segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Orfandade

Obra de Edvard Munch

Há nas horas de chumbo
mãos de criação de infortúnios
que descuidaram o ninho, a casa
e até a rosa abrigo, fortaleza delicada,
quando nada mais restava
senão a promessa do azul
em horas desabrigadas
do sopro que acalenta
– e resguarda.

E as pedras são apenas pedras
nuas de poesia, desgastadas e abafadas
pelos ais do silêncio do dia.

E a casa já nem precisa de gente
se os braços deixarem de ser carne
e os pássaros feridos se perderem
no desatino da gente.

Há nas horas de chumbo
orfandades a cobrirem crepúsculos
com telhados de vidro.
Que quebram no rigor do inverno.

OF (Odete Ferreira) –23-11-16

14 comentários:

  1. "Nas horas de chumbo" só a nossa sombra fica cativa das emoções. Como se um vagaroso luto cobrisse o crepúsculo com mãos de orfandade...
    Belíssimo e sensível, Odete.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. Nas horas de chumbo
    acendo uma vela
    sopro as sombras das paredes do cais

    Bjs

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  3. Boa noite, Odete!
    que maravilhosa construção você fez, com belas e significativas metáforas.Tudo se torna abafado, nas horas de chumbo e, aí percebemos o quanto somos falíveis. Grande abraço!

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  4. Lindo demais, Odete!
    São nesses momentos de chumbo que conheceremos a solidão total. Somos nós e...nós!
    Beijo, parabéns por tão linda construção.

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  5. Minha amiga, tenho o privilégio de acompanhar o teu caminho
    com a poesia, a literatura e sempre me encanta neste padrão de
    excelência da tua escrita, a tua inspiração, este tocar na
    alma com as palavras e pousar a inquietação da reflexão.

    Este teu poema é de uma beleza a encontrar feridas interiores
    e a força de intervenção (social) na voz da orfandade.

    Beijo e abraço de paz!

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  6. Muita paz e saúde no natal e em todos os dias do ano! Que o verdadeiro sentido do amor seja presente em todos os momentos, sempre! Felicidade. Ives Vietro

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  7. perturbante teu poema, minha amiga
    de uma estética formal exemplar
    e, no entanto, tão cinza.

    que as telhas se rasguem em amplas clarabóias.

    beijo

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  8. Podemos considerar orfandade em vários sentidos.
    O real, a orfandade de sangue, uma das duas feridas mais profundas e terríveis que podem atingir o ser humano - a quebra de elos, de sentido de segurança, de ninho - como bem referes no teu poema.
    Ainda podemos considerar a orfandade em sentido figurado e a orfandade de um suposto Criador, a quem por tradição se chama Pai.
    É verdade que a humanidade passa por tempos de provação - horas de chumbo - porém, ainda assim, apesar dos excessos, eu encaro a época natalícia como um tempo de muito boa vontade. Sempre foi assim, mesmo no longo tempo em que fui agnóstica.
    Chocam-me os teus poemas duros de Natal, mas compreendo e respeito.
    Espero que eles sirvam para fazer alguma intervenção ao vivo.
    Eu, já que não posso modificar o mundo, ando mais preocupada em distribuir sorrisos a todos que me rodeiam: amores - incluindo amigos - vizinhos, colegas, empregados...
    Penso que isto é fazer algo e sei que me compreendes.
    O teu poema está com uma magistral construção formal, estética e poética. A mensagem é dilacerante...
    ~~ Grande abraço, querida amiga.~~

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    1. Majo: não fiques, de forma alguma, chocada. Não são poemas de Natal, pelo menos do meu (aguarda a próxima partilha) e de tantos e tantas,felizmente. Apenas criações poéticas, que, aleatoriamente (e também por falta de disponibilidade para escolher as partilhas) vou divulgando. As "orfandades" existem e existirão em qualquer tempo e lugar. Também espalho sorrisos! E muitos!!!
      Grata por te demorares por aqui.
      Bjo, amiga :)

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    2. Hoje o poema pareceu-me mais leve...
      Peço desculpa pelas minhas limitações.
      Sabes que admiro muito os teus textos poéticos,
      mesmo os imprecisos como este.
      ~~~ Beijinho sorridente ~~~

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  9. Há horas de chumbo, que nos dilaceram a alma. Mas também há horas de sol, em que tudo parece menos doloroso. Porque a vida é uma sucessão de horas assim que se alternam de modo a que as vamos conseguindo digerir sem enlouquecer.
    Um abraço e Bom Natal

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  10. Cada poema teu é uma viagem. Muito bom, minha amiga!

    Um beijinho :)

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  11. Vim para deixar um docinho natalício e um beijo. Voltarei.

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  12. Boa noite amiga já consegui abrir... É que da ultima vez não fiz como hoje!Tive que clicar em cima da sua foto!Bjs e um bom Domingo

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