segunda-feira, 28 de julho de 2014

A uma certa saudade

Instantes, momentos.
Rostos, sentimentos.
Lágrimas purificantes.
Nos olhos lubrificantes.
Vidros, cacos partidos.
Pedaços de vida doridos.

Folhas manchadas.
Mãos descontroladas.
Corpo cambaleante.
Alma errante.
Tela desfigurada.
Pele arrepiada.

Vazio esburacado.
Mar encapelado.
Tormenta indefinida.
Passagem só de ida.
Ilha de sofrimento.
Visões de tormento.

Penumbras sombreadas.
Raivas garatujadas.
Sóis engarrafados.
Sorrisos amarfanhados.
Paisagens dormentes.
Poemas dolentes.

Estados desfraldados.
Bandeiras ao sabor do vento.
Fustigadas pelo inesperado.
Janelas nostálgicas fechadas.
Costas coladas ao passado.
Pautas de músicas empoeiradas.
Em mim há perdidos e achados.
Peças enraizadas no pensamento.


Assomo à proa.
Trago a saudade incinerada.
Caminho na onda apaziguada.
Desenhei asas na saudade.
Conquistou a liberdade.
Como voa!

E eu? Ensaio um sorriso ao infinito.

OF – 23-07-14
Obras de Pawel Kuczynski 

(Amig@s: vou demorar algum tempo a visitar-vos. Entrei na 2.ª fase das obras. )

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Luar a meu gosto

Feiticeira sem vassoura,
elevas-me no feitiço claro,
escolhendo o caminho
que só tu conheces
porque namoras as estrelas.
E pairo no luar
do teu matreiro olhar,
em lânguida inércia
esperando o vai-vem
que me leva o sentido de mim.
Galática me vejo, corpo celeste
perdido num universo sem fim.

Sou-te resgatada,
Passou por ali um cavaleiro navegante.
Ansioso, pálido, ofuscante,
não sei de que luz crepuscular.
Traçada está a tua rota,
a minha pode mudar.
E naquele cavalo brilhante
esfreguei algum do teu feitiço.

O tempo deve ter parado.
O cavaleiro ficou especado
algures num monte sem nome.

Talvez fosse Vénus indicando a rota de regresso,
em noite de luar a meu gosto.
  
OF – 16-07-14
Obra de Laurent Laveder

terça-feira, 8 de julho de 2014

O que o abraço não disse

Fugaz apenas será a memória
do sentir anoitecido.
Abraço esmagado
num peito liso
de sentimento preenchido.

O silêncio paralisou o momento
na boca das palavras
enoveladas,
nos braços apaixonados
e no abandono da ternura.

Só depois os beijos selaram
as juras prometidas,
as saudades contidas,
as fomes do corpo
na dança do olhar intruso.

Mas, se tacteares,
seguirás o trilho do abraço
na pele amaciada do reencontro.

OF – 02-07-14

Obra de Tomasz Allen Kopera

terça-feira, 1 de julho de 2014

Tragicomédia de um verão português

Pintura: Salvador Dali

Apetece-me especialmente este verão.
Depenada, sem um tostão,
andarei despreocupada
com as pegadas na fina areia.
Serei a louca desnudada,
alvo de sorrisos dementes
ou gestos complacentes.
Talvez a visão de uma sereia…

Agrada-me este cenário
de santa sem relicário.
Incógnita, imaculada
de pele disfarçada.
Habitarei o quinto império,
do sonho não fui espoliada.

Resorts e campos de golfe.
veraneante sem destino.
Espia do grande regabofe.
Festanças e orgias…
Não serão meras fantasias,
tampouco perderei o vinho fino.

Há humores
e arrepios.
Há calores
e demasiados ímpios.
É um verão a rir e a chorar.
Um ciclo do universo,
um contra-ciclo no verso…

OF – 25-06-14 

Amig@s: sinto necessidade de informar que andei com problemas de saúde, logo sem grande ânimo para estar, com mais assiduidade, nos vossos espaços; a par, falta-me tempo, pois o acompanhamento das obras que estão em curso (e das quais não me livrarei tão cedo) exigem bastante de mim. São necessárias e, contra factos não há argumentos. Mas lá irei... Pelo menos, já estou a conseguir responder aos vossos encantadores comentários. Meu beijo :)