Chega-me
o cansaço do vazio espaço.
Por
algum tempo, o olhar ficará inquieto,
vagabundo
do pátio, sem o abrigo da casa-jardim.
É a
nostalgia dos gestos matinais
e do
bom dia que o café não exalará,
no
alpendre dos pensamentos veraneantes.
Suspira-me
a alma, numa confidência muda,
a
amarelecer as hastes do tempo verde.
Bem sei
que é sinal da mudança da hora,
do
fechamento do sol à intrepidez dos dias,
do
recolhimento das horas largas de sol.
Por
algum tempo, nada saberei do amor
jurado
nos braços nus das esplanadas.
É o
mistério a pulsar o passo que traço
e
repasso em nova geometria,
inversa
à nitidez das coisas,
um quase
lusco-fusco da claridade.
É
preciso ir para lá do jardim, passar o muro,
rebaixar
a altura para apanhar o colorido
que se
oferece numa profusão de tintos
que não
sei manejar; sei, apenas, retirar a essência,
o pó
que realçará as tuas maçãs do rosto, mãe.
Por
algum tempo, será outono. Mas, em ti, não.
Odete
Costa Ferreira, 27-09-17
Obra de
Olga Blinder
Que dizer deste belo poema? Quem dera saber comentá-lo como merece.
ResponderEliminarUm abraço
Lindo!
ResponderEliminarAlgumas vezes sentimos necessidade de um pouco de desbotamento, para que o colorido encontre novas nuanças e se re-instale outra vez a festa das cores, dos sentidos!
Obrigada pela visita e pela delicadeza do comentário.
Beijo!
"Por algum tempo, o olhar ficará inquieto"... Inquieta fiquei eu ao ler-te porque este poema que fala do Outono é também um poema de sobressalto a roçar a emoção, o uso íntimo de uma Natureza que se transforma...
ResponderEliminarMagnífico o teu poema, Odete.
Um beijo.
Gostei dessas "hastes de tempo verde", numa iminente presença de aromas amarelos na placidez da luz que quer hibernar.
ResponderEliminarBelíssimo e nostálgico poema cujo vocativo ainda me dói.
Abraço, querida amiga!
Quase tudo é "por algum tempo". Feliz e/ou infelizmente...
ResponderEliminarAchei o teu poema muito sincero (não sei bem se é este o termo certo), vindo das profundezas da alma. Para além disso é magistral na construção poética, com imagens poéticas só ao alcance dos mestres. Resumindo, a excelência deste poema saltou para lá do jardim, passou o muro,
mas sem rebaixar a altura para apanhar o colorido e muitas coisas mais. PARABÉNS, minha amiga Odete.
Beijo.
Me gustan las metáforas que se incrustran en el poema, me huele a como si fueran jazmines del alma del poeta que lo escribe. Está como cubierto por un velo de paz y de tristeza que discurre a lo largo de las palabras que van entrelazando los versos. Un abrazo. Franziska
ResponderEliminarUm poema lindo e inquietante, sim é esse o termo que me calou fundo, principalmente no último verso:
ResponderEliminar"É preciso ir para lá do jardim, passar o muro,
rebaixar a altura para apanhar o colorido
que se oferece numa profusão de tintos
que não sei manejar; sei, apenas, retirar a essência,
o pó que realçará as tuas mação do rosto, mãe.
Por algum tempo, será outono. Mas, em ti, não."
Beijo, minha amiga, uma feliz semana.
Estou com o mesmo drama da Elvira "Quem dera saber comentá-lo como merece" mas posso dizer que gostei bastante de o ler e tem um belo final.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Olá, lindo poema, o mesmo é "o mistério a pulsar" gostei de o ler, acontece que todos os seus poemas.
ResponderEliminarFeliz semana,
AG
Há abraços que são transfusões de sangue
ResponderEliminarBj
Lindo poema...Mais um de entre tantos outros! Beijinhos grandes.
ResponderEliminarA nostalgia do fim de Verão que também sempre se infiltra nos meus sentidos e psiquismo.
ResponderEliminarFelizmente chega tarde, pois estamos a vivenciar um magnífico verão prolongado.
A recordação da mãe é comovente e faz parte desta inerente melancolia.
Um poema muito sentido e belo, Odete
~~~ Beijos ~~~
Este saber da importância do sentir e dele guardar o
ResponderEliminarcolorido do afeto, na essência dos gestos, que em
essência se eternizam...
