quarta-feira, 25 de abril de 2018

Um dia, foi o dia!


Perdi a conta às escaleiras
que na espera subi e desci.
Adiei o sonho na voragem
das coisas que fazem os dias.
Ignorei o arrepio dos apelos urgentes
das gentes que me são pertença.
Esqueci o frémito dos voos rasantes
entre-os-montes deste granítico reino.
Permiti que as cordas das guitarras
ficassem ressequidas e emudecidas.
Deixei que a voz enrouquecesse
à míngua de frutos frescos e sangue novo.
Escrevi versos de musa
A usurpadores de palavras limpas.

Mas todos os dias me vestia de novo,
trazendo um recital de poesia ao meu povo.
E folhas brancas com palavras desalinhadas.
Nos passos, a leveza de um cântico prometido
e uma nota que não identificava na escala.

Um dia, não precisei de um vestido novo,
tampouco de identificar as notas na escala,
pois novo era então o dia.
E a música que no meu peito ardia!

Odete Costa Ferreira, outubro de 2017
Direitos Reservados
Foto: Mirandela

(Porque é abril em Portugal e porque houve outro abril na minha cidade, com a mudança do poder nas últimas autárquicas, só podia escolher esta data para partilhar este poema.)

14 comentários:

  1. Tão belo, Odete, este teu poema à liberdade que temos e que sempre desejámos. As nossas mãos se dão com um fascínio, rente à coragem e à luz transfigurada dessa manhã de Abril.
    Um beijo.

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  2. E escolheu muito bem Odete. É um hino à Liberdade.
    Um abraço e bom feriado.

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  3. Cravo mais um cravo vermelho neste chão
    Bj

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  4. Querida Odete

    Um poema que nos traz esse frémito que só a Liberdade transporta. A esperança e o empenho fazem milagres. Assim se viu nesse dia de 74 e nessa outra data que evoca de forma tão apaixonada.

    Beijinhos

    Olinda

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  5. Belíssimo, o espírito de Abril... em duas vertentes renovadoras, que nos ofereceu, neste seu inspirado trabalho, Odete!...
    Adorei ler... e sentir a emoção das suas palavras, ao assinalar esta data tão especial...
    Beijinho! Continuação de uma óptima semana!...
    Ana

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  6. o Poder Local Democrático é uma das principais conquistas de Abril

    e o teu belo poema uma empenhada manifestação desses valores.

    gostei muito, Odete

    beijo

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  7. Acreditar, sentir que se pode fazer algo de novo. Isso é o fermento da vida!
    Abril, sempre!

    Abraço :)

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  8. Querida Odete,

    Poema belíssimo a explodir um caminho na sinalização da
    alma e dignidade da Poeta, na condução da construção dos
    sonhos (projetos), em que o dia no marco, a cristalizar
    a mudança no grito da música conquistada na relva da democracia:
    "Um dia, não precisei de um vestido novo,
    tampouco de identificar as notas na escala,
    pois novo era então o dia.
    E a música que no meu peito ardia!"
    Um final de semana feliz na comemoração dos dias das mães aí...
    Bjos.

    Ps: Amiga, respondendo a tua pergunta, te digo aqui tá a faltar
    o ar democrático e o somatório da pátria saqueada e dificil
    de visualizar um horizonte, precisa muito esforço para se manter
    com esperança para um futuro. Grata pelo o teu sentir solidário
    para comigo e o meu País.

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  9. Dias Felizes, mãe e avó. Mãe duas vezes.

    Bj

    Olinda

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  10. Boa tarde, Abril foi e será sempre marcante para os portugueses, lamento o desconhecimento das novas gerações, porque motivo Abril foi e é marcante, a culpa não é deles, é dos todos nós que não soubemos passar para eles, a importância de viver em liberdade.
    Continuação de boa semana,
    AG

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  11. Belíssimo, veio do fundo da alma, carregadinho de belos sentimentos!
    Beijo, Odete, um domingo feliz!

    "Um dia, não precisei de um vestido novo,
    tampouco de identificar as notas na escala,
    pois novo era então o dia.
    E a música que no meu peito ardia!"

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  12. Não vinha aqui há um tempinho
    entre_tanto espaço errando
    pelas charnecas dei conta
    - um tapete fez-se a meusa pés
    E as flores e as folhas
    e as nêsperas
    que me lembram a fonética breve de Inês
    a cada ano, já doces...

    Sobre_tudo "portate mal" e canta, canta
    canta o canto que não esquece o tempo
    que era mas tem de ser de hoje
    E de sempre!

    Bj.

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  13. Amiga,

    Faz tanto tempo que tu não partilha (publica) aqui,
    saudade de te ler, viu?!
    Deixo o meu carinho nos votos de muitas felicidades
    e muitos sorrisos nesta tua linda alma e acompanhada
    do sorriso radiante do teu netinho...rss
    Beijo com abraço saudoso!

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  14. Boa tarde, Odete.
    Como vai?
    Saudades de você!
    Espero que estejas bem.
    Um poema belíssimo, de continuidade dos dias, da atemporalidade, tudo novo se faz sem mesquinharias.
    Somos a grata surpresa ou não das muitas mudanças, em todos os dias.
    Fique com Deus.
    Parabéns.
    Beijos na alma.

    Divas da Poesia
    Redescobrindo a Alma
    Recanto das Letras

    Tenha uma excelente semana de paz.

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