segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Até já , tio Zé...

Hoje não. Hoje não há palavras certas. Hoje há apenas lembranças, questionamentos, pensamentos que se atrapalham. Na rede social FB, o que já li de ti, escrito por tanta gente que contigo privou, é muito mais importante a meus olhos do que um texto meu. Fui capaz de sorrir de orgulho, embora de olhar turvado. Partiste assim, sentado perto de um chafariz ouvindo o relato do teu Mirandela. Foi a hora errada para, provavelmente, descansares um pouco antes de fazeres a visita habitual à tua cunhada, minha mãe. Um acidente brutal colheu-te sem teres tempo de te aperceberes, tenho quase a certeza. Certeza, certeza, tenho eu da pessoal TOTAL que foste. Não falta assim tanto tempo para o Natal. O chá de limonete poderá já nem ser feito. Afinal, já não estarás para o degustar com a habitual filhó antes de te levarmos a casa...




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Fadado destino

Fado.

Vozes dolentes
encantadoras de serpentes,
em hino da nossa portugalidade,
sofridas na saudade,
na saudade perpetuadas.
Um trinar de gargantas
um silêncio escurecido,
intimista.
Sentem-se as almas
no virar da esquina
das ruelas de traça antiga.

Fado.
Canção destino
em novos talentos renascido.
Paixão imortal.
Património mundial.
Sonoridade do sentir,
interioridade do porvir,
futuro que há de vir
na utopia do Santo Graal.
No fado disperso em tipologia,
há encontro geracional
quando o olhar embaciado
nos embala em nostalgia.
           (…)
Será por acaso
que o destino também é fadado?

OF  - 16-10-2013
Foto – Autor desconhecido

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ataque literário… O meu!

Acabei de libertar um livro (uma das Antologias em que sou coautora) num dos cafés que frequento. Expliquei, sumariamente o objetivo da iniciativa ao dono, assim como previamente o havia feito na primeira folha do livro. E lá ficou, vaidoso, a enfeitar uma das mesas. Por momentos, apenas, pois um dos filhos, ao vê-lo, pegou nele, e, quase de imediato, ao ver-me sentada a escrevinhar, e deduzindo que seria meu, vinha devolvê-lo. O pai, prontamente, interrompeu-o, certamente para lhe explicar  o objetivo da iniciativa. O jovem leu atentamente a mensagem inscrita, sorriu e devolveu-o à mesa…

Quantos leitores lerão alguns poemas, que tempo permanecerá no café, são questões de mera circunstância. A semente foi lançada, alguns frutos dará. Mesmo que não frutifiquem na alma, o texto introdutório obrigará o(a) hipotético(a) leitor(a) a refletir na iniciativa…


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=742179405796033&set=a.271773609503284.88234.271668552847123&type=1&theater

Odete Ferreira, 19-10-2013


Nota: 19 de outubro foi o dia escolhido para a iniciativa apelidada de “Ataque literário”. Já havia participado em anos anteriores, em outras datas, sob a designação de Bookcrossing. Lembro-me que há dois anos “larguei” um na clínica onde tinha uma consulta marcada, no Porto. Que será feito dele? Resisto à curiosidade. Importa a atitude…



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Quando o tempo me toma e enamora

Amo sentir os momentos em mim,

sensitivos, emotivos, paliativos
de um querer a saber a infinito.
Pois infinitos são os momentos
que num intenso viver os sinto.

Assim como se amam o mar e a areia,
em cúmplices espasmos cadenciados,
assim rodopio na cadência do relógio,
onde o tempo me toma e enamora.

Se os momentos a mim pertencem,
quem poderá julgá-los de pecado
se meus lábios tua sede recebem,
se tuas mãos me efervescem,
se meu corpo em ti se alimenta?

Pecado é a saudade presente,
não amar o ser ausente,
abafar as palavras sofridas,
abafar o fado que me assiste.

Teço mantas de sonho.
Sorrio no teu peito de outono.
Abraço ramos de proibido fruto.
Crio cenários como torvelinho de ideias
e perco-me como marinheiro em sereias…

OF  - 09-10-2013
Foto – Autor desconhecido, 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Um novo ciclo...

Assim decidi, há cerca de 9 meses. Preencher um formulário a solicitar a aposentação antecipada. Podia fazê-lo e decidi de sopetão. Tomei uma decisão económico-financeira, como dizia aos colegas em tom de brincadeira. Fui-me preparando para iniciar um novo ciclo. Deixo-vos com o escrito que enderecei à escola, via e-mail, para que chegasse a quem comigo privou. Partilho-o também com todos vós que aqui me visitais...

Para vós….

