quinta-feira, 28 de julho de 2011

Poetas de cada dia

No post do dia 26, anunciei uma actividade em que iria estar presente. Dispenso, portanto, uma nova referência. Descrevê-la seria um exercício muito pobre. Certamente que a entidade formadora a ilustrará no seu blogue, do qual deixo o link :

Ora o que eu aqui quero fazer é a homenagem merecida a todos os formandos, não só os que se apresentaram ao desafio lançado http://consultua.blogspot.com/2011/06/concurso-de-poesia-ser-poeta-por-um-dia.html , como a todos os que estiveram presentes neste evento, ouvindo atentamente as intervenientes, num clima de franca simpatia. Por isto e, sobretudo, por aquilo que não escrevo mas sinto, a minha sincera gratidão.
E como não podia deixar de ser, quero surpreendê-los, da forma que me parece mais adequada: uma poesia, inédita, escrita no próprio dia. Não pretendo que gostem, antes que vejam nela a crença que tenho no capital humano com o qual privo directa ou indirectamente...

Poetas de cada dia

Adivinhei-vos em mente
em espaço cultural.
Seres de olhar ardente
dignos de suas vidas
alocadas no seu real
de um quotidiano dormente.

Senti o vosso pulsar
em dia especial, diferente,
seres sentidas pessoas
enroupadas em poesias
que, dentro de si, ouvi cantar.

Bebi na vossa afabilidade,
risos soltos de simplicidade
em palcos iluminados,
conferindo intimidade
a segredos partilhados
em vossas almas recatados.

Imaginei o vosso sol,
o caminho que vos guia,
a contemplação da vossa lua,
a descoberta da terra nua
no espírito esfomeado,
prenhe de ser saciado
por fecunda sabedoria.

Incorporei-vos no meu momento,
colei-vos na minha vida.
Perturbei a vossa quietude,
quis percepcionar deslumbramento,
num tempo que será finitude.

Num tempo que será apenas vosso,
se o fizerdes apetecido
como rezando um pai-nosso,
ou qualquer outra ladainha.

Um dia, se o quiserdes,
o vosso tempo será eterno.
Dentro de vós, em laço terno
brotará uma fonte de poesia!
E sabereis que sois poetas,
Poetas de cada dia!
 
OF 27-07-2011  18:30
(Quando tiver uma foto, será inserida.)

Adenda: em cima, 1.º lugar no concurso; em baixo, uma visão do conjunto de formandos; fotografias enviadas pela responsável da Consultua, via e-mail (30-07). Na mina página mais "literária", na rede social FB, será criado um álbum sobre esta actividade.
https://www.facebook.com/pages/Clube-de-F%C3%A3s-Odete-Ferreira/220754401274321?sk=wall

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Hoje, em especial...

Decorrem as festas na minha cidade. Já havia combinado assistir a um evento. A dado momento, não resisti: retirei o singelo bloco e escrevi...Não quis fazer um poema, apenas o que me ditava o coração. Escrevo-o directo para o blogue. Foi assim...
Hoje em especial
partilho um coração ferido...
Nada o fazia prever,
a vida prega partidas
ou será antes o destino?
Fatal, tal a seta 
do cupido.
Desenfreada,
louca, desgovernada, 
a seta envenenada
feriu de morte sua amada.
Desprotegida
frágil
em lágrimas banhada.
Não é uma donzela, 
tão pouco uma fada,
nem personagem 
de história de carochinha.
Apenas alma penada,
perdida
em floresta tenebrosa
presa em raízes invisíveis...
Ser inocente
crente em amores eternos...
Sedenta de fontes...
De afectos...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Em favor da poesia!

Concurso de Poesia da CONSULTUA - Ensino e Formação Profissional
Cerimónia de divulgação dos poemas vencedores.
Quarta-feira, dia 27, às 14H, no
Auditório do Centro Social e Paroquial S.João Bosco, Mirandela.

