Este
escrito (título a negrito) fará parte de uma Antologia. Lançada a temática (um concurso de uma
editora), não lhe dei a devida importância, parecendo-me que não teria tempo
para escrever. Contudo, ficou a bailar-me o desafio.
Ei-los
que partem: sendo uma problemática a que sou muito sensível, escrevi sem ligar
a prazos e regras. Enviei fora do tempo razoável para ser lido e passível de
ser votado pelos coautores. Que fazer? Aprender a priorizar as minhas tarefas,
quando para tal é necessário.
Estou,
portanto, à vontade para o partilhar. Quero que chegue a quem me lê. E já ando
a magicar para onde o deverei fazer chegar!
Deixo
o início e o link onde poderá ser completada a leitura. Se entenderem produzir
algum comentário na página do blogue, gostaria que mo deixassem também aqui.
Desde já fico grata.
Odete
Ferreira – 17-03-15
Por cá haverá
sempre cabos de tormento
Vivia a narrativa.
Fazia parte dos relatos. Sentia os sobressaltos, as inquietações. Habitava-me a
sensação da dor de golpes desferidos nos corpos que se moviam cautelosamente em
noites negras. Negro destino. Negras as faces. Negra alma, apesar da esperança.
Mas esta não tinha cor. Talvez luz. Uma luz que só se fazia presente para lá da
fronteira.
Era uma jovem de
uns treze anos num Trás-os-Montes perdido entre pedras, minas, montes e rios.
Ainda selvagens, seguindo na correnteza que a sábia natureza rasgava. Ora se
estreitando, ouvindo-se o barulho de quedas de água abruptas e rudes, ora
abrindo espaço onde respiravam de alívio
os clandestinos. E foi neste território literário, bebido na pressa de chegar a
finais felizes, que a jovem amadureceu a vertente do apego ao outro. Talvez
antes do seu tempo, mas naquele tempo. O tempo de gentes sofridas e
injustiçadas por um Portugal que se centrava lá para os lados da capital.
E deram o
salto. Iam a salto, numa emigração clandestina, entregues a um qualquer
passador. Um jogo de sorte e azar. A fuga da prisão geográfica onde a miséria
tinha o seu reinado. Época de sangria de homens. Deixavam a casa em estado de
viuvez. Mulheres castradas
na sua feminilidade. Filhos órfãos do afeto paternal. Mais tarde iriam as
mulheres. Os filhos transferiam o lugar de pertença. A casa passava a ser a dos
avós e a da terra, mãe ou madrasta conforme o tempo. Em todo o caso as
colheitas nunca eram suficientes, mesmo nos anos bons.
“Deus te
acompanhe meu home”.
http://editorapapel.blogspot.pt/ (link onde, quem entender, poderá ler os outros textos)
Adenda: Por sugestão do amigo Diogo, deixada no comentário, vou deixar o link do "Cantar de Emigração" na voz do Adriano Correia de Oliveira.
https://www.youtube.com/watch?v=i5YkO1TY9xA
Adenda: Por sugestão do amigo Diogo, deixada no comentário, vou deixar o link do "Cantar de Emigração" na voz do Adriano Correia de Oliveira.
https://www.youtube.com/watch?v=i5YkO1TY9xA
a dolorosa saga dos emigrantes, filhos de uma pátria que nunca foi mãe, antes uma madrasta de que fugiam, na esperança de um amanhã sem fome.
ResponderEliminarGostei muito do texto.
Um abraço.
Olá, Odete!
ResponderEliminarSua narrativa tem um fundamento muito conhecido aqui no Brasil, onde nordestinos expulsos de suas terras pela seca, aglomeram-se na periferia de grandes cidades e passam a fazer parte da massa de manobra de políticos populistas, que em troca de ajuda financeira de subsistência os mantêm reféns.
Os que permanecem nas terras miseráveis do Nordeste, trocam votos por água.
Creio que essa prática já existe desde o Império, e perdura até hoje!
Já foi tema de grandes obras literárias como: "Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Estradas sem fim, de Severino Rocha Carvalho".
Seu tema é super atual, pois ainda existem Cabos de Tormento, basta ver os noticiários na TV, quando refugiados tentam chegar clandestinos à Europa!
Um grande abraço!
VitorNani & Hang Gliding Paradise
Sua postagem fala de uma realidade brasileira,
ResponderEliminarque espero um dia por um mundo melhor .
Beijos meu carinho.
Evanir..
Parece um país condenado ao tormento, e sem fim próximo à vista. Não parece existir grande volta a dar numa sociedade que apregoa a igualdade mas cujo desgoverno apenas acentua as desigualdades.
