quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Linha (do) Tua


Chamaste-me? Aqui estou,
remendada por agulhas
que já não estarão
num amanhã fechado
por gente além Marão.
Foram remendos, foram consertos,
a linha que costurava pontes
entre as montanhas rudes
mas sapientes – das gentes –
e os sonhos nas grandes urbes outorgados,
cartas de alforria a lembrar o senhorio…

Corriam os tempos à mercê de relógios acertados
e olhares concertados na precisão dos gestos.
Partida! Silvo a esvaziar a espera,
ânsia apesar do enjoo,
o balanço a embalar o medo,
a rocha a pesar nos ombros e a linha
– sempre a linha – a serpentear o rio,
cosendo a vida, soltando os nós,
emaranhados entre pedras,
compondo músicas desafinadas,
ecos a chamar as encostas…

E o voo acontecia
no cimo da montanha que não via
abrindo as casas de botões de sol
que apertavam os vestidos de rapariga.
          (…)
Pouca terra, pouca terra.
Foi-se a linha. Foi-se a terra.
Alimenta-se o lago. Pouco a pouco.
Submersa fica uma história. Sem aplausos.

OF (Odete Ferreira) – 06-09-16
Foto – Odete Ferreira 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Hinos

Há um ano, em 17-02-2016 escrevi assim:

Entre quem é

Não Os senti chegar. É sempre assim. Nunca se anunciam. Também nunca Os toquei. Conheço-lhes as manhas, por isso já nem disfarçam uma pretensa capacidade de surpreender. De dez em dez anos, entram na História para poupar palavras e fôlego. Ao Homem, claro. Ao Universo, tanto faz. Pelo menos à ideia que dele tenho, tão relativa quanto ingénua. A minha filosofia, vulgo vida, não passa de um rabisco fácil de redesenhamento numa outra que virá. Por isso, só a mim (e a uns poucos) é que Eles têm sentido. Cada Um é narrativa de muitas narrativas. Com índices longos e vivazes. De dez em dez anos, também Os abrevio por décadas. Automaticamente. Mas, este ano, estou mais reflexiva e não me apetece abrir um novo índice sem lhe criar uma identidade. Até por causa das estatísticas. Como cidadã, tenho o dever de me preocupar. Qualquer dia, ao ouvir que uma sexagenária fez isto ou aquilo, estarei de consciência tranquila. Assumo o meu novo estado. União de facto. Com a década. Doravante, o caminho poderá ser ziguezagueante e convém estarmos unidas. Para o que der e vier.
Estou feliz. Ela também.
“Daqui a dez anos, renovaremos os votos”, dissemos.

E Eles, que nunca se anunciam e são, naturalmente, desapegados, sorriram. Pareceu-me mesmo que piscaram o olho à nova inquilina. Afinal, não havia tempo a perder. 

Odete Ferreira – 16-02-16
http://portate-mal.blogspot.pt/2016/02/entre-quem-e.html#comment-form

Hoje...
Ano Um
De facto, não havia tempo a perder. O que intuía (e a intuição não se explica) não se fez esperar e anunciou-se intenso e avassalador. Tomou-me o tempo e possuíram-me os espaços. Encheu-me a alma e cansou-me o corpo. Desarrumei e arrumei. Sosseguei e alvorotei.
E sorri! Tanto!
Fui dando notícias deste ano um da década dos sessenta. Quem me acompanha nestas partilhas, sabe do frenesim que o atravessou, sobretudo dos frémitos que me emocionaram. E sabe, também, do riso que me atoleima. Este ano um depois da década (em estado de união de facto com ela) foi e é o primeiro do resto da minha vida.
Afinal, não há tempo a perder…

Para o ano, cá estarei para o Ano Dois e depois do primeiro de vida do meu menino.
Agradeço a vossa carinhosa presença. Afinal, são parte dos meus frémitos. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ainda agora era frémito


Obra de Christian Schloe

Ainda agora era frémito
e os contornos das coisas
possuíam-me por inteiro.

Tinha cor o beijo roubado,
de mansinho,
Tinha cheiro o gesto atrevido,
de pertinho.
E o frémito era arrepio.

Eram longos os momentos de presença,
vivazes as sombras de ausência.
No olhar, tudo a ser
a ficar, a de-morar
em mim.
E no banco do jardim,
pela tardinha.

Não fugia o tempo, nem o espaço.
Nem as coisas, nem as gentes.
Nem as encostas, nem as correntes.
Placidamente, acontecia,
entre frémitos de ousadia.

Quando, pela noitinha, dos contornos das coisas,
nada souber dizer,
sei, morreu-me o frémito. De saudade.

OF (Odete Ferreira) – 01-02-17

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

De leitura urgente


Sobre o acesso ao meu blogue, transcrevo a adenda que deixei ontem na postagem "E porque hoje é domingo"

1 - Já tinha percebido que algo não estaria bem. Transcrevo um esclarecimento que o amigo António do blogue "Existe Sempre Um Lugar" deixou no seu comentário a uma das minhas últimas partilhas: Boa tarde, após varias tentativas anteriores não consegui entrar nesta sua pagina, tinha sempre a indicação que a mesma tinha sido removida (...).

2 - . Em síntese, alerto: desde que tive a infeliz ideia de me ligar ao google mais (sugestão do próprio google), a minha foto identificativa inicial, o meu nome do blogue (EU) e o perfil desapareceram, ficando esta que aparece quando comento pelo pc; se alguém quiser comentar clicando na minha foto e nome (que passou a ser Odete Ferreira), vai dar ao google mais*, que é o que me acontece quando eu faço o mesmo; portanto, se eu não quiser percorrer este caminho, comento pela lista de blogues que tenho adicionada no meu blogue e só pelo pc.

3 - Como, ultimamente, uso mais o smartphone, tendo, para tal, adicionado os blogues aos favoritos, aparece apenas Odete Ferreira. Ora, se se clicar em cima do nome, vai parar a um perfil que nada diz e que não tem o link para o blogue. Não percebo porquê. Portanto, se alguém pretender vir ao meu blogue, clicando num comentário que tenha feito pelo smartphone, não o conseguirá.

4 - Solicito, pois,  a todos os que não me tenham encontrado que me visitem através do link que tenham adicionado nos vossos blogues ou seja
http://portate-mal.blogspot.pt/

5- Por último, solicitava aos amigos que têm vindo visitar-me com assiduidade (e se assim o entenderem) que me dissessem como chegam até aqui.

* Já pensei em sair do google mais (até porque nem o sei utilizar) mas como os meus conhecimentos tecnológicos são escassos, receio que me percam de vez!!!

Obrigada pela vossa colaboração