Eu estarei lá...Com todo o prazer!!!
(Há uns tempos, fui convidada para presidir ao júri do concurso de poesia, lançado por uma formadora. Agora é chegado o momento de fazer sorrir os/as vencedores/as. Além de uma breve intervenção, um dos prémios será o meu livro Em Suspenso. Uma tarde cultural sob o título "Poesia à Mesa". Parabéns pela iniciativa!)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bem? Mal? Ou talvez?

Não gosto de falar do Bem, nem do Mal. Gosto de dizer “estás a fazer bem, ou estás a fazer mal, ou o seu intermédio. Concentro-me no processo não em conceitos, estes deixo-os para os especialistas. Como não pretendo ser uma “opinion maker” também não me devo permitir opinar sem estar fundamentada.

Contudo, tenho opinião ou poder de reflexão, a partir do qual traduzo os meus actos mais racionais. A parte comezinha da vida…Eis  aqui o lado misterioso do ser humano. A mente. A sua capacidade ou incapacidade (para muita gente, infelizmente), de separar as águas. O dito lado pessoal também tem muito que se lhe diga. Nele reside o essencial: o pensar, o sentir…Essa a identidade, a peculiaridade de cada um de nós. A emoção, a sensibilidade, o ser , o estar, até o ter. O sentido do Bem e do Mal, assim como as dúvidas…
Mesmo a futilidade pode ser alvo de reflexão e torná-la em algo de especial...Talvez!
Escrevi algo de fútil, para muitos…Talvez!
A mim concedeu-me um delicioso momento de descontracção, um prazer que apenas eu senti…Foi um acto solitário. Agora, ao ser lido, poderá ser solidário…

Odete Ferreira 19-07-2011

Foto:  caderno reciclado que me foi oferecido por uma amiga, num altura em que desempenhava um cargo de direcção...Fartei-me de rir!!!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Maio, doce Maio

Foi um dia, treze no calendário
data de significado
escolhida por acaso…
Marcada na vida
de início de ciclos
de nascimento, em aquário
Enamoramentos de menina
de mulher casada.
Decifro sinais
tanto diurnos
como nocturnos
Tanto faz, são soturnos.
Enquadro-me em distâncias
celestiais
Irreais.
Detesto apeadeiros
Sujos de dejectos animais
Embrenho-me no obscuro
silêncio. Procuro-te em salas
ruidosas.
Distingo a tua voz adocicada,
com sabor a marmelada
feita no Outono da vida
em malgas esburacadas
preenchidas
e de papel vegetal revestidas.
Questiono outro papel,
outra função maternal
em outros dias, não a treze…
Maio, quinto mês no calendário
Nostalgia de época
em ecos de memória.
Maria, nome abençoado,
o meu, o da Virgem
quiça o teu…
Versos soltos,
sem grande sentido.
Pego as pontas, com pontos
cosidos com linhas frágeis…
Assim me sinto e escrevo
arremessando pedras pelo caminho
como quando era menina.
Pego no cesto com comida,
Quentinha…
Estugando o passo miudinho
estendia a toalha ao avozinho.
Palpava silêncios de palavras,
sugava olhares de carinho..
Maio, doce Maio, meu hino…

