Obra de Cameron Grey
Dizias que havia um tempo para tudo
e eu via o tudo em cada madrugada.
e que no sonho teu desejo me tomava.
Inquietos sentidos se alojavam,
tocas bravias onde me aventurava,
um jogo a quatro mãos jogado,
no tempo que sempre se tardava.
E as giestas abriam-se em sóis
e as vinhas amadureciam o mel dos beijos.
Recolhido o pão do sustento diário,
viria o frio da conserva das carnes.
E tinhas razão. Havia um tempo para tudo.
Bastava observar o voo da passarada.
A cadência pendular das marés.
Os solstícios e a vida temporã.
Os ciclos. E os círculos dos rituais,
vácuos insonorizados desenhados
onde apenas os amantes tinham lugar.
E era deles o tempo de todos os tempos.
Faziam sentido as juras e os sacramentos
renovados no alvoroço
das nortadas…
OF – 30-05-15
(Poema lido no 4.º aniversário da "Hora de Poesia", programa da Dr.ª Conceição Lima, no dia 24-10, em Vizela; trata-se da festa da poesia, entrosada com outras artes.)