sábado, 7 de junho de 2014

Coreografias


Há instantes que fugiram,
momentos vestidos em vertigem,
atordoamentos atormentados.
Há saudades que faltaram,
circunstâncias que escaparam,
escorregadias entre dedos
que afagaram os teus medos
(sim, os que ainda
estão colados no teu ser
apesar de liberta a tua alma).

Não os sonhas
(também adormecem).
Então inventas em ti
um mundo feito à medida
de outros mundos incompreendida.

Bailas as valsas compassadas,
os tangos em corpos colados,
desacertados dos passos
de sentires interditos.

Longe, cada vez mais longe,
imagens desfocadas
trazem-me teu corpo
desidratado de amor.
Cubro-te de perfumado suor
e coreografamos os instantes que fugiram.

 OF  -  22-12-13
 Pintura de Henri Matisse

34 comentários:

  1. Por vezes a invenção de um mundo à medida, é a única maneira de sobreviver...

    Visitei o Museu Matisse em Nice, onde numa das salas estava um grupo de crianças a pintar : assim se educa o gosto e se faz nascer a paixão pela Cultura.

    Minha amiga, bom domingo :)

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    1. É o "dom" das almas inconformadas, amiga São :)
      Vou tentar partilhar algo que vem a propósito, tentando sintetizar: na altura da Expo 98 (só pude ir 3 vezes), havia um espaço com uma pauta de música desenhada no chão. Vi uma jovem estrangeira, fazendo uma espécie de dança sobre as notas. Percebi que sabia de música (eu nada sei porque na minha cidade, não havia quem ensinasse nada). Fiquei a matutar, lamentando a falta do "ensino cultural" nas escolas (agora, logo no 1.º ciclo há ofertas de atividades extra-curriculares, ainda não é o ideal, mas tem-se avançado bastante e agora quase todos os espaços de cultura já desenvolvem atividades educativas, já perceberam que os espaços têm de estar abertos para a tal criação do gosto pela cultura e, assim, criar público para assistir). Voltando à questão da tal pauta não é que leio,passado um tempo, um artigo no jornal "Publico" a propósito da falta de educação para a arte? O que relevo dele: nos países em que essa prática existia, as pessoas podiam ser carenciadas economicamente, mas tinham os instrumentos para "tocar" qualquer coisa quando a oportunidade ocorresse... Por cá, corta-se logo na cultura. Se nunca sairmos desta crise estrutural, seremos sempre uns amputados na nossa formação global... E continuaria, mas já escrevi tanto sobre esta coisas e afins... Pobre sistema educativo, o nosso, apesar de já não estar no patamar do apenas saber ler e contar...:(
      Bjo, São :)

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    2. Já tinha o comentário todo escrito quando se escafedeu :(

      Também não sei nada de música, embora goste muito.

      A Educação - em sentido lato e abarcando a Cultura - é algo que não interessa a nenhum Poder, pois sabem perfeitamente que uma pessoa educada não se deixa manipular facilmente nem deixa de reivindicar os seus direitos, porque cumpre os seus deveres.

      Nem sei quantas reformas já sofreu o nosso sistema educativo e , graças a Deus, já estou aposentada.

      Não estamos nesse patamar só de ler e contar, mas acho que não querem que subamos muito além dele.

      A Cultura nunca teve grande importância e mesmo essa está a diminuir a olhos vistos.

      Além disso, a programação televisiva actual é mil pior do que a da ditadura!!

      Beijinhos e bons sonhos, amiga :)

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  2. Uma belíssima coreografia.
    Num excelente poema, como sempre.
    Um bom domingo e uma boa semana.
    Beijo, querida amiga Odete.

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    1. Há dias assim, amigo Nilson...Em criança queria ser bailarina :) :) mas o poema nada tem a ver com esse sonho...
      Meu beijo :)

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  3. Um bailado pleno de sentir. O desejo embalado por uma coreografia sensual.
    bj

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    1. A mulher é assim, amigo Armando..Quando não se podem recuperar momentos, inventamo-los :)
      Bjo :)

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  4. Olá minha querida ,amiga
    que bela e bem construída coreografia que você fez com as palavras.
    Mostra-nos através dos movimentos sensuais que a beleza dos poemas se completam com a música e a dança. Arte interligadas. Muito lindo. Tenha um belo domingo.

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    1. É mesmo, querida Marli. Gosto muito de dançar e aprecio imensos géneros musicais. Adoro teatro (já levei alunos a um festival de teatro -Le Printemps Thêatral- em França, há um bom par de anos, tudo feito por mim- adaptação de peças (uma em português, outra em francês), conceção de cenários, ensaios, etc.. Se fosse deste tempo, acho que teria feito a minha formação superior, em algo ligado à arte :) :)
      Agora só me restam as palavras :)
      Bjo

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  5. Olá, como vc esta?Vc como sempre arrasando nos poemas e agora conseguiu fazer uma belíssima coreografia...Lindo!!

    Bjss e obrigada por sempre esta em meu blog.