Permitam-me que vos roube uns minutos ao vosso precioso tempo. Deixai-me fazer presença, através deste simples registo. Dai-me licença para entrar nas janelas que continuareis a abrir às crianças e jovens…
Terminou hoje, 30 de setembro (data em que recebi a carta de “recruta” para outra fase), um ciclo da minha vida. A de estar em efetividade de funções docentes. Não a de ser professora/formadora. Esse cariz acompanhar-me-á até que os olhos cansados (sei lá do quê) se fecharão…
Não estou triste. E, na verdade, acho que já não estaria na escola como o estava antes de, progressivamente, ser tomada de indignação por tantas medidas avulsas, sem rumo, cegas, desprestigiantes, que têm vindo a ser implementadas. Continuo atenta, não deixo de estar a par do que se passa na Educação e sinto-me quase culpada por estar libertada (mas penalizada) de imposições que me poriam doente.
Solidarizo-me com todos vós que continuais na escola (seja ela qual for), frequentemente penosamente mas com a vontade de contribuírdes para o desenvolvimento pessoal e educacional das jovens pessoas que serão futuro deste cantinho (ou farão parte de um outro) que ainda nos faz sorrir com os sucessos de que vamos tendo conhecimento.
Sinto-me grata por ter privado com tanta gente deste território educativo (ou de outros, ocasionalmente), partilhando ideias, desabafando arrufos, defendendo medidas adequadas, ripostando assertivamente perante passividades, elevando a voz quando entendia que se podia fazer de outro modo, com mais eficácia e menos burocracia.
Não peço desculpa por nada. O meu modo de ser e de estar foi sempre pautado por uma ética profissional incrustada no meu genoma humano e pelas circunstâncias do(s) momentos(s). Saudade, sim, terei. Mas aquela que me evoca momentos de um encantamento perante seres humanos de olhar brilhante pela curiosidade despertada, pelo convívio são e pelas gargalhadas de partilhas educacionais, pessoais ou circunstanciais.
Obrigada, amigos, amigas, colegas, abrangendo todos e todas que comigo privaram, (independentemente da função que exerciam), pela vida profissional que me proporcionaram. De mim tereis sempre a atenção e o respeito que (me) mereceis…
Desejo que procureis a serenidade interior de que precisais para que a aura da vossa alma seja um fator de apaziguamento nos momentos imprevistos e, quiçá, perturbadores, em tantos momentos do vosso caminho enquanto seres do ensino e da aprendizagem.
Acredito-me, ainda. Acredito que sejais capazes de trabalhar para um novo paradigma educacional, privilegiando valores ancestrais. Estarei sempre convosco! Abraço-vos…

Odete Ferreira, 30-09-2013 

domingo, 6 de outubro de 2013

Cidadania de pleno direito

Escrevo antes de conhecer qualquer resultado destas eleições autárquicas, tão atípicas, como dizia uma amiga. Tudo pode acontecer, acrescentava.  Por isso mesmo, a caneta apartidária exige-me este escrito, esta partilha de um sentir ao longo de ações cívicas em que participei, dando a cara por um partido e pelos seus candidatos. Aliás, já o faço há um bom par de anos. Não consigo ficar indiferente. Não posso deixar de exercer deveres pelos quais tantos lutaram. Há que honrar o legado de Homens de Fé, de Homens que não se calaram, de Homens que nos outorgaram algo que é inerente ao ser humano – LIBERDADE.
Na génese destas ações em que me empenho, está um desígnio que vai para lá do momento, da conjuntura: a crença no desenvolvimento pessoal das gentes pouco escolarizadas mas possuidoras de visão. E notei diferenças…Uma atitude mais recetiva, um conhecimento da realidade que vai para lá das pedras do seu espaço, a consciência de que ajudam a escavar um poço sem fundo… Resignação, também, o que mais me dói, o que mais me revolta. Ninguém devia criar este estado de ânimo nas pessoas. Crime, digo eu, parafraseando uma série televisiva que via há alguns anos atrás.
Sabe, menina, desde o tempo de Salazar que me mandam apertar o cinto. E isto nunca mais endireita, dizia-me um senhor. Respondia com um silêncio e um olhar pensativo que só adensava a certeza de que há muito se perdera a noção de decência…
E lá continuo partilhando algum do conhecimento que possuo. Sem demagogia. Sem receio. Apenas porque sou assim e tive o privilégio de festejar ABRIL já com alguma consciência, embora muito pouco conhecedora do que se passava nas grandes urbes.
A democracia não pode continuar a ser apenas invocada! Urge convocar rostos atuantes e possuidores de autenticidade no discurso, no gesto, na atitude. Urge erigir um monumento à essencialidade do Homem e lutar por um mundo onde o sol não aqueça apenas uns quantos…

Odete Ferreira, 28-09-2013


(Apenas hoje consegui tempo para fazer sair o texto do manuscrito para o pc. De resto, já conhecem os resultados eleitorais e não seriam eles que me levariam a escrevinhar. São as gentes, sobretudo as mais solitárias, não por opção, as que calam a minha alma e me impulsionam.) 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vai chuva, leva a tua música

Chove, não chove.
Intercalada,
como a estação.
Chega a chuva.
Num estremecimento,
intumescida,
a terra suga-a
em emoção.
Aplanada
ou lavrada.
Início de fecundação.
Perfumada
do cheiro exalado,
engalanada
de cores e sabores
abre seu ventre
à semente.
Orgásticos momentos,
comunhão
de um sentir enamorado
sémem em rego depositado.

Seco meus dedos molhados
na pele que me reveste.
Fito o azulado celeste
que me despiu e lavou…

Vai chuva, leva a tua música
derramada
em pauta de murmúrios
e rejuvenesce
a face tisnada
dos leitos já secos de longo estio.

OF  - 02-10-2013
Foto – Autor desconhecido

(Ocupada em deveres cívicos, tenho estado ausente dos blogues. Em breve, lá estarei...)