Nunca, até há uns tempos recentes, o vocábulo
futuro se me afigurou de uma significância tão dúbia, tão desprovida de uma
assertiva definição, tão vaga e cada vez mais uma abstração. Pensar o futuro,
tornou-se um daqueles exercícios matemáticos de difícil resolução, um desafio
que, suponho, os amantes da área devem adorar!
Nã faltam por aí oráculos, disfarçados de
malabaristas, que vão acompanhando a
crescente debilidade humana e a cuja consulta não faltam clientes. Parece ser
dos poucos negócios rentáveis!
Terminou, em termos de aulas, um ano letivo.
Este ano já não exerci (http://portate-mal.blogspot.pt/2013/10/um-novo-ciclo.html ),
pois, entre as novas regras da aposentação e o tormento de saber que já não
conseguiria ser mais a professora de alma leve, levou-me a optar pela
aposentação antecipada, tendo para tal os requisitos necessários, embora logo
penalizada em 25% do vencimento. Compensava, feita a simulação. Contudo, nunca
auferi, nem de perto, o que seria suposto.
Logo aí, o sentido de futuro abriu uma fenda.
E as fendas foram alastrando: o tempo que pensava iria ter para mim, o poder
estar mais presente em eventos culturais, a preparação de um novo livro para
edição (ressalvo a coautoria em Antologias de poesia e prosa), a escrita de um
livro baseado em factos reais… O futuro já não era a rocha onde podia ir beber
o ânimo. Antes uma duna de areia à mercê dos ventos. E os ventos de hoje
destroem, camuflados de brisas. Das tormentas protegemo-nos. A este silêncio
corrosivo, somos impotentes. E já não enfermo só de doenças da alma. O futuro
resolveu tornar-se num presente doloroso. E manifesta-se também neste corpo
debilitado…
Costumo participar em desafios poéticos
temáticos. Este poema talvez complete o quadro da minha desesperança. Por
outro, a esperança que gostaria de não perder…
Odete Ferreira, 14-06-14
Partida(o)
Entumescimento vírico.
Dores palpáveis.
Ansiedade perfurante.
Mente delirante.
Atividade febril.
Alma fotografada de perfil
na mala colada
Partida…
Ficaram os sonhos de estudante,
nas ruas os passos gastos,
as portas envergonhadas
das calças coçadas
no vazio dos dias.
Esgares disfarçados
nas faces coradas.
Maratonas perdíveis.
Partida!
A mochila amarrotada
reveste-se de pele dourada
e, à medida que cruza os céus,
pássaros de asas largas
debicam de cada lugar
sementes germinadas.
Dentro floresce um paraíso…
…Chegada!
Mochila ao ombro,
leve, levezinha.
Concerto na praça.
Sinal de bom augúrio!
Sopra, num murmúrio
- outro mundo…
Abre a mochila.
Não vê mas crê.
Sorrindo estuga o passo.
Desce lenta a noitinha…
OF – 11-06-14
Obra de Francisco Eduardo