É sempre uma festa, o dia de uma colectividade. Mais um aniversário, um pretexto para se comemorar a longevidade, a memória dos que a foram tornando grande, os actores que lhe conferem a sua essência, lembrando quão importante é o seu desempenho, levando longe o nome da sua terra...
Os discursos da praxe são, frequentemente, laudatórios, para quem as apoia e mimam-se uns aos outros, os seus dirigentes. Afinal, bem merecem que, pelo menos um dia em cada ano, proclamem os seus feitos (pois de feitos se trata, não como os que Camões enaltece nos Lusíadas): há carolice, há um não sei quê de auto-motivação, talvez um desígnio pessoal, para que a "sua" colectividade se projecte no meio, na região, no país, vá lá, no mundo, pelo menos, lusófono.
Aprecio estar presente no dia da colectividade: geralmente a cerimónia religiosa, embora, por vezes, com escassa assembleia, toca-me. Evoco, sem que seja um exercício muito consciente, pessoas, momentos, associo inúmeros factos e os olhos tornam-se transparentes. Sinto a intensidade dos cânticos. O Pai-Nosso tocado por instrumentos de uma banda e cantado por vozes ainda imberbes, é algo de muito especial. Une as almas, não os corpos, não as ideias, certamente. Mas une. Somos todos iguais. Somos mortais. Parece estar mais presente a condição humana. Ao ter presente a longevidade da colectividade, mais tomo consciência da brevidade terrena. Não devíamos, portanto, nesta linha de raciocínio, tornar as nossas acções ainda mais profícuas? Afinal não podemos perder tempo. É tão curta a nossa passagem!!!
Mas, senhores, o repasto, mais ou menos variado, mas sempre bom pelo convívio, depressa faz esquecer essa passagem. Afinal, rimos, partilhamos, somos apenas corpo. Esquecemos a essência, passamos à substância. Para o ano haverá mais e tenho a certeza que lá estarei. Ainda é cedo para pensar que estou de passagem. Sinto-me tão viva! Quero estar entre gente que dá vida, de forma tão natural como o pão nosso que comemos cada dia!
Parabéns à Associação de Socorros Mútuos Mirandelense!
Precisamos de laços e memórias. A nossa teia de relações e recordações faz de nós o que somos. Também não posso, nem quero, viver uma vida autista. Viveria sem saber o porquê do sorriso, do choro, da maravilha ou da felicidade... e eu quero continuar a viver!
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