionalidade
mas também de finitude.
Cabe-me marcar um encontro…
Ele é eternidade!

Em diálogo monossilábico,
agarraria a sua ideia.
Seria audaz, pedindo:
dá-me o tempo de que preciso
para deixar em registo
o que esta alma incendeia…

Apenas isto, não aquilo
de que, por vezes, desisto…

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Que ser é o meu ser?

 Não é a primeira vez
que tento perceber
se sou triste por natureza
ou um modo de ser…
Insatisfeita. Talvez!

Quando o riso me sai fácil,
e o sorriso me rasga a face,
que modo de ser sou então?
Linha ténue
entre a normalidade
e a anormalidade…
Querer perceber,
será intenção
de uma mente agastada?

Acordar leve
sorrindo ao dia
ainda que com o seu humor
contrário ao meu,
seria desejo
que bem gostaria
ser inerente ao meu Eu…

Invejo pessoas alegres
que provocam gargalhadas
arrancadas
de um lugar que desconheço
mas ao qual sei que pertenço.
Contar piadas com graça,
sei não ter jeito.
Ser uma boa companhia
depende da senhora nostalgia,
se ela já se enfiou
na sua própria amargura.
Então sim, solta-se a alegria
e a empática comunicação.

O verbo sai sem falácia
e as palavras são reino
de palácio sem muralha.
E rio em turbilhão
em mente fervilhada
e mar de imensidão
de cultura mesclada
e gente sem raça
que fome do saber abraça
e criança inocente
em belo futuro crente.
E…

Momentos apaixonados
de prazer ilimitados
orgasmos mentais
seres diferenciados
entre comuns mortais…

Palavra, dona e senhora
de momentos especiais…

Que ser é o meu ser, então?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Be (Fernão Capelo Gaivota) - Neil Diamond (Legendado BR )


"Mas não quero honras. Não tenho vontade de ser chefe. Só quero partilhar o que descobrir, mostrar a todos os horizontes que se nos deparam." Fernão Capelo Gaivota

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Apenas as palavras necessárias

Soube ontem. Ontem, apenas. Ficará sempre a mágoa de o saber tardiamente. Não te pude ver antes de partires. Não te pude olhar, depois de partires. Não te pude acompanhar até à tua última morada. Foi um choque. Atentaste contra a tua vida. Ficará sempre um porquê a martelar quem te amava e estimava como colega e amigo. Um ser doce, atento, preocupado, gentil, grato. De uma gratidão que manifestavas por palavras mas que eu sentia muito para lá delas. As crianças, os jovens, uniam-nos no trabalho. Quanto do teu ser adivinhava quando me contactavas para que as suas problemáticas ficassem resolvidas…
Há alguns anos que te conhecia, desde que leccionaste na minha escola. Cruzámo-nos algumas vezes noutro espaço de lazer. Parecias bem, entre amigos/as. Parecias… Como somos bons em camuflar dolorosos sentires vivencionais!
Ninguém percebeu os teus sinais de alerta. Segundo Daniel Sampaio, há-os sempre. Perdoa a nossa cegueira, amigo E.
Deixo o abraço que não pude dar-te…
Odete Ferreira - 13-09-2011

domingo, 11 de setembro de 2011

Decorreu uma década...

Uma década...As cerimónias ainda decorrem...Aconteceu numa América que se julgava inexpugnável. O choque mundial. O espanto maior que o próprio mundo. O pesadelo que permanece e perdurará. A morte de milhares de vítimas inocentes, oriundas de imensos países... Há pouco, Paul Simon cantou esta canção. Optei por uma versão com a letra e fundo negro. A minha mais que singela homenagem a quem perdeu alguém muito querido(a). A minha revolta quando os interesses se sobrepõem às pessoas... Acontecem a 11 de Setembro de 2001. Eu e muitos colegas, assistimos, incrédulos, durante algum tempo. A seguir, camuflamos o nosso horror e iniciei a reunião agendada para aferirmos os objectivos do Estudo Acompanhado. Em Portugal, iniciava-se uma reorganização curricular, em favor das jovens pessoas. E acreditava-se... Hoje, ainda creio e quero muito...

sábado, 10 de setembro de 2011

Mãos

 Olho, com espanto,
as minhas mãos.
Reparo nelas…
Pouso-as
separando, delicadamente,
cada um dos dedos…
Como se escancarasse
a porta da rua
ao amigo.

