terça-feira, 26 de julho de 2016

E assim se fica nos dias de descanso


 Obra de Lauri Blank

Preparam-se bem os dias de descanso,
como se fora poda, o ano inteiro.
Das rosas bravias apara-se o cheiro
pois que, no claro olhar a cor se enfeita
e o colo do abraço os picos rejeita.

No afã dos dias que cansam a noite,
os sonhos tardam a clareza das manhãs.
Sacia o rio os ímpetos da pele,
doura o sol alto as dunas do peito,
tempera o mar a fadiga do tempo
e o sono acalma a ânsia do corpo.

Fazem-se felizes as memórias de cantos,
os gorjeios, os roncos e os pregões.
Comem-se apetitosos os lautos pratos
que, de tão simples, aprestam os sentidos.
E assim se fica nos dias de descanso,
bastando o arco-íris no seu jeito manso.

OF (Odete Ferreira) - 20-07-16

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Andamentos

E porque cada momento nos move, nos posiciona emocionalmente e nos externaliza, deixo dois andamentos que, parecendo antagónicos, fazem parte da mesma partitura.

Orgulhosamente, NÓS!

Não são meus os versos que escrevo,
apenas os colho do vasto estendal,
bandeira que te veste, Portugal!

Em cada esquina há fome de quinas,
em cada praça eleva-se a forte voz,
a da Marisa Liz, a da bravura de La Lys
e a “dos teus egrégios  avós”,
hino que cerra fileiras nos diretos,
nas crónicas, nas memórias,
um espiritual coletivo, de milhões,
com escudos de verde e vermelho assinalados,
como “as armas e os barões” de Camões,
lusíadas, lusos, portugas,
símbolos – tantos – a cantar
galos de Barcelos e outros bordados
a pontos nos rostos e nos relvados…

Hoje, saída das “brumas da memória”
que “Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu”.

Por isso avisei: este poema não é meu.

OF (Odete Ferreira) - 10-07-16, 17H
 Ente aspas, versos do Hino de Portugal
Poema publicado na minha página do FB, no dia 10-07, pelas 19H, com a bandeira de Portugal


Teoria do Caos legitimada. Culpados? Tantos! E impunes. Vítimas? Incontáveis! E sacrificadas em nome de loucos de rosto destapado. Para onde caminhamos, se o chão de paz é cada vez mais de guerra? Ah, pobre humanidade, matam-te os sonhos, imperam os pesadelos. Que o discernimento e os espíritos livres prevaleçam. Mais do que nunca precisamos de superação. Mais do que nunca é preciso desafiar o medo. E quando o corpo vacilar, que a alma nos fortaleça!

Odete Ferreira – 15-07-16, 13H
Escrito após o atentado em Nice e publicado na minha página do FB

Adenda: não, não sou de reações timóticas e tal como José Régio, "Sei que não vou por aí! "

https://youtu.be/7mqbKn-ik-c


  Cândido Portinari
Painéis Guerra e Paz, presenteados em 1956 à sede da ONU de Nova Iorque

sábado, 9 de julho de 2016

Sopros

Pintura de William-Adolphe Bouguereau 
(Zéfiro, o deus grego do vento oeste e a deusa Chloris)

Traz-me o vento sinais indecifráveis
e preciso consultar os oráculos ancestrais.
À falta desse tempo a mim vedado,
observo o remanso da folhagem
e os fumos elevando-se ao céu.

Mas, trai-me o meu parco olhar
e a pressa de sossegar a inquietude.
A promessa de ventos favoráveis
libera os barcos antes de tempo anoitecidos.

E vejo-me menina na barca do rio,
entre rios maravilha de lodosos fundos,
mostrando os perigos da travessia,
tisnando os sonhos que as margens encolhiam.

E havia o cata-vento como indício
e outros sinais desde o princípio
de antes do verbo e do batismo…
Preciso é catar o vento, o vento
que no teu corpo sopra de mansinho.

Deixa-me o vento geométricos sinais
que no meu corpo indicam o caminho.

OF – 15-06-16