terça-feira, 20 de setembro de 2016

Se nevoeiro fosse


 Obra de Enrique Monraz

Se de nevoeiro se tratasse,
bastava esperar que o tempo aclarasse…

… mas…

É névoa permanente a mágoa consistente,
lodosa água a turvar a nascente
da limpidez da imaculada morada.

A alma, lugar de todas as imanências,
se maculada, faz pousio na secura do vazio
e os gestos vestem a nudez do desapego.

Não há rio, corrente, sequer fio de prata
que lave a neblina de turvado olhar,
perdido em terras de ninguém…

… Tampouco…

O sol nascente para lá do horizonte,
a lua em quarto crescente prometida
branqueiam o enevoado espaço de dentro.

Se apenas dos dias o nevoeiro fizesse parte,
eram as noites que faziam os (nossos) dias.

OF – 14-09-16

Não costumo pedir nada mas, desta vez, atrevo-me: quem passar por esta partilha e não tenha estado na anterior, gostava muito que  não a ignorassem. Obrigada.

22 comentários:

  1. Um poema a ficar nos olhos, diante da beleza e profundidade
    como um rio na limpidez da alma a colorir e descolorir a
    realidade (que as vezes magoa...), a convidar ao passeio
    do desapego, que a alma tanto pede e um mundo carente
    de almas, querida poeta!...

    Que belo passeio de alma, poesia com alma!
    A imagem escolhida é belíssima e harmoniza
    com o teu poema.
    Bjos, querida Odete!

    ResponderEliminar
  2. Belíssimo poema , Odete . Sempre que venho ao seu espaço fico encantada . Obrigada . Beijos

    ResponderEliminar
  3. Excelente poema. Gostava de ter engenho e arte para comentá-lo como merece.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  4. A mágoa, "lodosa água a turvar a nascente da limpidez". Na "lua em quarto crescente" há uma mulher em cujo rosto se passeia o lado mais claro da noite...
    Um poema profundo e muito inspirador, minha amiga Odete.
    Uma boa semana.
    Beijos.

    ResponderEliminar
  5. Uma meditação de vida esse seu poema para nossa vida! Filosófico!
    Abraço.

    ResponderEliminar
  6. larvar, letra a letra, insinua-se a mágoa no corpo do poema.
    poesia a tua entretecida como renda. em dedos sábios.

    gostei muito. beijo

    ResponderEliminar
  7. Um poema perfeito e sublime!
    Uma elocução de uma beleza singular e brilhante
    sobre os efeitos psicossomáticos de um grande desgosto.
    É, mesmo assim, querida amiga...
    Esta tela de EMonraz traduz em pleno um tempo suspenso...
    Um louvor elevado à tua perícia verbal e ao teu bom gosto.
    Beijinhos, Poeta.
    ~~~~~~~~~~

    ResponderEliminar
  8. Névoa e mágoa, duas palavras que tão bem traduzem a tristeza dos dias e das noites, mergulhados num mar de oportunidades perdidas.

    Um poema rico, com uma cadência sublime. Adorei, Cara Odete.

    Beijinhos

    Olinda

    ResponderEliminar
  9. Fiquei fascinada com a tela de Enrique Monraz e ao ler o seu profundo poema percebi esta sua escolha.
    O seu poema, que li e senti, torvou-me o olhar, talvez porque também não vislumbro um dia límpido.

    Odete, envio-lhe um beijinho comovido

    ResponderEliminar
  10. Estou como a minha amiga Elvira, gostava de ter engenho e arte para poder comentar convenientemente este belo poema como ele merecia, mas posso dizer que gostei bastante de o ler.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Só mais uma coisa, é fantástica e espectacular a obra do Enrique Monraz.

      Eliminar
  11. Um dos mais belos poemas que já li.
    Os trocadilhos e as metáforas parecem fazer saltar as palavras da própria poesia. Nevoeiro e cristalino a antítese que nos leva ao âmago de nós mesmos.
    Moradas que por mais cristalinas que sejam, não estão isentas do lodaçal banhado de mágoas, por mais puros que sejam os os voos da alma...
    Fabuloso, Odete,
    Abraço!

    ResponderEliminar
  12. Gostei muito deste poema ... A Odete cada vez escreve melhor , se isso é possível! ... Lindo mesmo!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  13. Esperança, sempre a esperança da luz, a claridade!
    E nem a noite haveria!

    ResponderEliminar
  14. É névoa permanente a mágoa consistente,
    lodosa água a turvar a nascente
    da limpidez da imaculada morada.

    ResponderEliminar
  15. Li o post abaixo e já nem sei comentar este teu excelente poema.
    Porque um neto é o mais belo poema de amor...
    Odete, tem um bom resto de semana.
    Beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Jaime: este poema é apenas uma criação poética.
      A verdade é que estou em estado de graça, mas, este estado, não impede de escrever sobre um sentir que, em qualquer momento, se pode apropriar de qualquer um de nós. Bjinho (em breve atualizarei a leitura no teu espaço)

      Eliminar

  16. Pois é, Odete, tantos avanços tecnológicos e um retrocesso nos relacionamentos! Não digo que não há amor ou relacionamentos saudáveis entre as pessoas, mas com todos esses avanços nota-se um número crescente de ataques e rancores gratuitos, cada um diz o que quer a quem achar. Nem todos foram feitos para amar, e isso é triste de se ver. E as mágoas são inevitáveis, dores, doenças aparecem para completar o quadro de desolação.
    Belo, atualíssimo poema.
    Um beijo, amiga.

    *Ótima obra de arte!

    ResponderEliminar
  17. Nevoeiro é (sempre) uma cortina que faz esbater o espaço. Nem sempre adivinhamos o que ele esconde, mesmo que conheçamos os horizontes.
    Poema muito belo.
    Parabéns, Amiga.


    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar
  18. Acróstico

    Ah! poeta, filha de Portugal
    O teu cantar é tão nobre, ou quase
    Dou-te, com méritos, o meu aval
    Em todo teu canto, em cada frase.

    Tens um dom lírico sem igual
    E respeitas o bom uso da crase
    Faz do teu poema obra genial
    Eu gostaria de ter essa fase.

    Revelas este teu grande talento
    Rindo ou chorando em cada verso
    Escuto sentindo, tanto lamento.

    Irás conquistar o nosso universo
    Rápido implacável como um vento
    Ainda que dalgum modo transverso.
    .

    ResponderEliminar

  19. O nevoeiro é um véu,
    Feito mistério sombrio.
    Ele aparenta vazio
    Mesmo que fosse um Céu.



    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar
  20. Ah! Nesta noite de festa,
    Sobram sonhos,fantasias...
    O Menino Deus nos empresta
    Encanto e alegrias.


    Feliz Natal
    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar