Quando te olho
E cada
passo é de sol,
adejante
movimento
entre o
tímido sopro
e o
repentino vento
que te
rasga a boca num sorriso
e me
esboroa por dentro.
E cada
gesto é de sol,
cativante
coreografia
entre
dedos de leveza
e pezinhos
de firmeza
que me
levam numa dança tonta
na
sofreguidão do voo.
E cada
sibilo é de sol,
eco do
som em que leio palavras,
que me
dizem, na mudez do amor,
ainda um
morno lago de murmúrios,
num mar
que me há de ser ser luz e espelho .
E todos
os dia são de sol,
exercício
de adivinhação,
leitura
de linhas de expressão,
maias
de emoção no meu peito.
E
momices com sabor a canção.
OF
(Odete Ferreira) – 03-05-17
O Ivo, 4 meses, num dos momentos de reação às momices da avó
Oro-te, mãe
Oro-te,
mãe. Todos os dias. Diria mais. A cada momento em que, de mim, sou consciente. Da
inconsciência não sei dizer, apenas da perceção. Sobre ela, sim, sei falar,
ainda que toscamenre. Não tenho a arte da tosquia. Por isso, fica sempre a lã
suficiente no meu corpo, de onde o cordão umbilical nunca se despegou e no qual
se iniciou, se desenvolveu e perpetuou esta perceção de te ter sempre em mim. E
sempre inteira! Com tudo o que me arrelia e com tudo o que me impele a ter-te
em mim. E tudo é o todo que abarca a minha memória. Que, bem sabes, nunca se
apresenta do mesmo modo. Como uma visita. Umas vezes, bate-nos à porta com um sorriso
largo. Como se viesse dar as boas festas. Outras, com um ar circunspecto,
sabendo, de antemão, que são esses os moments do amor pleno.
Hoje, nas rosas que colhi do jardim, vai o sentido maior deste
dia: o da celebração de existência: a tua, a minha…E a do nosso menino que
beijaste, emocionada (outra vez), há uma semana.
Oro-te, mãe minha. Sem prece previamente definida. Conforme o tamanho
do momento.
Odete Ferreira, 07-05-17
Foto: Odete Ferreira (a mãe com 18 anos)