Christian Schloe
Nos últimos tempos, presenteava-a, frequentemente, a memória com a
fábula da cigarra e da formiga. Não que a figura tipo da cigarra a incomodasse,
tampouco algum disfarçado sentimento de inveja. Sempre fora formiguinha e o que
“não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” funcionava como prenúncio de
que o (seu) mundo poderia acabar a qualquer momento. Tudo, então, devia estar
organizado. Por si e pelos exemplos da vida, o seu espírito de formiguinha
prevalecia. Nunca saberia quem poderia chegar para ajuizar daquela pessoa cujos
espaços e objetos ficaram vagos da sua presença. O caos só lhe era apetitoso no
plano das ideias e motor de permanente interrogação retórica.
Contudo, nestes últimos tempos e nos próximos, sabia, chegava a
gratificar-se por assim ser. Julgava mesmo que a sua intuição era uma espécie
de dom. Afadigava-se pelos carreiros da sua vida como veículo todo terreno. As
prioridades geriam-se por si, inconscientemente, funcionando como empresa em
contratação de outsourcing. Tudo se tornara urgente e a economia da sua
narrativa obrigava-a a uma engenharia emocional, não isenta de um sentimento de
falha. Por mais que desse indícios da necessidade de fazer opções, havia sempre
julgamentos apressados. Normal: este tempo tornou-se desatento, flácido. Se o
exercício físico exige esforço, força de vontade e outros, por vezes,
desmandos, o que não exige o exercício mental!
Felizmente, há exceções; como o jovem Tiago que, já lá vão vinte
anos, observando os seus apressados gestos, numa quietude interrogativa, dissera
“Sempre quero ver como é que hoje nos vai surpreender…”. Se antes já o sabia,
naquele momento não restaram dúvidas: haveria sempre alguém a ter um olhar que
capta a essencialidade das pessoas e das coisas.
(...)
E cuidara: espaços e tempos; pertences e pertenças; dias e noites;
risos e lágrimas; corpo e espírito; silêncios e ruídos. Doseando, temperando e
temperando-se.
Depois, de supetão, foram as histórias de finais felizes que a
surpreenderam, premiando-a, vivendo, porque não têm prazo, os contos de fada e
o sonho eternizado no seu enredo.
Por isso, nestes últimos tempos, o trabalho de formiguinha ganhara
espaço. Dera outro uso a tudo o que, para as suas necessidades, ficara fora de
prazo e fora acomodando o novo com o desvelo da mãe coruja.
Em breve as achas
crepitariam. Em breve seria Natal…
Odete Ferreira – 18-09-16
Vladimir Kush
Advento
Quando, por estes dias, o frio
me
percorre em bafos quentes,
tocando
de leveza os passos miúdos,
num
alvoroço quieto, numa espera serena,
atentando
nas miudezas das ruas,
limpas,
clareadas, donde, por algum tempo,
as
sujidades são enxotadas,
acrescento-me
de palavras que esqueci,
aguardando,
por estes dias,
a
revelação da emoção plena,
supondo-a
como rebentação
das
ondas desprendidas das águas,
onde se
fizeram corpo e espírito.
O meu
olhar, por estes dias,
acenderá
dezembros de luz.
A gotejar, sempre que me perder
na
fascinação íntima do ser a nascer.
Quando,
por estes dias,
o frio
for fogo a arder no meu peito,
e a
bênção do céu à terra descer,
saberei
do teu cheiro e do sabor a Natal.
OF (Odete Ferreira) – 07-12-16
Querida amiga.
ResponderEliminarDesejo que o natal do teu sangue ocorra com o sucesso, o esplendor
e a comoção que desejas e sonhas.
Agradeço-te os ótimos momentos de leitura. O poema, de tão genuíno
a sentido, emociona-me pela sua beleza e brilhantismo.
Irás celebrar o natal habitual, com a emoção de um advento ao vivo.
Que os teus dias de júbilo e reconhecimento pela graça divina, sejam
inebriantes de puro amor e encanto.
~~~ O meu abraço natalício, especialmente terno ~~~
Um poema maravilhoso, que me fez chegar o cheiro a Natal...
ResponderEliminarO conto excelente recordou-me o poema de Miguel Torga "Fábula da fábula" em que diz. Quem não canta morre de fartura"...
Um BOM Natal e um Ano novo MELHOR.
Um beijo, minha Amiga Odete.
Odete,
ResponderEliminardois belíssimos textos
e não me peças para escolher, pois não seria capaz.
é com enorme alegria que vou conhecendo a tua escrita
lamento apenas o tempo que tardei.
beijo, minha amiga
Limito-me a ler e gostar do que escreves, muito bom.
ResponderEliminarO ano está quase no fim e com ele a proximidade do Natal. Tempo de reflexão, de família, de afetos redobrados… ou pelo menos seria bom que assim fosse. Que o Natal fosse um período de verdadeira entrega ao outro, que o Ano Novo fosse um verdadeiro reinicio, construído com as aprendizagens trazidas do ano que termina, para uma construção sólida, bem sustentada nos valores tão apregoados nas épocas festivas.
Beijos
Como diz o Manuel Luís no seu comentário e não podia estar mais de acordo "Limito-me a ler e gostar do que escreves, muito bom" e acrescento que é sempre um enorme prazer ler o que a minha amiga escreve.
ResponderEliminarAproveito para desejar um Santo e Feliz Natal à minha amiga e sua família.
Livros-Autografados
Passei por aqui para desejar à minha amiga um Óptimo 2017.
