Dezassete horas de uma tarde quente, abafada. Estrada por minha
conta. Casas adormecidas. As terras amanham-se nas madrugadas e nos anoiteceres.
Por aqui as horas dos homens não têm sentido. Mas hoje há um sentido para a
hora marcada. Dezoito horas. Lançamento do livro de poesia “Raízes Invisíveis”
do amigo Manuel Maria Figueira, na Fradizela. É para lá que me conduzo,
confortável, saboreando os acordes musicais e esta quietude que me seduz pela
imensidão de um silêncio que tanto me diz.
O largo. Diferente. Já com vida. Pessoas carregadas de anos e
outras mais leves deles, namoram o fontanário e o espaço arranjado,
aprazível pela conjugação harmoniosa
entre o tradicional e o moderno. Recebem-me os sorrisos. Do poeta e o destas
gentes. E o encantamento faz-se inquilino do meu sentir. Revejo amigos.
Aproximam-se outros. É assim: confia-se. Os olhos olham-se e as almas
abraçam-se. Foi neste ambiente autêntico, com o espírito perfumado dos cheiros
da terra que o evento decorreu. Mágico. Grandioso na simplicidade. Pleno na
afetividade. Fermento a levedar a massa poética de um povo atento e exemplar na
postura que adotou ao longo desta festa cultural.
Apresentar a obra poética para um auditório que bebia cada palavra
proferida, engrandeceu-me, honrou-me. E o poeta mereceu. Pela poesia que
materializou em papel e pela pessoa que é. Obrigada, Manuel, por me concederes
a oportunidade de viver momentos ímpares. E não preciso de desejar sucesso ao
teu livro. Vê-lo nas mãos das gentes que fazem parte das tuas raízes está para
lá do sucesso. E, estou certa, será destas raízes que continuarás a extrair o
suco poético que farão germinar os poemas que te são vida.
Odete Ferreira, a propósito da apresentação do livro “Raízes
Invisíveis” de Manuel Maria Figueira, em 20-06-2015, na Fradizela, concelho de Mirandela