Nunca
te escrevi,
mas
recordo…
Sentada
na soleira da porta,
em
dias de estio, sufocantes
dando
pontos na roupa
–
que bem ficava –
unindo
pontos de sonhos
que
sonhavas
no
silêncio dessas tardes.
Chegava
da escola,
cheirava
a requeijão.
Comias,
deliciada.
Meu
irmão acompanhava
mas
eu detestava.
Nunca
te escrevi,
mas
recordo…
Encurvada
no chão que esfregavas,
limpo
de nódoas, cheirando a rosas.
Acocorada
no lavadouro
improvisado.
Pedras
irregulares de um rio juncado
salteado
de águas estagnadas,
insalubre.
Mosquitada
que
sacudias das faces cansadas.
Roupa
alva que eu espalhava
pelos
jogos de formas ovaladas.
Em
fantasia era personagem heroína.
Ali,
era já mulher menina.
Nunca
te escrevi,
mas
recordo…
a
mulher de força anímica,
na
arena da vida lutadora,
a
mãe de coração aberto
que
cedia, a meu pedido,
a
malga de caldo à amiga
da
escola. Na sacola pão,
queijo
e azeitonas. O caldo
aquecia-lhe
o magro coração.
Nunca
te escrevi,
mas
recordo…
A
funcionária zelosa,
a
vizinha prestimosa,
o
olhar expressivo,
o
cabelo em carrapito,
a
roupa sedutora
a
atitude generosa,
o
sorriso acolhedor
num
sentir sofredor.
Hoje
escrevo
o
que és, mãe!
A
casa do teu ser,
o
sol de cada amanhecer,
o
legado de um passado,
o
presente, em mim, incrustado…
OF - Foto Odete Ferreira
Poema incluído na Coletânea Mãe 2013
Como não haveria ela de reagir?:)
ResponderEliminarLINDO!
bji, querida
Ficou sem jeito, com uma lágrima no canto do olho, Nina. Foi uma surpresa quando lhe ofereci o livro...
EliminarBjo, princesa :)
Emocionei-me por demais Odete! Aqui será nesse próximo domingo e as saudades...aff apertam mais. Espero que tenhas tido um domingo de mais felicidade junto aos seus.
ResponderEliminarBeijuuss
Sei como te tocam os momentos relacionados com a mãe. Dá para perceber muito bem, quando te leio.
Eliminar(Foi um bom dia, sim! )
Bjuss, querida RÊ :)
E vamos perpetuando o papel e o legado dessas nossas heroínas tão próximas, tão íntimas.
ResponderEliminarBela e comovente homenagem, poesia sensível que consegue retratar a memória afetiva.
Beijo (Odete?)!
;)
Obg pela que deixas, Canto da Boca. Somos sempre um legado de tantas coisas. E a memória a sua materialização...
EliminarBjo, amiga :)
Lindo e emocionante...
ResponderEliminar"O presente, em mim, incrustado..."
Como te compreendo,esse sentir,assim...
Beijos,querida Odete!
Sei que tens na tua mãe o teu guia emocional e afetivo, querida Suzete. Compreendemo-nos...
EliminarBjos , amiga :)
A poesia insinuou-se no ribeiro, na alvura da roupa, nos pontos cautelosos, nos lanches saborosos
ResponderEliminarno olhar
na atitude.
A ternura saltou de ti para a tua mãe e da tua mãe para ti. A ternura que se vai escrevendo todos os dias.
Adorei esta nuance poética, este filme que mãe e filha guardam docemente no coração.
Sabes como me emociono quando o coração escreve desta maneira.
Bjuzz, querida amiga Odete.
Vou-me repetir. Também sei do teu intimismo com a herança matriarcal, seja a mãe, seja a avó. Gravamos os toques, os cheiros, os horizontes que víamos ou adivinhávamos no olhar...
EliminarObg, querida Teresa.
Bjzz :)