Chamaste-me?
Aqui estou,
remendada
por agulhas
que já
não estarão
num
amanhã fechado
por
gente além Marão.
Foram
remendos, foram consertos,
a linha
que costurava pontes
entre
as montanhas rudes
mas
sapientes – das gentes –
e os
sonhos nas grandes urbes outorgados,
cartas
de alforria a lembrar o senhorio…
Corriam
os tempos à mercê de relógios acertados
e
olhares concertados na precisão dos gestos.
Partida!
Silvo a esvaziar a espera,
ânsia
apesar do enjoo,
o
balanço a embalar o medo,
a rocha
a pesar nos ombros e a linha
–
sempre a linha – a serpentear o rio,
cosendo
a vida, soltando os nós,
emaranhados
entre pedras,
compondo
músicas desafinadas,
ecos a chamar as encostas…
E o voo
acontecia
no cimo
da montanha que não via
abrindo
as casas de botões de sol
que
apertavam os vestidos de rapariga.
(…)
Pouca
terra, pouca terra.
Foi-se
a linha. Foi-se a terra.
Alimenta-se
o lago. Pouco a pouco.
Submersa
fica uma história. Sem aplausos.
OF (Odete Ferreira) – 06-09-16
Foto – Odete Ferreira