Obra de Madalena Lobao-Tello
Ataviava-se dELA com o
esmero de noiva. Fora indiferente a cor do vestido. Importante seria a luz que
dele emanaria. Só ela perceberia o impacto que causaria em cada ser que
cruzasse nas horas que atravessavam o tempo de espera. Um tempo que tentava
rasgar páginas amarelecidas e nevoeiros caprichosos. Um tempo que precisava de exorcizar o espírito do espantalho que fora morar no corpo das pessoas.
Por isso, ataviava-se dELA
como cavaleiro antes de cada batalha, as prometidas, porque assim era o mundo,
mas também as imprevisíveis, porque cada cabeça pensa da verdade da sua
sentença. Ataviava-se dELA como paciente antes da entrada nos espaços da dor
que esganam o choro para não borratar o sorriso. Ataviava-se dELA como pedreiro
a escolher a pedra certa, quando, paciente, faz nascer a casa no alto da
montanha.
Sabia que, só assim,
ataviada dELA, seria capaz de prosseguir caminho. De cabeça levantada e com o
olhar resplandecente dELA, dirigiu-se à mesa dos convivas.
Desataviou-se dELA, por
fim. Ou melhor, deixou que ELA enchesse os copos do brinde, como se fosse uma
poção mágica. Fechou os olhos e todos os desejos, nos segundos das passas de
uva, se vestiram dELA.
Odete Ferreira – 28-12-15
Para todos, de coração, desejo que cada dia de 2016 se atavie
dELA.
(Quase a terminar este 2015, não podia deixar de agradecer as
vossas leituras e carinhosos comentários, que muito me honram e honram este
espaço. Um abraço redondo de ESPERANÇA.)