quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

As raízes também morrem


 Na impossibilidade de teres rios
de águas puras, quando da pureza
tiveres que sugar a alvura dos lençóis de linho,
estendidos pelos longos anos da infância,
nos ribeirinhos de estreitas margens de silvas,
inocentes quanto os sonhos de menina,

trata os afluentes lodosos e espessos
mas não culpes as águas que os céus
despejaram na véspera do batismo.

Os rituais pertencem aos homens
e os caminhos de paz determinam-se nas nascentes.

Desapoquenta-te, pois, da foz
e constrói com as palavras dos versos
que te habitam, as represas estanques
dos ciscos que magoam o teu olhar.

Doutro modo, não passarás
de troncos roubados às árvores.
As raízes também morrem,
na espera do paraíso desejado.

Odete Costa Ferreira, 31-01-18

Arte de Josephine Wall
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Entre passos, o olhar atento na descoberta do possível...
Ivo, em casa dos avós, 13 meses - 12-02-18




“Daqui a dez anos, renovarei os votos” – escrevi " Entre quem é", em 16-02-16, (http://portate-mal.blogspot.pt/2016/02/entre-quem-e.html) , aquando da entrada de uma nova década na minha vida. Renovei os votos o ano passado, com redobrado ânimo e felicidade. O meu netinho havia chegado há pouco mais de mês e meio. Este ano, além de renovar os votos com a década, assumo o compromisso de alinhavar, com muita leveza, os meus passos com os seus e com os que me acompanham, fazendo comigo o caminho, caminhando. Estou de parabéns. Pois claro!!!   - 17-02-18


(Amigos e amigas: continuo com muita falta de tempo mas, sempre que puder, irei aos vossos espaços. Grata, sempre, pela vossa presença.)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Digo-me, em prece

  Elevo-te, serena, emborcando
a alma nas palavras que não se escrevem.

Como pespontos, a prece ponteia-se
de cuidados, tirando a medida aos dias.
Sempre gratos. Sempre vivos.
A respirar os versos atados nos olhos.

Basta-me o azul e o verde
para os pintar de cores invisíveis.

E que lindas ficam as minhas telas, dizem.

E eu acredito nos seus olhos.
Que não nas suas palavras.
Só eles penetram a invisibilidade.
Da prece, quase alma.
Murmúrio.
Sopro.
Chama.
De vida.
Da boca, sorriso.

Odete Costa Ferreira, 10-01-18
Arte de Amro Ashry