ResponderEliminarE se antes se poderia firmar que a emigração se devia à nula ou baixa escolaridade, e à miséria de um país em ditadura, os ventos da democracia não conseguem sequer arranjar soluções para os jovens que se esforçaram para obter uma especialização.
Olha, a minha filha partiu para Dublin em Janeiro!...:-(
Por isso entendo quando falas do teu filho.
xx querida Odete. É difícil.
xx
Bela partilha
ResponderEliminarBj
Um belo retrato da vida difícil nessas terras transmontanas onde tudo falta menos a vontade de viver.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
A Pátria não foi Mãe, antes; depois das euforias, igualmente continua a sua negação de Mãe.
ResponderEliminarDizer que os tempos são outros, sendo verdade, apenas as condições são diferentes cá, como nas Terras de acolhimento.
Entendo ser, este, um tema de actualidade e que quem dirige aconselhava o "salto"; já o não aconselha por razões óbvias. É sempre assim!...
Beijos
SOL
Uma realidade dura, a emigração. A de outrora e a de agora. Gostei imenso do teu modo de narrar.
ResponderEliminarUm beijo.
Boa tarde, a realidade continua com o direito à dignidade, no interior tudo se pensa e tudo se imagina sem se poder concretizar, a solução é virar as costa, ir embora para procurar o bem estar a e felicidade em terras desconhecidas.
ResponderEliminarAG
Opções doloridas. As raízes são fortes. Os desafios, imensos, em qualquer lugar onde se vá. Os cabos de tormento estão por toda parte. E nossa realidade não está distante desses fatos. Quando ouço minha sobrinha dizer que vai procurar outro lugar para seu pouso, entristeço-me. Belíssima e rica narrativa. Bjs.
ResponderEliminarA vida traduzida na emoção das palavras.
ResponderEliminarÉs uma escritora nata.
Beijinhos
Sempre será eterno, o sonho.
ResponderEliminarParabéns Odete.
Acabei de ler o teu texto, na íntegra, e deixei comentário.
ResponderEliminarNão preciso repetir que GOSTEI imenso... certo?
Tu tens o condão de me prender a tudo que escreves, quer seja poesia quer seja prosa. Não, não estou a... bajular-te, apenas a dizer o que sinto, com toda a sinceridade.
E, a propósito de emigração, já reparaste na atitude dos nossos (des)governantes?
Incentivaram a emigração, e agora estão a chamá-los... Isto daria vontade de rir, se não fosse motivo para chorar... :(
(embora longe, tento manter-me mais ou menos a par do que aí se passa)
Aproveito para informar/lembrar que no próximo dia 24 publicarei novo post.
Fico à tua espera...
Óptimo fim de semana.
Um beijo
MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA
A emigração sempre foi um drama presente no nosso país.
ResponderEliminarO actual "Governo" acentuou-o mais ainda quando , dando-se ao luxo de insultar as pessoas, as expulsou do país quer por convite quer por não lhes dar condições de sobrevivência sequer.
E com o seu sentido de honra é igual do de Estado, isto é, nenhum agora decidiu inventar um programa de regresso par meia dúzia sem se saber quais os critérios utilizados...
Com tudo isto, quase te não dizia que me agradou muito o teu texto...mas tua isso já sabes
Amiga, abraço muito grande
Olá minha amiga, tens um tipo de escrita que me enche as medidas, isto porque não sou dado a escrita lamachenta.
ResponderEliminarLi atentamente, fazendo acompanhar por uma música, que podes ilustrar a tua narrativa.
Adriano Correia de Oliveira - Cantar de Emigração
JINHOS
Odete , seu texto descreve com precisão quão dura é a emigração forçada . Parabéns . Agradeço a partilha . Beijos e boa semana .
ResponderEliminarOi, Odete!
ResponderEliminarAinda estou anestesiada com o seu texto. Encantador!
Ainda não sabemos a razão da existência, mas podemos entender que as palavras dão significado ao pensamento e ele de fato representa a vida.
Beijus,
Maravilhoso texto, beijo Lisette
ResponderEliminarMaravilha de texto Odete!!! Parece que escreveu para nós, brasileiros...É a vida...e é bonita, é bonita e é bonita!
ResponderEliminarBeijuuss
Olá Odete; excelente texto....
ResponderEliminarCumprimentos
Sou-vos muito grata por terem concedido um pouco do vosso precioso tempo na leitura deste texto, assim como agradeço os comentários que me deixastes.
ResponderEliminarO coração pediu-me esta partilha. E não se deve negar pedidos destes. É o amor que está em causa! O mesmo amor que se sente abalado em tantos corações um pouco por toda a parte.
Abraço-vos, amig@s.
Vidas sentidas, sofridas, distantes, penosas, saudosas... Ainda bem que o coração te pediu a partilha.
ResponderEliminarQue bom ter podido ler. Beijos.