Meu corpo de água, minha pele, meu alimento, respiração e
inspiração. E ais de lamento, se te palpo o corpo emagrecido. Contra os céus,
não posso revoltar-me. Contra os desmandos dos homens, não meço forças, salvo
uns insignificantes versos ou dedos de prosa que espalho por aí. Contra os
hábitos de desperdício, há muito que ganhei a batalha. Penso mesmo que, desde
que me conheço como pessoa de direitos mas, sobretudo, de deveres. Vem de longe
o meu amor desinteressado. Tanto que trago o teu corpo no meu…
Trajam de verde, os meus gestos e as palavras que, colocadas num
sopro de verdade e guardiãs do teu corpo de água, repreendem, severamente, a
indiferença de outros…
Maldigo a semântica que fez uso da crença na tua eternidade, como
se de uma vingança se tratasse, perante a perenidade dos homens. Egoísmo atroz.
Desamor. Assassinato de emoções e sensações. Privação da condição primeira da
sobrevivência do que é ser humano: o imaginário direto, vivido olhos nos olhos
e legado na manifestação artística. O meu neto já não poderá atestar do remanso
de que lhe falarei, nem das cores vivas, sem manchas, nem dos cheiros frescos,
impolutos…
Meu amigo, meu corpo de água! Prometo continuar a não te falhar.
Prometo não deixar que o teu corpo emagrecido continue a definhar pela incúria dos
teus falsos amigos. Que se escudam em discursos palavrosos, nos exatos momentos
da incidência das luzes nas suas bocas imperfeitas. Pois que, perfeitas, são as
bocas que te beijam…
Odete Costa Ferreira (texto e foto) - 20-11-17