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    1. Querida Célia: já fui ao seu blogue. Fiquei encantada com o mimo. Veio no momento certo, engraçado (tenho mesmo que acreditar que nada vem por acaso!), pois tenho andado bem apoquentada, há mais de semana e meia, com problemas que o médico diagnosticou de cólicas intestinais. Não estou pior mas acho que ainda tenho por uns tempos.
      Grata pelo gesto, Célia...Quanto às visitas, tenho por princípio, se me coloco de seguidora, de as seguir com assiduidade; quando não tenho tempo, pode acontecer juntar mais do que uma postagem e comentar, excetuando @s amig@s que fazem postagens quase diárias, pois torna-se difícil comentar todas. Eu própria espacei as postagens, pois o tempo é escasso para todos nós...
      Bjos, amiga :)

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  6. Triste de quem não consegue inventar um mundo dentro de si, de reinventar a realidade, que por vezes tanto nos foge, ou outras tantas vezes é ingrata. Porque de tão diferentes que somos, cada um tem mesmo é de criar um mundo de acordo com a sua própria singularidade.
    Gostei das duas coreografias; a que ilustra o teu poema, e a tua coreografia metafórica feita de valsas e tangos, e de perfumado suor. Um poema feito com os "tempos" certos e as palavras certas.
    Gostei muito, Odete.

    Como sabes estou temporariamente retirada, mas roubei hoje um belo bocado da tarde para visitar os amigos....:-)
    Boa semana!
    xx

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    1. Apesar de "retirada" arranjas sempre um tempo para nos visitar, facto que, sei, nos alegra imenso. Já lá voltei e irei mais vezes, desejando que possas regressar o mais breve possível.
      O poema, bem...é mesmo isso, querida Laura. É sempre tempo para "nos coreografarmos"...
      Meu beijo :)

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  7. Um pas de deux dum bailado sofrido com uma sequência de movimentos paravilhosamente transcrita.
    Beijos. D

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    1. Olha, querida D, agora doente nem com a melhor música "coreografava" nada... O poema...Até instantes dançantes da vida, deixamos escapar e, depois, não há retorno possível. Salvem-se os versos!
      Bjinho :)

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  8. Os instantes que fugiram, a saudade que faltou, as distantes e desfocadas imagens, você foi capaz de coreografar, reinventando-se com lembranças. Há melancolia nessa dança, mas não tira dela a beleza. Uma pintura rica ilustrou outra, os seus versos. Bjs.

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    1. Obg, Marilene pela sua presença e perspicácia...Dato sempre os meus escritos e, por vezes, registo algo a respeito se foi o caso. Neste, sei que houve um sonho; muito provavelmente ficaram algumas imagens...:)
      Bjo, querida :)

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  9. muito bonito esse texto, alias seu blog no geral. gostei bastante
    bjs
    Flavia
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    1. Olá Flávia; logo que possa darei um saltinho...
      Bjo :)

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  10. Oi, Odete!
    As lembranças são como um bailado que precisa do outro lado para se alinhar inteira, do contrario flutua sem esmo e, lá no fundo está uma música a tocar...
    Beijus,

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    1. D´accord, Luma, havia um outro lado, sem dúvida e a música devia ser maviosa!

      Bjuzz :)

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  11. Lembranças sáo eternas, beijo Lisette.

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    1. Ainda bem que as temos, Lisette!
      São a nossa identidade...
      Grata pela presnça.
      Bjo :)

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  12. No palco da vida, a nossa dança tem ritmo próprio...

    As vezes, o tempo num espaço de instantes nos fogem

    o prazer (adormecido) vestido de sonhos...

    Mas basta um sopro (da alma) que a dança

    (re)começa,sempre...

    Bela sempre a tua poesia,numa dança de encantamento,amiga querida!

    Beijinhos.

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    1. Querida Suzete: quantas vezes nos faltou o palco ou, propositadamente, o ignoramos por acomodação... Assim, haverá sempre em nós a capacidade de o desenharmos mentalmente e nele fazermos o que não fomos capazes de fazer!
      Bjo, amiga :)

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  13. E na tela continua colorir os sonhos de lindas coreografias! abração

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    1. Certo, Ives, que grandes malabaristas somos! :)
      Beijão :)

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  14. Odete , você dança com as palavras . São valsas e tangos de metáforas deslumbrantes . Muito bom ! Obrigada por partilhar e pela visita ao meu espaço . Final de semana de paz e alegria . Beijos

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    1. Marisa querida: sabe que até sozinha dançava? E aqueles campeonatos de dança no gelo! Não perdia um!
      Bonito isso que disse: dançar com as palavras; na verdade é com elas e as melodias que nos ondulamos...
      Obg, amiga. Um bom FDS também para você!
      Bjo :)

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  15. OI ODETE!
    DANÇAS E COREOGRAFAS COM AS PALAVRAS, LINDAMENTE.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  16. Obg, querida Zilani. Um poema que foi "dançado" com saudade mas também leveza. Talvez um ballet de palavras, mas o ballet fica a ganhar ao poema!
    Bjo :)

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  17. Olá EU, quando tudo parece perdido, conseguimos trazer de volta os instantes que ficaram para trás e reinventar a dança do amor.
    Gostei muito.
    Beijo!

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    1. Amiga Shirley: poeticamente tudo é possível. Valha-nos isso!
      Obg pela presença e gentil comentário.
      Bjo :)

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  18. Levas-nos a entrar na coreografia, como se a vida se teatralizasse! O enredo que levaste ao palco é fascinante! É algo que nos perpassa, que escorre entre os dedos... Ah! e essa saudade que remata e perfuma os instantes que fugiram!
    Gosto de todos os vestígios que, aqui, eclodiram!
    Bjuzz :)

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