As cadeiras rangem por falta de uso.
Nelas sentam-se máscaras de ocasião.
No palco aparecem outras de solidão,
vestidas de personagens ensaiadas.
Impacienta-se o corpo molengão.
Prepara-se a mente para a evasão.
Teatraliza-se o espaço.
Recolho-me no silêncio
verbalizado nas vidas roubadas,
em conformidade com o guião.
Surgem palmas, risos ou trejeitos.
Esqueço-me de mim,
igualo-me no frenesim.
Senhoras e senhores, o espetáculo vai começar!
As pancadas de Molière anestesiam os sentidos.
Hoje também estou no palco
e sinto-me a atriz principal.
Depois tudo voltará ao normal.
Cá fora chovem vidas por contar.
Lá em casa, perdidas, contas por pagar.
Apagaram-se as luzes.
Na rua brilha a escuridão,
no olhar conservo a ilusão.
(Lágrimas furtivas
denunciam a emoção
das palmas batidas…)
Como dói a vida na palma da mão.
OF – 27-03-14
Foto – Autor desconhecido
Foto – Autor desconhecido