O espaço prepara-se devagar apesar de mãos
afadigadas.
Há urgência no desnudamento das árvores. O
inverno, já cansado do cerco outonal, das cores fulgurantes de paixões acesas,
precisa depositar o sémen branco em cópula de amores calmos. É o seu tempo. É a
sua natureza. Sabe que, daqui a uns meses, nascerão rebentos esperançados no
verde da terra.
Mas o espaço prepara-se devagar. Pincelado aqui
e além. Sem surpresas. As cores de mãos afadigadas libertam o vermelho e o
dourado. As formas são recriadas. Já nada há a reinventar. Acredito que apenas
o espírito. Esse todos os anos se sente diferente. Irrepetível, ainda que os
gestos se façam iguais e da boca saiam palavras desgastadas pelo uso.
Na causalidade das coisas será a alma a
reinventar os momentos. E é neste espírito que preparo o espaço. Devagar.
Tenho tempo. Só amanhã será dezembro…
Obra de Lula Cardoso Ayres
Odete Ferreira (OF)
30-11-2014