
Corto este divagar: um menino de quatro anos, perguntei um
pouco mais adiante, senta-se à minha mesa, na esplanada quente sobranceira a
vivendas e avizinhada por uma fileira de pinheiros que ladeiam um lar de uma
IPSS. Com naturalidade, cumprimenta-me com um olá. Trocámos aquelas
perguntas/respostas de contato “Sou filho de __, trabalha no __”. “Sabes, vou
apanhar um pássaro”. “Para quê?” “Porque quero um pássaro”. “Mas não será
melhor ouvi-los como o faço agora?”. “Sim, mas quero um pássaro”. A mãe chama-o
e o interlúdio - que prometia - terminou
tão rápido como começara.
Vês, passarinho, como és desejado? Foge, refugia-te, não te
queiras engaiolado!
(Um aparte: a não ser uns gatitos que andam em liberdade
pelo jardim, nunca fui adepta de animais enclausurados.)
Também sou animal, racional, acrescenta-se e viramos feras
se nos sentimos privados da dita, e, mesmo nessa situação, dispomos de uma
fabulosa fortuna: o pensamento que só se deixa agrilhoar quando, por
circunstâncias de alguma espécie de demência, padecemos.
Hoje foste tu, passarinho – entidade metafórica do meu eu,
prenhe de saudade. Em breve, creio, do teu seio nascerá um rebento de
esperança.
Bom dia, manhã menina sonhadora!
Boa tarde, sol quente que me pões doente…
Odete Ferreira --25-03-12
http://www.worldartfriends.com/pt/users/odete-ferreira
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