Partiste
há muito. Podia perfeitamente precisar no friso cronológico do tempo. Mas não
quero. Não é o tempo decorrido que me leva a iniciar o memorial granítico de
memórias do teu e meu tempo. Era preciso um começo. Terminará quando a memória
se ausentar de mim. É ela a culpada dos sentimentos. É ainda ela que me leva a
sorrir-te, a contemplar o teu rosto, a ver-te andar, a ver-te chegar e partir,
a reparar na habilidade manual da tua arte-trabalho, a afagar a roupa que
usavas, a sentir o prazer do gesto de cuidar dos teus pés mergulhados na água
quente em noites frias…
E
tudo se mistura. A filha criança, menina, jovem, mulher, mãe. Ainda tiveste
tempo para sentires a ternura de teres um neto nos teus braços e de passarmos
um natal sem ausências físicas.
Acontece
precoce, a partida na tua família. Foi a avó Cândida, o avô Alcino, a tia
Virgínia, a tia Margarida – ainda presente na sua ausência mental – e, sabes,
recentemente, o tio Zé. Por isso é que o tempo dos meus continua a estar no meu
sentir tempo. Como se fora património edificado. E cuido dele porque, nos seus
traços, estão os teus e vossos traços, carateres esculpidos nas pedras lascadas
que herdei.
A
voz erguida quando precisa.
O
ato solidário do dia a dia.
A
honestidade como guia…
Vês,
pai, foi tão fácil iniciar a construção deste Memorial! Até breve…
(Deus
te abençoe, minha filha – ainda consegui ouvir antes de pousar a caneta.)
OF
(Odete Ferreira) – 19-03-2014
Adenda em 26 -03-14
Amig@s: tenho estado bastante ocupada, daí não vos ter visitado nos vossos blogues, ultimamente. Em breve retomarei as visitas....
Olá! Quantos valores no seio familiar que deixamos pelo medo de não enxergar! Lindo texto, de fazer acordar! abraços
ResponderEliminarPresumo que essa memória certamente nunca se ausentará, trazendo sempre essas recordações de tanta saudade, envolvida em turbilhão de sentimentos misturados de passado e presente.
ResponderEliminarGostei muito dessa alusão ao tempo dos que por nós passam, como "património edificado". E no fim, quase me veio uma lagriminha....:-) Eu que sou orfã de pai vivo.
Um belíssimo e terno memorial este, de uma filha que nunca "perderá" o pai.
Obrigada, Odete. Gostei muito.
xx
Sentida e bonita homenagem.
ResponderEliminarum gde bji
Certas memórias - as cruciais - querem-se cuidadas, irrigadas de ternura, legado para as próximas gerações...
ResponderEliminarUm belo texto, tecido em profundo sentir!
Beijo :)
Excelente texto....
ResponderEliminarCumprimentos
OI ODETE!
ResponderEliminarPARA QUEM JÁ VIU SEU PAI PARTIR NESTE TREM SEM VOLTA DA VIDA, LER TEU TEXTO É ENCHER O CORAÇÃO DE CARINHO, MAS, A LÁGRIMA QUE VEIO, FOI DE AMOR E DE MUITA SAUDADES.
LINDO DEMAIS.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Uma presença (teu pai) contigo,na memória inscrita do amor, admiração e
ResponderEliminarproteção... Na beleza da tua escrita que evoca o sentir,o mais sublime,
aquela emoção cristalizada na lágrima. Deixo o teu espaço com as minhas
lágrimas...
Muito belo,tocante e sublime,querida Odete!
Beijinho e um abraço de paz que envolva a tua alma...
Do verso que parte o verso fissurado
ResponderEliminar"Partiste há muito. Podia perfeitamente precisar no friso cronológico do tempo. Mas não quero. Não é o tempo decorrido que me leva a iniciar o memorial granítico de memórias do teu e meu tempo. Era preciso um começo. Terminará quando a memória se ausentar de mim."
Todos os recomeços são solitários
Mas a memória nunca está só
Bjo amigo
Este teu memorial é de uma beleza ímpar, não só pela homenagem que prestas publicamente ao teu pai, mas também pela riqueza linguística que a tua narrativa contém.
ResponderEliminarOdete, tem uma boa semana.
Beijo.
Em cada pousar de caneta, em cada gesto, em cada respiração.
ResponderEliminarLindíssimo, comovente. Deixa um aperto no peito.
Beijo,
ASA
Aquela frase, entre parêntesis, tocou-me demais! A memória, que mantém vivos os sentimentos, mistura tudo e edifica um tempo, um tempo que, na tua palavra, nos embacia o olhar.
ResponderEliminarJá conhecia o texto, mas reli-o com prazer.
Beijinho, querida amiga Odete.
O tempo não importa pra aquele que perde.. se foi há 1 ou 10 anos pouco muda já que a dor não é divida pelos anos... talvez acumulada. Bela homenagem! Que bom que o que resta- as memórias- nos confortam de algum modo.
ResponderEliminarbeijos!
Que a memória não se ausente, ainda que nos faça chorar. Abraço.
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