OF 13-05-2011

domingo, 17 de julho de 2011

Reencontro com a sua estrela


            - Ok, ok, não vale a pena contra argumentar…
            Virou-lhe as costas, deixando-o concentrado na conversa animada que iniciara com alguém. Nem sequer sentiu curiosidade em saber quem poderia ser ou que assunto o animava tanto.
Na cozinha finalizou as tarefas que entretanto deixara, para que no dia seguinte o seu almoço fosse decente, em conformidade com as recomendações da sua médica.
            Pensativa,dolorosamente pensativa, acusava uma insatisfação que a assustava.. Sempre fora uma pessoa bem disposta, provavelmente passiva em relação a atitudes que a desgostavam, mas relevava. Afinal a vida era tão curta! Que raio, também a sua!!! E daí o susto. Para que reflectia agora mais do que antes?
Como em breves flashes de máquina fotográfica que fixa um momento, um rosto, uma paisagem, assim os impulsos mentais chegavam tão nítidos! O álbum da sua vida abria-se e não conseguia desviar os olhos.
Não conseguia perceber bem o que a incomodava. Desejou ser cirurgiã para delimitar o local que queria intervencionar, limpando-se de incómodos que a tomavam revelando-se numa tristeza vaga.
Estava uma noite estrelada, apercebeu-se. O seu canapé de eleição, chamava-a. Desta vez, não seria para ler. Ele que não pensasse que iria partilhar com ele as palavras que lia em voz alta. Hoje seria uma leitura para dentro dela. Fechou os olhos. O luar deixava perceber uma mulher de traços finos, uma altivez que só olhos especiais perceberiam. Nunca os procurou…
O ar sarcástico do marido sempre a incomodara. Devolvia-lhe um ar brincalhão, brindava-o com um humor ao qual ele não resistia. E passava ao capítulo seguinte. Capitulava, sabia, mas sentia-se bem. Parecia sair vencedora destes conflitos de personalidades. Chegara a sorrir interiormente com estas vitórias! Ele acharia que teria ganho, pois o seu ar de menino ganhador era por demais evidente.
Seguia-se quase sempre um silêncio. Pesado, mas encoberto com os episódios das séries que seguia religiosamente.
Nesse dia, porém, o céu estrelado atraiu-a. Distraidamente fixou uma estrela.Reviu-se nela. Estrela de um palco que um dia fora o seu sonho. Maquinalmente levantou-se, vestiu o vestido que realçava o seu porte, retocou a leve maquilhagem e saiu.
A peça, onde lhe chegaram a augurar um futuro promissor, estava em reposição. Ia reencontrar-se com a sua estrela. Mesmo mortiça, hoje, no seu olhar, estava brilhante e ofuscava o luar…
Odete Ferreira  - 10-07-2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

As casas com que me visto

Primeiro foram as fotos que ilustram os poemas, todas reais, algumas minhas, a maior parte de um jovem estudante da Escola Profissional de Agricultura, um amador de excelência! Foi um achado, oxalá o meu livro as pudesse conter; contudo ficam no portefólio poético!
Como o sonho comanda a vida, há muito que desejava ter um poema em vídeo. Sei que, não sendo difícil, é preciso tempo para pesquisar imagens e sabedoria para construir um todo harmonioso: palavras, imagens, música... E aqui está o meu primeiro vídeo poema! Foi uma agradável surpresa! Obrigada!
(pausar MixPod)

Trilhos...Em rodagem...

Bem, ontem, num dia em que a natureza adormecia, acalorada e vagarosamente lenta pela preguiça que pressentia nos raros transeuntes que se atreviam a pisá-la, a minha natureza sentia-se bem desperta... Movimentava os dedos finos no teclado, mudava de páginas...Um frenesim compreensível. Passava os últimos textos dos meus alunos para o formato digital (o seu blogue encerrou hoje um ciclo de vida, mas não morrerá...), adicionava a página do projecto "Trilhos" à minha página, digamos, mais literária e , claro, divulgava-a...
Não vou precisar de dizer muito mais. Apenas que me orgulha!
Deixo o link...

Cliquem, gostem e acompanhem...Obrigada :)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ken Robinson: Escolas matam a criatividade?

Não podia deixar de postar...É demasiado importante que todos ouçamos!!!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Breve história ou uma história para sempre

