Chamaste-me?
Aqui estou,
remendada
por agulhas
que já
não estarão
num
amanhã fechado
por
gente além Marão.
Foram
remendos, foram consertos,
a linha
que costurava pontes
entre
as montanhas rudes
mas
sapientes – das gentes –
e os
sonhos nas grandes urbes outorgados,
cartas
de alforria a lembrar o senhorio…
Corriam
os tempos à mercê de relógios acertados
e
olhares concertados na precisão dos gestos.
Partida!
Silvo a esvaziar a espera,
ânsia
apesar do enjoo,
o
balanço a embalar o medo,
a rocha
a pesar nos ombros e a linha
–
sempre a linha – a serpentear o rio,
cosendo
a vida, soltando os nós,
emaranhados
entre pedras,
compondo
músicas desafinadas,
ecos a chamar as encostas…
E o voo
acontecia
no cimo
da montanha que não via
abrindo
as casas de botões de sol
que
apertavam os vestidos de rapariga.
(…)
Pouca
terra, pouca terra.
Foi-se
a linha. Foi-se a terra.
Alimenta-se
o lago. Pouco a pouco.
Submersa
fica uma história. Sem aplausos.
OF (Odete Ferreira) – 06-09-16
Foto – Odete Ferreira
O poema é lindo a história que encerra muito triste. Noutro qualquer país do mundo, o turismo faria dela a estrela maior da região.
ResponderEliminarUm abraço
Obrigada, Elvira.
EliminarSou história viva de um tempo em que, por via do prosseguimentos de estudos superiores, viajava nesta linha.
Quanto ao turismo, não houve visão e, no presente, continua a ser pequena.
Bjo
É um desaparecimento que muito lamento e do qual me custa tanto
ResponderEliminarconformar, que ainda alimento o sonho lírico de um dia a linha
marginal vir a ser reconstituída...
Um fechar de uma página histórica a favor do pretendido progresso...
Um belíssimo poema de testemunho e saudade, querida amiga.
~~~ Grande abraço ~~~
Há alguns projetos na calha, Majo. Ainda não há muito tempo, fiz uma intervenção na Assembleia Municipal pedindo esclarecimentos e apelando à congregação de sinergias. Contudo, vejo demasiada passividade dos que por cá habitam e detêm o pode local. Espera-se sempre por projetos vindos de fora, tipo pronto a comer, para implementar na região.
EliminarQuanto ao poema, surge num momento em que a albufeira já cobriu parte da paisagem que a foto testemunha. Terá presença apenas na memória dos que tiveram o privilégio de a reter.
Obrigada, amiga. Bjo
Odete, minha amiga
ResponderEliminar"aqui estou!" ainda descosido nesta dor de alma de nossa "interioridade" e do modelo de desenvolvimento que a determina.
antes da linha do Tua a linha do Sabor. e, depois da linha do Tua, a linha do Côrgo, assim se fechando um ciclo, com o "esplendor" do alcatrão e todas as suas sequelas (ambientais e outras bem conhecidas) e para as quais alguns em devido tempo se insurgiram
"pouca terra, pouca terra" até que a Terra seja!
belo e generoso teu poema.
beijo
Obrigada pela tua generosidade, Manuel.
EliminarEstamos entendidos quanto ao modelo de desenvolvimento que determina o território, não só o das regiões mais deprimidas. Será, até, mais correto dizer que não há sequer modelo nenhum. A haver, chegam cá através de diretivas comunitárias. Não quero com isto dizer que seja contra a União Europeia. O que me incomoda é não haver estratégia nacional e, partindo dela, entrosar-se com as diretivas europeias. Não há antecipação ou, se a há, capitula-se perante interesses outros que não o das pessoas. Mas, atenção, sou leiga nestas matérias!
Por cá, a "estratégia de desenvolvimento" assenta na candidatura aos fundos comunitários. E já não é mau!
(Quando teremos Terra?)
Bj, amigo
Poema belíssimo e comovente, numa viagem em que a natureza e a
ResponderEliminarhistória sempre perdem para a ganância e ou descaso do homem
"vestido de progresso", aniquilam todo um belo percurso como
a Linha do Tua.
Aqui no meu País é uma tristeza profunda com todo tipo de
destruição da natureza, da história e das culturas.
A nossa Amazônia e a cultura Indígena, total abuso
em devastar cada vez mais a natureza e Amazônia que
é o (pulmão) oxigênio do planeta...
Acompanho a tua escrita e uma preocupação com a nossa mãe
natureza, que sintonizo contigo sempre neste grito de alerta, amiga!
Bjos.
Querida amiga: penso que deves ter visualizado o percurso, na net, da Linha do Tua. É mesmo inigualável, pela beleza e pela dureza com que esta linha logrou chegar até Mirandela. Eu, apesar de tudo, tive o privilégio de o fazer inúmeras vezes.
EliminarAcompanho, de um modo geral, os crimes de lesa-pátria que são cometidos na Amazónia. E parece não haver solução à vista!
Todos somos Terra, como já escrevi num poema. E, como tal, é o todo vivente que fica doente.
Sim, estamos em sintonia, neste grito!
Obrigada. BJO
Olá Odete!
ResponderEliminarImenso é o teu poema, que denota uma saudade latente de tempos idos...
Nunca viajei nessa linha, mas talvez pelas mesmas razões que tu , viajava pela que unia Faro a Lisboa, ou melhor, nessa altura , Faro ao Barreiro, pois o resto do percurso era feito de barco.
