segunda-feira, 20 de maio de 2013

Processando dados...



Já não é só o tempo, o tempo de espera, o tempo de reflexão que é bom conselheiro. Esta linha, digamos, temporal, apenas acrescenta dados, circunstâncias que se vão encaixando como peças de lego, parecendo que o  conselho se materializa, tornando-o clarividente. É o conselho que se personifica e nos fala. Normal, portanto, ser tão comum dizermos que o tempo é bom conselheiro.
Hoje, especialmente hoje, em que a reflexão, o questionamento me tomou, priorizo outro axioma: o da idade; esta que decorre naturalmente do tempo que passa, desenvolve-se na interioridade de cada um de forma diferenciada. A dita maturidade é processo que se amassou, levedou e cozeu no forno mental sendo que, cada fornada que se exterioriza, é sempre diferente. Só podia, pois a representação da nossa pessoa a nossos olhos e no julgamento dos outros vai mudando. Processo mutável, dinâmico, rico, na medida em que acumulamos a riqueza do conhecimento. Perigoso também, na medida em que a exigência é um condimento que nem todos veem de bom grado. Apesar de já não gostar de estar em manifestações exteriores de massas, a massa cinzenta é muito mais cáustica, acutilante, emocional, logo mais mortal. As palavras deixaram de ter medo de ser pronunciadas, seja qual for o espaço, o tempo, o interlocutor. Mesmo que no palco apenas seja a única personagem!
Faz-me falta falar, comunicar. Verbalizar. No entanto, cada vez mais, aprecio os meus diálogos. Os que travo com pessoas interessantes, os que invento com pessoas ausentes, os que (dis)correm dentro  de mim como rio sem mar onde desaguar…

Odete Ferreira, 19-05-13 Foto – Autor desconhecido

8 comentários:

  1. Gosto do teu discorrer escorreito e clarividente.
    "As palavras deixaram de ter medo de ser pronunciadas, seja qual for o espaço, o tempo, o interlocutor. Mesmo que no palco apenas seja a única personagem!"
    Um processamento de dados notável!
    Bjuzz, querida amiga.

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    1. Sabes que gosto de "me pensar". De vez em quando, escrevinho sobre esta temática...

      Bjuzz, querida amiga :)

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  2. Não há caminhos únicos, assim não há verdades singulares.
    O entendimento (nossa eterna procura) nunca surge de forma organizada, clarividente, inequívoca.
    Talvez por isso apenas o tempo o possa definir, sem prejuízo da subjectividade que sempre influencia essa percepção.
    A mim ensinou-me que nada é certo, nem o incerto.
    As palavras (o verso) é seguramente (para mim, para ti) uma das formas mais interessantes da compreensão.

    Gostei muito deste texto e das suas densas inerências

    Bjo.

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    1. É um facto, amigo Filipe. O "entendimento" será sempre um desígnio humano. Contudo, a perceção do entendimento de nós faz parte de um processo da consciência de "dados" exteriores a nós e de dados que se "processam" no interior de cada um. Também é verdade que o hoje será no amanhã uma realidade diferente.

      Obg pela partilha de ideias e por teres apreciado a "densidade"...:)

      Bjo

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    1. Obg, amigo Fernando, pela gentil apreciação.

      Bjo :)

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  4. Este teu belo Rio-Vida espelha a profundidade e a singularidade reconhecida,

    deixando marcas deste brilho em tuas palavras,sentires e poesia sempre...

    Belíssimo,amiga!!

    Beijo.

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    1. Querida Suzete: sempre um prazer ler o que me deixas; acrescentas o teu sentir, avolumando "sentires" com que os amantes das palavras gostariam de basear um outro mundo...

      Grata, amigo!

      BJO de alma :)

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