Respirei
fundo como liberdade a fazer-se sopro numa brisa tépida, retemperadora,
redentora de preguiças egoístas. Como se culpa fosse a desatenção dos últimos
tempos, o desvio do olhar para outras histórias, o resguardo das vozes que me
correm nas veias. Posterguei a intimidade das palavras minhas, o seu apelo
imediato, a urgência de pousio no branco do papel.
Respiro
fundo. E vou-me reconciliando, como alívio após o cumprimento de promessa. Como
remédio de toma inadiável em distúrbios emocionais. E não são as palavras
doença e cura? Feitiço e exumação do desperdício? Depuração e elevação?.
Cadencio
o sopro, intermedeio o conflito e, pouco a pouco, deixo-me possuir por todos os
instantes de leveza, por todas as cores, por todas as melodias. É cinzento, o
dia, apesar de quase maio. Mas sorrio, sorrio. E nem dou conta das chamadas
perdidas. Dos ruídos comezinhos. Do afeto das coisas cuja maternidade reclamam.
Das conversas que até podia escutar, de tão próximas.
Estou
só e quero-me só. Em momentos destes, inclino-me, levando o corpo para dentro,
como se fora aviso pespegado na porta de um quarto: é favor não incomodar!
Odete
Costa Ferreira, em 29-04-18, Flor de Sal, Mirandela, num momento de respiro entre o tanto que me tem assoberbado, ultimamente.

Em 23 de abril decorreu a fase regional do Concurso Nacional de Leitura, nas Bibliotecas Municipais. Na minha cidade, a obra escolhida para os alunos do secundário foi "Perguntem a Sarah Gross" de João Pinto Coelho. Integrando o júri e decidida a estrutura da prova, uma espécie de tertúlia, foi desafiante ler e analisar a obra e estar neste "conversatório" com duas excelentes alunas, em termos de conhecimento da obra e posicionamento crítico face à trama e às várias mensagens narrativas.
Intimidades II
Missão
cumprida , num projeto ousado, considerando o escasso tempo para o executar. Impossível
mesmo, não fosse a teimosia que supera circunstâncias adversas, emoções à flor
da pele e factos exigentes de horas. Mas ei-lo, apresentado ontem, dia 26 de
maio, integrado no Festival Literário de Bragança.
Riquíssima
de conteúdo e convidativa na forma, a coletânea “Gentes e Lugares - Contos e
Contas de Autores Transmontanos”, edição da Academia de Letras de Trás-os-Montes (ALTM), leva muito da alma dos seus autores,
associados desta agremiação, da qual sou
coautora, com o conto inédito Maria Alcina e na qual estive deveras envolvida,
enquanto corresponsável pela coordenação, correção e revisão de textos, assim
como outros elementos da direção da ALTM, sobretudo a sua presidente.
Foram
de quase clausura, os últimos tempos, mas profícuos em termos de resultados pois,
além deste projeto, outras atividades literárias possibilitaram-me a
reabilitação da palavra junto de públicos que queremos ver a dignificá-la e a
enriquecê-la.
Entre
Intimidades I e II, decorreu, sensivelmente, um mês. Um mês de pouco respiro
pessoal mas de sopros benfazejos... Aquieto-me junto ao meu rio e restauro o olhar
mergulhando-o nas suas águas calmas. Chega-me, nítida, a familiaridade deste
espaço onde, de novo, me respiro e inspiro. Curiosamente, hoje o dia também não
está radioso de sol, mas há música na alma e uma canção a estremecê-la.
Odete
Costa Ferreira, em 27-05-18, 12:45, Flor de Sal, Mirandela
Testemunhos em imagens
Oficina de Escrita
Festival Literário de Bragança - Moderação de uma das mesas de Poesia e Prosa, da responsabilidade da ALTM
Apresentação da coletânea, em 26-05, no Auditório Paulo Quintela
Registo fotográfico detalhado em: