O espaço prepara-se devagar apesar de mãos
afadigadas.
Há urgência no desnudamento das árvores. O
inverno, já cansado do cerco outonal, das cores fulgurantes de paixões acesas,
precisa depositar o sémen branco em cópula de amores calmos. É o seu tempo. É a
sua natureza. Sabe que, daqui a uns meses, nascerão rebentos esperançados no
verde da terra.
Entretanto, há mãos doces que se deleitam no
alisamento da rugosidade das folhas: umas imaculadas, resguardadas em espaços abençoados, outras espezinhadas nos caminhos palmilhados - há sempre mortes ainda que involuntárias.
Mas o espaço prepara-se devagar. Pincelado aqui
e além. Sem surpresas. As cores de mãos afadigadas libertam o vermelho e o
dourado. As formas são recriadas. Já nada há a reinventar. Acredito que apenas
o espírito. Esse todos os anos se sente diferente. Irrepetível, ainda que os
gestos se façam iguais e da boca saiam palavras desgastadas pelo uso.
Na causalidade das coisas será a alma a
reinventar os momentos. E é neste espírito que preparo o espaço. Devagar.
Tenho tempo. Só amanhã será dezembro…
Obra de Lula Cardoso Ayres
Odete Ferreira (OF)
30-11-2014
Suas linhas sempre nos oferecem uma linda e ímpar vontade de nunca parar de ler... Parabens querida... adoro teu trabalho.
ResponderEliminarOi menina, amei o texto,parabéns! Tbm venho precisando a me reenventar. Mas como não tenho pressa deixarei para 2015,pois terei 2015 motivos para adorar ler os seus textos, agradecer por sua amizade e por todas as vezes que vc esteve em meu blog.2015 motivos para continuar a interagir com pessoas assim como vc,bjsss
ResponderEliminarDevagar mas convictamente, os ciclos da vida imitam os ciclos da natureza. As árvores despem-se rapidamente, o frio começa a apertar, e ao Inverno parece faltar sempre paciência para esperar essa cópula com a natureza. A Primavera dar-lhe-á razão no próximo ano ao exibir os frutos que nasceram.
ResponderEliminarHá folhas que morrem para que outras nasçam, porque a natureza tem sempre razão. Não sei se nós temos essa desejável sabedoria para nos reinventarmos no regresso das estações, mas que o tentemos, para além do desgaste das palavras.
Um texto que é poesia pura. Adorei ler, Odete, muito bem escrito!
Boa semana!
xx
Oi olha eu aqui de novo...Desta vez para convida-la a participar da votação das tags e das poesias. Estou participando,mas acho justo que ñ possamos dizer qual a nossa. Porém ficaria muito feliz se vc fosse onde esta acontecendo a festa e desse o seu voto com o coração.
ResponderEliminarPodemos contar com vc?
http://boas-festas-2014.blogspot.com.br/
Bjsss
Você escreve com beleza e sensibilidade. A prosa poética que nos apresenta é encantadora. Eu me delicio com textos que se vão desenvolvendo assim leves, mas contendo uma lógica capaz de nos fazer refletir. O outono tem cores diferenciadas . Seu dourado e seu avermelhado nos mostram sábias despedidas das folhas que caem e se vão, levadas pelo vento, amassadas pelos pés. Não há desgosto porque renascerão com o mesmo frescor de antes. O espírito tudo acompanha, mas é realmente outro a cada ano. Muito já se lhe passou pelo olhar, como ensinamento. Seu caminhar não segue o tempo das estações que viveu. E seu reinventar exige empenho e vontade, eis que não se dá na mesma forma espontânea da natureza. Grande beijo!
ResponderEliminarNa Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, como diria Lavoisier, e se constata ciclicamente no processo do envelhecimento e da morte que renasce timidamente até ao desabrochar em esplendor. A alma acompanha... pena o invólucro desditoso.
ResponderEliminarMiles de besos.
Uma descrição romanceada das estações que nos circundam.
ResponderEliminarPrendi-me por aqui e quase passei a gostar desta altura.
Beijinhos
Consigo estar "dentro" do Espírito que tão bem recrias. Encontro nele, todo Poesia, os encantos da alternância de Estações e Época: Outono/Inverno/Natal.
ResponderEliminarA convergência é tamanha que nem o renascer é esquecido.
Adorei.
Beijos
SOL
Oi, Odete!
ResponderEliminarMas que bom que o espírito se renova, mesmo que tudo seja apenas um repetição automática da natureza. Nos acostumamos a isso, como se fóssemos os ponteiros de um relógio que fatigadamente rodopia em um mundo de causas e efeitos.
Estou atrasadinha para preparar o meu espaço :)
Beijus,
O tempo faz falta para que as coisas aconteçam.
ResponderEliminarNa natureza e em nós...
Magnífico texto, gostei imenso, como sempre.
Bom resto de semana, querida amiga Odete.
Beijo.
Gostei muito tanto do texto como das ilustrações.
ResponderEliminarEsperemos que o povo português tenha capacidade e coragem para se reinventar!
Querida amiga, no meu abraço vão votos de bom resto de semana :)
Odete,
ResponderEliminarAs tuas palaras, forjadas em sentires mil, já me são imprescindíveis.
Que o espírito prevaleça!
Beijo :)
muito lindo!
ResponderEliminarBoa tarde, texto social profundo, sem a necessidade de nos reinventar e concretizar somos esmagados sem escrúpulos por quem deseja a submissão.
ResponderEliminarAG
Oi Odete!
ResponderEliminarQue belo texto!
Gostei muito desse trecho: "Há urgência no desnudamento das árvores. O inverno, já cansado do cerco outonal, das cores fulgurantes de paixões acesas, precisa depositar o sêmen branco em cópula de amores calmos. É o seu tempo. É a sua natureza".
Ao o Outono coube o mérito em preparar as árvores para um evento maior. A perpetuação da espécie!
A Natureza reinventa sempre!
Beijos e bom fim e semana!
VitorNani/Hang Gliding Paradise
Uma pintura, este texto. O outono toma formas desconcertantes em tons de mel e a pressa devora os momentos mornos... É preciso reinventar a respiração do amor...
ResponderEliminarBeijo.
«... a alma a reinventar os momentos.» - é necessário uma reinvenção, uma renovação verdadeira, para prosseguir na repetição que são os dias, uns depois dos outros, as celebrações, umas a seguir às outras, sempre numa mesma sequência. Vivemos num desfolhar de calendários, uns após outros, até o dia final.
ResponderEliminarbj amg
Bela recriação da natureza! As palavras vestem-se de sensualidade outonal e o Inverno atinge aqui uma virilidade que o tempo acalmará!
ResponderEliminarÉ em paz que te fazes Dezembro!
Beijinho, querida amiga.
Gostei de reler o teu excelente texto.
ResponderEliminarTem uma boa semana, querida amiga Odete.
Beijo.
Grata, amig@s, pela vossa presença e comentários.
ResponderEliminarQue o espírito natalício prevaleça, independentemente da decoração dos espaços.
Por isso, preparo o meu (espaço) devagar. Já iniciei a tarefa...
Sorrio-vos :) :)