Penduravas
nas cordas a íntima roupa,
como
oferenda a um deus redentor.
Ia-se o
lamento na levada do sol. Uma benção!
Tal
como os frutos dados ao sequeiro,
para
mitigar as fomes do longo inverno;
o
inverno que te caiava o rosto,
fazia
tempo; o tempo que te ressecara o viço,
te
revirgindara no preto da íntima pele.
Culpavas
o fumo do lacrimejamento
que te
inflamava os olhos verdes,
já
apequenados e secos de gente.
E era
fumeiro, em pleno verão;
do
bulício do regato fizeste retratos imprecisos.
Que
mastigas, chamando
a
saliva que te desfaz o carolo de pão.
No teu
rosto, mulher-dor, só vejo camas de espera.
Onde te
deitas. Há muito, só!
Odete
Costa Ferreira, 11-10-17
Obra Edvard
Munch
Um excelente poema amiga. Um retrato de solidão divinamente pintado.
ResponderEliminarUm abraço
Tantos são os silêncios
ResponderEliminarBelo poema, Odete, a solidão é toda uma dor tão grande que não suportamos na maioria das vezes. E dá lugar a uma grande depressão.
ResponderEliminarUm beijo, uma feliz semana.
Intenso poema. Ha sido una lectura muy gtrata. Un abrazo y una feliz semana. Franziska
ResponderEliminarpoema que se entranha.
ResponderEliminarcomo o luto e as dores das mulheres vestidas de negro
enorme teu poema, Odete
beijo, minha amiga
A solidão de tantas mulheres à míngua de tudo, fragilizadas nos afectos, tão próximas da violência que espanta como se aguentam...
ResponderEliminarUm poema excelente, Odete. Comovente, até.
Uma boa semana.
Um beijo.
Odete, à medida que ia descendo, verso a verso, estrofe a estrofe, um nevoento fumo queimou-me os olhos.
ResponderEliminarEmocionei-me.
Há tempos que não pico o ponto por aqui. Andei, ando com o coração em bola das.
Bj.
Excelente texto poético, primorosamente urdido, onde falas
ResponderEliminarcom a dureza necessária da solidão em tempo de declínio e
escassez...
Realista, tocante, impecável.
Grande abraço, Odete.
~~~~~~~~~~
Olá, como sempre acontece por aqui, a partilha poética é maravilhosa, a mesma foca a realidade de muitas pessoas, que infelizmente vivem a má solidão.
ResponderEliminarContinuação de boa semana,
AG
Não é raro que à velhice se junte a solidão. É assim a vida, infelizmente.
ResponderEliminarOs meus aplausos pela excelência do poema.
Bom fim de semana, amiga Odete.
Beijo.
Um poema excelente a desnudar a dor das mulheres
ResponderEliminarfortes viúvas, a ritualizar a cultura enraizada
na história de vida...
A solidão destas mulheres que construíram a
estrutura familiar numa dignidade exemplar.
Muita bela a tua homenagem, querida Poeta.
Viajei neste teu excelente poema com a música
do Chico Buarque em "Mulheres de Atena".
Encontrei a mesma profundidade e beleza...
Saudades de ti, Odete!
Meus votos que tu esteja bem no toque da felicidade!...rss
Bjos.
A amargura e a solidão cantada neste belíssimo poema. Já tinha saudades de te ler amiga Odete. Aos poucos vou tentando voltar. Boa semana e beijos com carinho
ResponderEliminarOi, Odete!
ResponderEliminarVocê se supera a cada poema! Que saudades daqui!! A escolha desse trabalho de Edvard Munch ilustrou deveras seu poema! A melancolia é dor mais profunda que a triste depressão. Entra como uma lâmina fina e longa penetrando a alma e sugando seu viço. Há de existir redenção!!
Beijus no coração!!
Mulher-dor, que já deu amor, e a solidão sabe de cor...
ResponderEliminarApesar das cores, um retrato bem actual, Odete.
Um beijinho :)
Amigos e amigas,
ResponderEliminarimpõe-se, nesta publicação, uma breve nota: todas as leituras que foram feitas são pertinentes e cabem muito bem no poema. Subscrevo-as e fico-vos grata. Contudo, quero partilhar convosco a sua matriz: através da personificação da mulher-dor, há o profundo lamento do isolamento a que as terras do interior estão votadas. E a tragédia dos incêndios, não se dissocia desta dolorosa realidade.
Estive, estivemos, estamos e estaremos em luto.
Abraço-vos
Odete , só posso agradecer sua generosa partilha . Seu olhar poético que nos emociona , sempre . Beijos
ResponderEliminarTriste ente!... A solidão
ResponderEliminarDeixa, pois, o ente doente
Pelo amor que ele não sente
Por si, ou pensa que não.
O ser humano é paixão,
É amor qual supremo ente
E estando do grupo ausente
Vive sem vida e em vão.
A solidão é um estado
Onde se deixa de lado
A vida e tem-se a visão
Que tudo é triste e o passado
É o futuro - o legado
Do presente em solidão.
Belo poema o teu, Odete, mas triste. Parabéns pela poesia que há nele! Fiz uma releitura... Desculpe-me brincar com minha cabeça a tomar o foco dos teus belíssimos versos. Abraço. Laerte.
O poema e a a pintura de Munch; estão em muita sintonia.
ResponderEliminarBoa continuação de semana.
Este poema retrata muito bem o interior do nosso país. De trapos humanos cambaleantes debaixo de escaldante sol a pino. Insistem. Persistem. E não só dormem sós, como morrerão sós, esquecidos de Deus!
ResponderEliminarBeijão, amiga Odete!
Querida Odete
ResponderEliminarA partir da matriz que partilhas connosco, subentendida no teu poema, não há dúvida que o isolamento do interior é um drama que se vai revelando cada dia que passa com maior acuidade. Os momentos de dor por que passaram as pessoas que sofreram perdas irreversíveis nos incêndios coloca-nos numa situação de luto, como bem referes. A imagem da mulher-dor como imagem da mãe-natureza queimada e esventrada adequa-se sobremaneira.
Beijinhos
Olinda
Es una tragedia humana que nos afecta a todos que tiene una figura de mujer, un rostro una mirada y unos sentimientos que nos hablan. Me ha impregnado de dolor que he hecho mío porque es nuestro, lo es de todos. Feliz fin de semana. Un abrazo.
ResponderEliminarUm tocante retrato de vida... em palavras... de uma vida dura e difícil... como realmente são ainda... e sempre foram, tantas vidas, de tantas mulheres, no nosso Portugal mais profundo... sendo elas as ancoras, e os pilares de tantas casas...
ResponderEliminarA pintura escolhida, não poderia combinar melhor...
Como sempre, um post de excepção, Odete! Parabéns!
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana
Passei para desejar uma boa semana.
ResponderEliminarAbraço
Excelente poema que pode ser lido, na minha opinião, em dois registos: a da solidão de uma mulher e de uma região.
ResponderEliminarBeijinhos, meu bem