terça-feira, 20 de setembro de 2016

Se nevoeiro fosse


 Obra de Enrique Monraz

Se de nevoeiro se tratasse,
bastava esperar que o tempo aclarasse…

… mas…

É névoa permanente a mágoa consistente,
lodosa água a turvar a nascente
da limpidez da imaculada morada.

A alma, lugar de todas as imanências,
se maculada, faz pousio na secura do vazio
e os gestos vestem a nudez do desapego.

Não há rio, corrente, sequer fio de prata
que lave a neblina de turvado olhar,
perdido em terras de ninguém…

… Tampouco…

O sol nascente para lá do horizonte,
a lua em quarto crescente prometida
branqueiam o enevoado espaço de dentro.

Se apenas dos dias o nevoeiro fizesse parte,
eram as noites que faziam os (nossos) dias.

OF – 14-09-16

Não costumo pedir nada mas, desta vez, atrevo-me: quem passar por esta partilha e não tenha estado na anterior, gostava muito que  não a ignorassem. Obrigada.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Visitação

Acontece ter-te
antes do teu grito terreno
pelo amor que me é íntimo
num ventre onde fecundo é o sentimento.

E verte-se uma ternura macia
a lavar a pureza que me renova.
São breves os instantes da aparição,
como reflexo fugidio em águas turvas de um rio.

E o todo é imenso,
ainda que as formas sejam difusas.
E como te sinto e te amo
na linguagem terna dos movimentos;
dança improvisada de gestos
que retenho na distração do sonho.

Ausentes eram as cores dos lugares,
apenas de azul era o espaço.
Uma estrela, a tua existência
que guiava e preenchia
o ninho do meu abraço.
Que em mim se quedou,
não fosse espantar o sono dos puros.

Componho estes versos imprecisos
antes que a memória se cale
na espera do teu grito terreno:
vIVO, pulsante, como luz
de solstício de inverno.


OF (Odete Ferreira) – 16-08-16 

Rui Simão (filho) e Patrícia
Foto de Rui Simão
(Nesta postagem tentarei responder aos comentários)