EliminarOdete , minha amiga querida
ResponderEliminarSó posso agradecer a partilha generosa de sua brilhante escrita e sua presença constante no meu espaço .
Um Natal abençoado junto dos seus e um 2017 com saúde , poesia , sucesso e muito amor .Beijos
Boa tarde, querida Odete!
ResponderEliminarConto e poema com notas máximas, seu conto nos remete realmente, a um outro tempo.... belas recordações. O Advento nos leva a interiorização. Belíssimos e muito bem construídos. Desejo a você um santo e abençoado natal!Grande abraço!
Tudo pelo melhor
ResponderEliminarBj meu
OI ODETE!
ResponderEliminarUM CONTO PROFUNDO E UM POEMA INTENSO, QUE SE COMPLETAM NA PURA BELEZA DE TEUS ESCRITOS.
UM NATAL, NO QUAL A VERDADEIRA ESSÊNCIA, SEJA O ALIMENTO DE NOSSAS ALMAS.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Como sempre, a exceLancia anda de mãos dadas com tudo o que escreves.
ResponderEliminarUltimamente tenho escrito poço, mas leio-te tudo. É delicioso ler-te.
Faço votos para que o teu Natal seja repleto de alegrias, saúde e paz. O presente maior está para chegar e para ele desejo toda a felicidade do mundo.
Bom 2017. Beijo enorme da Dulce
Maravilhoso querida amiga adorei mesmo. Querida amiga, passei para lhe desejar um Natal muito Feliz com muita saúde, paz e muito amor, junto de quem mais ama. Beijos muito carinho
ResponderEliminarEncanto-me sempre por aqui, Odete.
ResponderEliminarUm fantástico natal para ti e para os teus!
Querida Odete
ResponderEliminarAntes da minha ida a Cabo Verde (a tal viagem) vim visitá-la mas já não pude comentar por causa da confusão das arrumações e desarrumações.
Hoje vejo-me bafejada pela sua prosa e poesia, momentos únicos de leitura. De uma fábula fez uma obra de arte, de uma ideia de renascimento faz crepitar em nós os mais belos sentimentos. Muito obrigada e bem haja!
Desejo-lhe um Natal abençoado e Ano Novo Feliz. São estas as palavras repetidas milhentas de vezes nesta quadra, mas que levam em si toda a minha amizade e admiração.
Beijinhos.
Olinda
Que o espírito natalino traga aos nossos corações a fé
ResponderEliminarinabalável dos que acreditam em um novo tempo de paz , amor ,
solidariedade e acima de tudo fé que renova nossas esperanças
num mundo mais humano sem dor e sem guerra.
Meu agradecimento pela sua amizade
sua sincera amizade.
Feliz e abençoado Natal.
A você e todos da sua família e amigos.
Um abraço forte meu eterno carinho.
Voltarei a postar e visitar antes da virada
para um novo ano.
Evanir..
Minha Amiga,
ResponderEliminarDois presentes encantadores, a tua escrita
no toque da alma...
O primeiro, texto belíssimo da formiguinha
com a "alma" de filósofa, com a "intuição que
era uma espécie de dom". A intuição é uma sinalização
interior como um radar precioso, minha amiga.
O segundo, um poema luminoso com a raridade da
beleza única de uma Poeta que transborda emoção!...
Deixo os meus votos também aqui de que tenhas tido
um natal especial na paz, alegria e harmonia junto
com a tua família.
Grata pelo teus votos e carinho.
Um beijo e abraço de paz!
Feliz ano de 2017 com a concretização de todos os sonhos
ResponderEliminarAG
Olá, Odete
ResponderEliminarAinda chego a tempo de receber, de braços abertos, o rebento?
Espero que sim...
Que chegue bem e carregadinho de felicidade para distribuir pelos que o aguardam ansiosamente...
Assim será!!!
Um excerto de um conto(?) que faz crescer água na boca, e um poema, para além de bonito, perfeitamente adequado - à quadra e ao acontecimento.
Que tudo corra de acordo com as expectativas...
E agora que o Natal passou... desejo que tenhas uma excelente passagem de ano, e um 2017 pleno de felicidade.
Votos de uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Querida amiga, o que se sente ao ser avó, fica fora de todos os contextos. É de tal maneira grande, que não nos cabe no peito. Desculpa amiga mas não te consigo explicar... mas é uma sensação única. Bem...se ainda não nasceu, vai nascer no dia dos meus anos...era muito giro. Beijinhos amiga e muitos parabéns e muita calma nessa espera...
ResponderEliminarSempre o Natal nos mostrou a proximidade de um novo ano. Talvez seja esta a sua maior virtude.
ResponderEliminarFeliz 2017.
bj
Sempre te disse que o teu estilo é de uma fluência tal que encantas.
ResponderEliminarA tua poesia emociona. E o ad-vento está aí. Em breve o novo ano te trará outras realidades
Feliz Ano Novo, Odete
Beijo!
No Natal os sentimentos e emoções afloram, tudo fica lindo, na medida certa! Parabéns pelo texto e belo poema, Odete. Deixo, também, meus votos de paz, saúde, alegria para esse ano que vai entrar. Que você seja muito feliz junto de sua família, que realize suas metas, seus sonhos.
ResponderEliminarBeijo, querida Odete.
Amiga
ResponderEliminarSó uma passagem rapidinha apenas para repetir os votos de bom 2017, e (principalmente...) para desejar, à moda antiga "Uma hora pequenina"...
É o teu primeiro? Eu tenho... NOVE :)))
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS