Obra de Edvard Munch
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Podes sair. Fico bem…
Ausência
conformada num tempo que assaltava o seu pensamento e a esvaziava do
discernimento de que não podia prescindir. Libertava os vapores dos sonhos que
alimentava mas o vulcão permanecia inativo. A mente fazia um caminho sem chão,
emocional, mas teimava em avivar circunstâncias alheias. Aliás, fazia-as
presentes, troçando dos gestos que tentavam impermeabilizar as vozes. Mas os
sons já a habitavam. Impossível ordenar ordem de despejo a vozes de um além que
nada tinha de misterioso.
E
assim ia coabitando, sabendo que, dificilmente, se libertaria de uma ausência
desejada.
-
(…) – resmungou um até logo, em surdina.
Todas
as vozes eram silêncio. Uma mudez que se instalou porque acatou regras
passivamente. Deram-lhe ordem de prisão. E não se rebelou.
Afinal
tinha toda a liberdade delimitada por grades. E (sobre)vivia.
(…)
“Perfeito!
Vamos passar à cena seguinte”. Ouviu, mas, curiosamente não se mexeu…
Odete Ferreira – 31-08-2014
Prisioneiros do silêncio
ResponderEliminarNunca se deve aceitar passivamente regras, geralmente resulta mal...
ResponderEliminarMinha amiga, bons sonhos : )
Como te entendo, minha amiga!
ResponderEliminarO silêncio que a mente busca para chegar ao âmago do teu raciocínio. E o barulho continua...
Também sabemos que não conseguimos libertar-nos de ausências desejadas. Maravilhosa imagem!
Parabéns, Odete.
Beijinho.
Muito denso e profundo. Uma mulher que se deixou enredar numa relação que aprisionou todos os seus sonhos.
ResponderEliminarHá mulheres que não têm disso consciência, mas ela tem. Embora não consiga libertar-se dessa mudez e das grades que a delimitam e limitam.
Espero ter acertado na interpretação. Se não, pelo menos foi a minha leitura. :-)
Escrita de excelência, e um quadro muito apropriado.
xx
Olá, quando eu não sou eu e você não é você, estamos perante o silencio da solidão.
ResponderEliminarAG
Lindo o título...
ResponderEliminarFiquei impressionada com a profundidade do texto, o drama do
personagem e fui capturada pela narrativa. A personagem (mulher)
internamente tinha o seu barulho existencial num caminho
de palavras silenciadas conforme as regras, que não ousava
contrariar e sobrevivia no silêncio da cada dia de
sonhos adormecidos...
Gostei imenso,amiga!!
Bjo.
Um passagem em busca da liberdade, ou da utópica liberdade! abraços
ResponderEliminarAs maiores prisões são as que criamos ao redor dos nossos ideais.
ResponderEliminarEssa mulher, é refem dos caminhos sem chão. que ela insiste em percorrer...
ResponderEliminarProfundo e real, Odete. Lindo!
Beijos!
A vida não é peça teatral, embora, alguma vezes, os comportamentos se assemelhem aos dos textos ensaiados. Talvez ela não tenha se mexido porque ainda estava com os pensamentos voltados, não para o papel que representava, mas para a realidade de seu próprio conformismo e de sua prisão. Algum delas nem portas têm. Quando caíram, os sonhos não mais existiam e a capacidade para o voo se extinguira.É sempre um prazer ler o que escreve. Aos poucos, vou fazendo minhas visitas e agradecendo o carinho recebido. Ainda não estou animada para voltar aos meus espaços (rss). Grande beijo!
ResponderEliminarOdete , seu texto é tão bonito como a tela que faz pano de fundo .
ResponderEliminarHá silêncios permitidos na ilusão que , assim , a solidão será afastada .
Agradeço a partilha e as visitas carinhosas ao meu espaço .
Soube , através de seu comentário , que também é de fevereiro e , aproveito para parabenizá-la . Beijos e boa semana
O que nos habita, forjado em memórias e olhares, construção mil vezes ensaiada, mas que, em muitas circunstâncias, nos tolhe os movimentos...
ResponderEliminarUm beijo, Odete! :)
Um texto maravilhoso que nos deixa naquele silêncio tão propício à reflexão e onde as palavras sobram sempre...
ResponderEliminarUm beijo, amiga.
Oi, Odete!
ResponderEliminarQuando o personagem se comunica com o ator, esse não se liberta e passam a viver em simbiose. Para que isso não aconteça, o ator tem que se esvaziar de si mesmo para receber de uma esfera superior, o ser da arte. No entanto, na vida real, muitos de nós não estamos treinados e quando o personagem toma conta do ser, ele adentra a alma e não sai mais. Por isso muitas vidas paralelas, o pensamento de que a vida que se vive não é aquela que sente e partilha com as pessoas. É preciso aprender a deixar de representar e deixar que os dias façam barulhos.
Boa semana!
Beijus,
A realidade é a melhor das ficções...
ResponderEliminarNeste silêncio onde apenas ouço o barulho das teclas, reli os comentários que me deixastes. Pertinentes, acrescentando brilho ao olhar mortiço da personagem... Imensamente grata, deixo-vos com o meu sorriso :)
Os silêncios apenas incomodam (muito) quando são solidão. Doutro modo deixam-nos "tempo" para olhar-mos por dentro de nós.
ResponderEliminarGostei.
Beijo
SOL