Um privilégio te acompanhar na tua grandiosidade
poética a cada leitura. Uma saudade imensa de ler-te...rss
Voando nos espaços dos amigos para deixar votos de um
feliz final de semana!
Beijos, querida Odete!
Mostras mulher pensativa
ResponderEliminarE um poema com a luz
Que muito encanta e seduz
Pelo primor da assertiva.
A vida é uma força ativa
Que nos expande ou reduz.
O fado não nos conduz
Não nos amarra ou cativa.
Somos livres como o vento
Porém nosso sentimento
Faz-nos ser seres humanos
E assim ao destino, atento
Eu fico. Em momento
De luz, somos soberanos.
Parabéns Odete pela bela postagem e extraordinário poema cheio de assertivas e dúvidas como a vida é! Bom fim de semana! Abraço. Laerte.
Os Outonos da vida... têm belezas tão particulares, quanto os Outonos do tempo... e as estações, também têm a sua alma tão característica... quanto as fases da vida...
ResponderEliminarGostei imenso da serenidade e aceitação... que emana deste poema, belo e profundo, que gostei de descobrir, por aqui...
Beijinho! Boa semana!
Ana
poema de grande sabedoria, diria quase ascético, a sublimar a dor em beleza partilhada.
ResponderEliminargostei muito, Odete
beijo, amiga
anuncio-te que reabri os comentários no meu blog - espero continuar a merecer a tua presença amiga
grato
20 de outubro dia do Poeta.
ResponderEliminarQuerida Poetisa, que jesus te iluminando e que você continue nos encantando com suas lindas poesias.
Já dizia os poetas:
“Ser poeta é fazer de cada despedida uma saudade
É ter nas mãos os sonhos, vivê-los de verdade
Chorar, sorrir, sem medo de viver...”
“Poeta para ter o dom...
Das palavras...
Palavras de ternura... de carinho...
E poder encher...
nossos coração com amor
Escrevendo seus lindos versos e poesias”.
Parabéns!
Reportou-me a um instante entre matizes fenomenais, beijos
ResponderEliminarBoa tarde, Odete, nossa! há tanto a comentar sobre esta magnífica obra.
ResponderEliminarSuspira-me a alma, numa confidência muda,
a amarelecer as hastes do tempo verde.Será que fala do tempo, será que fala da velhice, será que fala da morte? Há tantas leituras a fazer..... Mas é extremamente interessante este poema. Beijos!
Para este belo momento poético, estes meus pensamentos:
ResponderEliminar- A poesia das pequenas coisas
- O sabor volátil das horas que passam
- O inquietante ar do crepúsculo
- A insustentável leveza de um momento de evasão!
Amigo Jorge: muito grata pela presença e perspicaz olhar sobre o poema.
EliminarPenso que terá lido a anterior publicação, "Fez-se história, em Mirandela". Esta sim, foi um momento de sublime poeticidade!!!
Abraço
Querida, amei o poema e destaco " É preciso ir para lá do jardim, passar o muro,
ResponderEliminarrebaixar a altura para apanhar o colorido... " Quanta sensibilidade poética. Quem dera saber apanhar o colorido que está lá do outro lado e enfeitar meus dias. Amei! ABraços
Há uma pancada de tempo tinha estado por aqui. Tinha comentado. Mas, de imediato, percebi ter perdido tudo. Danado que fiquei... pois era um aspirante a poema. Tinha-o feito com tanto gosto. No fim tinha dito: gosto disto!
ResponderEliminarO smartfone faz-me destas partidas.
Não vou fazê-lo agora. Basta-me dizer-te que gosto muito do teu tom, da forma como dás formas às coisas, como expressas emoções, comoções: tens uma forma especial de soprar as palavras.
Este teu poema tinha-me entrado forte.
Entretanto estive doente (eam). Estou?, Estou, mas, o pior, já passou. Não voltei ao que era. Tás a ver uma rua engarrafada? É como me sinto, sem coice.
Bj
Quedo-me aqui a ler e a reler o teu poema, minha amiga.
ResponderEliminarNesse lusco-fusco me enleio e procuro ver também mais além, contigo.
E vejo, vejo o poder e a magia das tuas palavras e a forma como para
ti são irmãs, residindo com elas num palácio de encantamento.
Beijinhos
Olinda
Belíssimo poema, inspirado e muito bem construído. Aproveito para desejar um ótimo 2018.
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