É pena que neste País, não se valorize a preservação da natureza e se destrua tanto em detrimento de outros valores...
Beijinho...
Adorei este teu Grande Poema!!!
Obrigada, Cristina.
EliminarHá espaços que nos são vida. E percebeste-o bem!
Bjinho :)
Há coisas incompreensíveis e o possível desaparecimento desta linha é uma delas a linha percorre um vale de uma grande beleza, correndo a linha, lado a lado com o rio permitindo visualizar paisagens magnificas. Oxalá que seja possível aproveitar todo o potencial do vale sem destruir esta emblemática linha do TUA.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar || Dedais de Francisco e Idalisa || Livros-Autografados
Não, Francisco, é mesmo irreversível.
EliminarSe quiseres podes ler este artigo: https://www.publico.pt/2016/10/15/economia/noticia/barragem-do-tua-ja-encheu-mas-contrapartidas-para-a-regiao-ainda-andam-no-ar-1747575
A verdade é que se verifica muita inércia nos detentores do poder local dos vários concelhos relativamente às contrapartidas. Se antes da barragem não houve visão, agora, apesar da virtude de alguns projetos, pouco ou nada se avança, quer a nível turístico, quer (e principalmente) na questão da mobilidade das populações.
E muito mais poderia acrescentar mas fico-me por aqui.
Bjinho
Andei muito de comboio, mas nunca na linha do Tua.
ResponderEliminarMas quando era rapaz ouvia falar nessa emblemática linha.
O poema é excelente, e constitui um registo para memória futura.
Pena é que a rentabilidade material se sobreponha à rentabilidade social e cultural. Se bem que essa linha até poderia ser um bom filão turístico.
Bom fim de semana, amiga Odete.
Beijo.
Obrigada, Jaime.
EliminarSe quiseres, para teres uma ideia dos projetos poderás ler este artigo
https://www.publico.pt/2016/10/15/economia/noticia/barragem-do-tua-ja-encheu-mas-contrapartidas-para-a-regiao-ainda-andam-no-ar-1747575
Bjinho
Querida Odete
ResponderEliminarTive a oportunidade, no ano passado, de fazer parte de um grupo interessado em percorrer, virtualmente, todo o traçado das linhas dos caminhos de ferro, de norte a sul do país assinalando e reflectindo sobre as linhas extintas, as falhas e falta de visão dessas decisões e as consequências graves disso a nível sócio-cultural e económico.
Detivemo-nos demoradamente na Linha do Tua e aí conseguimos ver as incongruências que nos perseguem quando se trata de preservar o que é nosso, o que deveria manter-se para o nosso bem e para o bem dos nossos vindouros.
O teu poema dá-nos conta dessa tristeza toda, de espaços e sítios que vão desaparecendo talvez por incúria e falta de planeamento atempado e interessado.
Desejo-te um bom fim de semana. Beijinhos ao teu netinho :)
Olinda
Retive esse teu conhecimento, aquando dum comentário teu numa partilha. Neste, deste cabal esclarecimento sobre a tua visão. Os comentários que me têm deixado a partir do poema, levou-me a visualizar vários vídeos que estão no youtube. Adensaram a minha tristeza, perante depoimentos recolhidos pelas gentes afetadas. Apesar de tudo, a EDP considerou o estudo ambiental e decidiu pela cota mínima, 170 metros. Costuma-se dizer, do mal o menos...
EliminarObrigada, Olinda, pelo teu testemunho.
Bjinho
(O Ivo está lindíssimo e com um ótimo peso)
Estava a ler o teu poema, Odete e a lembrar-me do passeio lindo que fiz no comboio Tua-Mirandela. Foi maravilhoso! Fico muito triste pelo desaparecimento da linha. Em nome do progresso?
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo, minha Amiga.
Ainda bem que tiveste esse privilégio, Graça.
EliminarGostei de saber.
Bjo grato :)
Boa noite, Odete.
ResponderEliminarSempre intensa em teus escritos.
Por mais que uma história fique submersa e sem aplausos,como escreveu,novas histórias nascerão com linhas fortes a coser o meio com força para não haver um fim.
Parabéns.
Tenha uma excelente semana.
Beijos na alma.
Obrigada pela tua presença, sempre gentil.
EliminarBjinho, Patricia :)
Ai, amiga, realmente o dito progresso , por vezes, destrói coisas muito belas , insubstituíveis.
ResponderEliminarSerá que vale mesmo a pena ?...
Gostei imenso do teu poema
Beijinhos carnavalescos
Só o tempo o dirá!
EliminarBjinho, São :)
Olá, Odete, lindo, mas triste teu poema. Li vários comentários para me situar do que fizeram, dos estragos que ficaram... E entendi, mas o homem é assim, amiga, destrói tudo que possa a vir lhe dar vantagens, mas a natureza não chora, ela se vinga! Aqui, é triste o que fazem.
ResponderEliminarUm beijo, querida. Uma boa semana.
Obrigada pelo teu interesse na questão que bordou o meu poema, assim como pelo poema em si.
EliminarBjinho, querida Tais :)
Puxa! Como escreva lindamente.
ResponderEliminarObrigada pela partilha aqui.
Beijinho
Primeiro , o teu poema entranha - se numa imaginária reconstituição da viagem riba acima . Depois , a tristeza como tudo o que morre ! Não dá lucro , dirão . Mas , e o espírito da natureza que respira em nós , onde fica ?
ResponderEliminarE com tudo o que vai desaparecendo , tam bem um pouco de nós se vai desmoronando . Poema e mensagem tão belos !
Abraço , Odete .