Observo-as…
Acaricio cada dedo.
Não pela pela sua beleza
antes pela sua dureza.
Acompanham-me…
Como são imprescindíveis!
Mas não dei valor…
Acordo de um torpor,
perfeitamente inadmissível.

Via nelas a imperfeição…
A pele irregular,
que oleosos cremes
não podem disfarçar.

Hoje, deslumbro-me
E só vejo perfeição.
Executam os gestos,
que dita o coração.

Com as mãos acaricio
os rostos e as coisas.
Com as mãos partilho,
todo o meu mundo.
São esperança…
São herança
que deixo ao filho.

OF 21-03-2010 

(A foto, enviada pelo amigo oops!!!, que ilustra este poema - não incluído no meu "Em Suspenso" - é mais uma singela homenagem a todos os que delas necessitam para comunicar, através da sua língua gestual; por pressão dessa comunidade e bem, deixou de se dizer linguagem, passando a ter o estatuto de língua.)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Bipolaridade no amor


“Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito”
(…)

Evoco maquinalmente
estes versos simbólicos
dos Lusíadas, pátria cantada
em versos onomatopaicos
que permanecem nos ouvidos apurados…
Representação elevada
de pura sensibilidade
a momentos românticos.
Filme da realidade,
permanece na eternidade
de amores apaixonados.

Simbologia
tornada filosofia
de comédia da vida
e da vida em tragédia.
Joga-se no mesmo palco
tal como o choro e o riso.
Bipolaridade
estados perturbadores
trasmutados em escrito,
em palavra soada
a musicalidades
doentias…
Gravo-as na pauta
de todas as flores
nascidas de amores
da cópula do pólen
construindo o éden
da invisibilidade
perceptível na essencialidade
de alguns seres…

OF 10-08-2011

Nota: durante o mês de Setembro os posts terão a cor azul em homenagem a pessoas portadoras de surdez. Solicitou-me colaboração, a amiga virtual, Ester Moreira, brasileira, a cuja professora, professora de língua gestual, ela ofereceu o meu poema "Mãos".


(Adenda: resolvi adicionar o link, para terem acesso aos comentários ao poema)

http://worldartfriends.com/pt/club/poesia/bipolaridade-no-amor#comment-151697

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Reciclagem

 

Alargando o olhar, prolongando um corpo de plasticidade inventado, abarco um horizonte de memórias colectivas, particularizadas em segredos depositados nas folhas que caem, nas flores que os acolhem, nas aves que os transportam para os mais recônditos lugares estejam eles solidificados ou liquefeitos. Depois, em anjo transformada, reciclo os mais pungentes, dando-lhes a forma vivificante da fantasia.

Odete Ferreira – 06-09-2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sinto a vida, assim!

Sinto a vida percepcionando a de outros, balbuciadas em palavras inaudíveis, captadas em aromas transportadas na brisa do tempo... 
Odete Ferreira-04-09-11

domingo, 4 de setembro de 2011

Apenas estar

 Encontro-me em mim
em ti.
Quero-te apenas...
Assim.

Sem enfeites.
Sem disfarces.
Autêntico!

Senti.
Não pensei.

Pousei.
Meus anseios
de alma
em ti.

Esqueci
Receios...
E estive...
Assim...
 
OF  24-09-2010
(Série Esplanadas não incluídas no "Em Suspenso")

Apetite


Dia radioso.
Auspicioso.
Temperado,
refreando
o calor que vem de dentro.

Inquietude.
Alma irrequieta,
coração arroxeado,
estrangulado,
entre artérias
pulsantes.
Obedecem
à ordem interna.

Ignoram
o coração pensante,
de qualquer amante.
E o seu desejo
da coisa apetecida.

Assim não vale,
Soa a despedida!

OF 22-07-2010

(Série Esplanadas  não incluídos no "Em Suspenso")