domingo, 3 de junho de 2018

Intimidades

Intimidades I
Respirei fundo como liberdade a fazer-se sopro numa brisa tépida, retemperadora, redentora de preguiças egoístas. Como se culpa fosse a desatenção dos últimos tempos, o desvio do olhar para outras histórias, o resguardo das vozes que me correm nas veias. Posterguei a intimidade das palavras minhas, o seu apelo imediato, a urgência de pousio no branco do papel.
Respiro fundo. E vou-me reconciliando, como alívio após o cumprimento de promessa. Como remédio de toma inadiável em distúrbios emocionais. E não são as palavras doença e cura? Feitiço e exumação do desperdício? Depuração e elevação?.
Cadencio o sopro, intermedeio o conflito e, pouco a pouco, deixo-me possuir por todos os instantes de leveza, por todas as cores, por todas as melodias. É cinzento, o dia, apesar de quase maio. Mas sorrio, sorrio. E nem dou conta das chamadas perdidas. Dos ruídos comezinhos. Do afeto das coisas cuja maternidade reclamam. Das conversas que até podia escutar, de tão próximas.
Estou só e quero-me só. Em momentos destes, inclino-me, levando o corpo para dentro, como se fora aviso pespegado na porta de um quarto: é favor não incomodar!

Odete Costa Ferreira, em 29-04-18, Flor de Sal, Mirandela, num momento de respiro entre o tanto que me tem assoberbado, ultimamente.




Em 23 de abril decorreu a fase regional do Concurso Nacional de Leitura, nas Bibliotecas Municipais. Na minha cidade, a obra escolhida para os alunos do secundário foi "Perguntem a Sarah Gross" de João Pinto Coelho. Integrando o júri  e decidida a estrutura da prova, uma espécie de tertúlia, foi desafiante ler e analisar a obra e estar neste "conversatório" com duas excelentes alunas, em termos de conhecimento da obra e posicionamento crítico face à trama e às várias mensagens narrativas.

Intimidades II

Missão cumprida , num projeto ousado, considerando o escasso tempo para o executar. Impossível mesmo, não fosse a teimosia que supera circunstâncias adversas, emoções à flor da pele e factos exigentes de horas. Mas ei-lo, apresentado ontem, dia 26 de maio, integrado no Festival Literário de Bragança.
Riquíssima de conteúdo e convidativa na forma, a coletânea “Gentes e Lugares - Contos e Contas de Autores Transmontanos”, edição da Academia de Letras de Trás-os-Montes (ALTM), leva muito da alma dos seus autores, associados desta agremiação, da qual sou coautora, com o conto inédito Maria Alcina e na qual estive deveras envolvida, enquanto corresponsável pela coordenação, correção e revisão de textos, assim como outros elementos da direção da ALTM, sobretudo a sua presidente.
Foram de quase clausura, os últimos tempos, mas profícuos em termos de resultados pois, além deste projeto, outras atividades literárias possibilitaram-me a reabilitação da palavra junto de públicos que queremos ver a dignificá-la e a enriquecê-la.
Entre Intimidades I e II, decorreu, sensivelmente, um mês. Um mês de pouco respiro pessoal mas de sopros benfazejos... Aquieto-me junto ao meu rio e restauro o olhar mergulhando-o nas suas águas calmas. Chega-me, nítida, a familiaridade deste espaço onde, de novo, me respiro e inspiro. Curiosamente, hoje o dia também não está radioso de sol, mas há música na alma e uma canção a estremecê-la.
                                                                                   
Odete Costa Ferreira, em 27-05-18, 12:45, Flor de Sal, Mirandela

Testemunhos em imagens
Oficina de Escrita
Festival Literário de Bragança - Moderação de uma das mesas de Poesia e Prosa, da responsabilidade da ALTM


Apresentação da coletânea, em 26-05, no Auditório Paulo Quintela




Registo fotográfico detalhado em: