Obra de José Malhoa
Saberão um dia que não te renego
mas não nego que estou como em tempo de cheias.
Transbordo a irritação para lá das margens
escabelando a voz meiga da cegueira.
Nem sequer tenho escapatória,
as eclusas são demasiado apertadas
e tudo fica neste interior ensimesmado
Um deserto sem areias, nem espaço voador.
Asfixiam-me as notícias poluentes
que matam seletivas células de esperança.
Ainda ontem dizia que era feliz.
Mas como o ser na destemperança do outro!
Ai meu país de oásis benditos semeado.
Tanta cor, tanto odor, tanto amor.
Vejo, cheiro e afogo-me na bebedeira dos sentidos
de em tanta água lodosa mergulhar.
Corre mansa a água do meu rio
e este sol afogueado que o degela
prenuncia um ciclo novo de palavras.
Mas não te renego, país de poetas desconhecidos.
Trairia os versos apaixonados que inspiras.
Na força do vento espero tempestades varredoras
de gente vil! Sim , essa que te atraiçoa!
OF – 30-03-15
(Imagem retirado do google)
(Imagem retirado do google)