Sentia dores na alma mas era no corpo que se projectavam. Saiu apressadamente do escritório, mal balbuciando um até amanhã aos colegas.
Galgou os quilómetros e refugiou-se no seu quarto. Escureceu-o, queria alhear-se…Contudo as palavras determinadas e ditas apressadamente, pelo telemóvel obsessivamente permaneciam.
Sonhara tanto! Vivera intensamente aqueles meses com a rapariga com a qual se cruzara na livraria perto de casa. Nunca a tinha visto. Bastou um breve olhar quando ambos iam retirar da estante o livro apetecido..Um sorriso divertido e prolongado surgiu espontâneamente, numa fixação de olhares que os olhos não quiseram desviar. O diálogo aconteceu, após troca de gentilezas ocas, monossilábicas…
A solidez relacional enriquecia-se a cada momento vivido. Passou a ser a sua vida. A dela também, assim pensava. Em pouco tempo sabiam tudo um do outro. Não que houvesse vivências assim tão diferentes jovens na casa dos vinte. Vinte e sete ele, vinte e cinco, ela. Amadurecidos, contudo.
Deslumbramento, paixão, amor, sentimentos que pensara nunca vir a sentir em tão curto espaço de tempo. Por vezes, dava por ele, a sentir calafrios, um temor sem razão. Uma ansiedade que o desconcentrava de tarefas que sempre foram a sua prioridade. A carreira, na qual apostara, perdendo saídas com amigos, era de somemos importância agora.
“Miguel, não vou estar mais contigo. Não queiras saber pormenores. Não me procures. Acabou.” Desligou de imediato. Ficou inactivo, por alguns momentos. Reagiu e ligou. Silêncio, a não ser o sinal de chamada. Tentou mais umas vezes.. Desistiu. Ruiu. Saiu mais cedo. Questionava-se mas soube logo que entrara num luto sem saber o porquê…
Hoje seria o primeiro dia de um calvário que teria de aprender a percorrer, com alguma dignidade. Como? Sozinho sentia que não conseguiria…
“ Mãe, ainda demoras a chegar a casa? Preciso de ti, do olhar que me acalmava e fazia dos meus medos, passos seguros”, disse, quase num sopro de voz.
“Estou aqui, filho, não deste pela minha presença…”
Soergueu-se e logo sentiu os braços que se lhe estendiam. Envolveu-se neles. As lágrimas podiam, finalmente, correr por tempo indefinido. 
Odete Ferreira - 29-06-11

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Do cansaço me (des)faço


Não fiz caminhadas pedestres
mas sinto-me tão cansada!
Como se fosse apunhalada
por invisíveis canivetes.

Não falei às flores da Primavera,
abertas em sorrisos de pétalas.
Adensou, em mim, o sorriso mudo,
esganado por forcas de outra era.

Não escutei conversas soltas
que ouvidos apurados
captam entre grandes copas
árvores de grande porte
em jardins acolchoados.

Embebedei-me de caras curiosas,
de líquidos saídos de almas
em crianças sequiosas
que me escutam, silenciosas.

Algum cansaço desapareceu
quase por encanto, meu.
Momentos mágicos
que me levam ao céu
envoltos em colorido véu.

O que resta será descanso
que encontro no meu canto
sentada em secretária de madeira
minha única companhia
em momentos de nostalgia.

Logo virá o encantamento
lendo escritos imberbes
pela caneta já cansada
entre mãos adolescentes…
O cansaço ficará sonolento,
pairando entre um estado indolente
e a actividade do pensamento…

Sirvo-me de licores variados
salivo cada palavra
agarro nos escritos lidos
deles faço a almofada
onde finalmente repouso
e o sono me toma, de madrugada.

OF 02-06-2011 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A palavra, serviçal do nosso querer


Dias já quentes, abafados. A roupa quente, lavada e devidamente arrumada, fica a aguardar nova estação. Renovamo-nos, ventilando a alma, embora esta se sinta sempre ardente, bem aconchegada na parte do corpo que a chama, conforme o momento.
As águas que correm apelam a um refrescamento e o sol é o chamamento para um pele esbranquiçada.  A toalha serve de  cama a sonhos que apetece sonhar, imaginando cenários paradisíacos, onde nos sentimos especiais.
Árvores exóticas transformam-se na companhia que nos serve manjares sensitivos. O mar projecta sombras que nos levam a lugares do Olimpo. O sorriso aluga os lábios como casa de férias. A aventura é o desejo da mente, insegura entre algo real e algo irreal, desconhecido mas apetecido.Cedemos, perdemo-nos nas surpresas que desejamos acontecer…
Entardeceres emotivos e enternecidos, num diálogo mudo. As palavras são serviçais do nosso querer e apagam-se perante o nosso poder de sonhar…

OF 28-06-11