domingo, 15 de fevereiro de 2015

Relações e ralações


A minha relação com os domingos sempre foi complicada. E continua. É um dia impertinente que me provoca um mal-estar que varia conforme os momentos. Até tenho mais cuidado na escolha do vestuário, geralmente permito-me saborear um docinho e o silêncio que me leva a memórias, são, indubitavelmente, momentos de bem-querença.
No tempo do cumprimento de um horário de trabalho, a relação ficava mesmo feia! Atualmente, não me zango, desespero com a lentidão das horas, com o sossego das gentes preguiçando e o vaivém do tráfego automóvel. Alguma inveja, confesso, num agosto em que imagino um destino a saber a férias. Ainda não desintoxiquei desse antecipado prazer. Somos assim: uma mente aditiva. Por muito tempo, tenho a certeza que ligarei este mês a um longo ciclo da minha vida. Fazer férias, no sentido de conhecer outras paragens, num outro mês do ano, será então o momento da assunção da minha nova condição.
Atento nos cartazes colados no vidro do café. Festas e mais festas. Pelo menos, estreitam-se laços afetivos entre famílias desencontradas no espaço, e, em outras, ganha-se o pão para o resto do ano.
Tenho de rever esta minha relação com os domingos! Ai se tenho! Não faz sentido esta ralação, soando a menina que faz birra no final do dia por não poder saltar um deles…

Odete Ferreira – 17-08-2014
Relações e ralações 2

Este “ter de” tem andado a imiscuir-se nos meus monólogos. Talvez devesse dizer conversas mas, se tudo ocorre dentro do eu, por  que não monólogos?
“Afinal que motivo há para manteres uma relação latente de conflito com os domingos?"
Pergunta insistente, teimosa e indiscreta sempre que abria a janela e o sol me fazia sentir o seu afago na clandestinidade. Mas o raio da pergunta intrometia-se. De nada valia procrastinar o assunto.
E tenho vindo a deitar-me no sofá do melhor analista – que sou eu, claro!
“As circunstâncias podem ser vistas por vários ângulos - segreda-me o sofá - é uma questão de direção…”
E foi assim, tão simples: levei a máquina à revisão, alinharam-me a direção e lá voltei à estrada num domingo particularmente amistoso.
Afinal não há desavenças definitivas, nem verdades indiscutíveis; tampouco ralações indecifráveis.
“Sim, é uma questão de direção…”. Lembrei-me do meu querido Calimero mas, desta vez, sorri. Estuguei o passo em direção ao carro. Caía uma chuva miudinha e não trouxera guarda-chuva.

Odete Ferreira - 08-02-15
Obra de Enrique Monraz

40 comentários:

  1. Sua escrita é leve, gostosa de se ler! Como uma chuva miudinha, abração

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  2. Olá Odete,
    Interessante essa sua relação com o domingo, porque eu - ai de mim! - de certa forma também tenho uma relação não muito apaixonante com o dito. Não é sempre, mas quase sempre. Sempre acreditei, até mais para desculpá-lo a ele, que a culpa do mal-estar se devesse a minha pessoa, dada às esquisitices e com a mania de virar sempre pela rua preterida pelos demais, mas afinal, há mais quem não se entenda tão na perfeição com o domingo, que cá entre nós, tem tanto a mania de armar-se em festeiro, como se fosse sempre solarengo, menos em dias nublados...

    Um bj amg e boa semana ;)

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    1. Ao tempo que desejava publicar o primeiro texto! Como fui adiando, por umas ou outras razões e como, de facto, a minha relação com o dito foi mudando, havia que lhe dar um epílogo. Contudo, ainda há amuos, de vez em quando. :)
      Achei engraçado haver, afinal, tanta gente com este sentir.
      Obg, Carmen, pelo comentário interessante e pincelado de humor. :)

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  3. Perdão, Odete,
    pretendia dizer: "mesmo em dias nublados"

    bj

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  4. O Domingo , para mim, já não tem grande importância, mas quando trabalhava era um dia um pouco estranho .

    nem era nem deixava de ser ...

    Por isso, gostei muito de ler este teu interessante texto

    Abraços , amiga

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    1. Quando trabalhava, era mesmo desastroso, São :)
      Agora, parece-me importante ter o FDS demarcado do resto da semana. Doutro modo, todos os dias são iguais e eu não quero.
      Bjo :)

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  5. Adorei ler um tipo de reflexão com a qual me identifiquei. Também para mim, o domingo é quase sempre um dia impertinente, já geralmente é um dia em que a pertinência tira folga. Se por um lado pode inspirar paz e um olhar mais directo sobre nós, por outro lado parece que nada é urgente, o que pode fazer resvalar para a preguiça. No entanto, num domingo de Agosto, a "ralação" ficaria logo resolvida com uma ida à praia, com o mar aqui a dois passos...:-)
    Num domingo de Inverno tenho tendência a ler mais, e a preguiçar, a hibernar, até!
    Ou como dizes no 2º texto, alinhar a direcção, independentemente de sol ou chuva, e atacar a estrada.
    Uma boa relação entre os dois textos. A questão e a sua solução.
    Boa semana, Odete!
    xx

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    1. Foi bom ter divulgado este escrito. Apetecia-me, mas nem sequer imaginava que houvesse pessoas com este tipo de "relação/ralação".
      Aprecio mais os domingos, presentemente. Mas também já estou na fase do encantamento comigo própria!
      Obg pela tua análise e apreciação, Laura.
      Bjo :)

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    2. Eu adorei os textos, simples mas muito pertinentes.
      Às vezes precisamos de tempo para olhar para nós e descobrirmos como somos encantadoras. ;-))
      xx

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  6. Adorei este post pela singularidade e criatividade... e julgo, sinceridade!

    Um beijo amigo

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    1. Sim, este é um escrito sincero. Questionei-me muito sobre "relação" ao longo de anos. Um dia, escrevi...
      Obg, Daniel. Bjo :)

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  7. Muito interessante os textos e esta relação "desamorosa" com os domingos. Isso passa, digo eu. "Afinal não há desavenças definitivas, nem verdades indiscutíveis; tampouco ralações indecifráveis."
    Beijo, amiga.

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    1. Tens razão Graça, não há mal que sempre dure nem bem que não acabe, diz-se. E esta "relação" tem vindo a mudar, para melhor :)
      Obg, bjo :)

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  8. Pior de tudo, querida amiga - é quando já não damos conta que é Domingo. É quando já nos é indiferente tal consciência, quando essa rotina de estarmos no tempo vai ficando intemporal sem os contornos definidos da nossa própria existência para passarmos a ser depósitos de meras recordações. Gostei do teu texto - várias vezes tenho esse sentimento - essa má relação com os Domingos.
    Bjos

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    1. Como já disse ali em cima, quero ter o FDS demarcado. Talvez porque, no fundo, me pareça que não distinguir os dias é mau sinal. E tu acabas de mo confirmar no teu comentário. Grata por teres vindo a esta postagem. Foi mesmo importante!
      Bjo, amigo Hélder :)

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  9. Improváveis somos todos nós
    um rio com duas margens
    firmes na espuma das águas
    quando um belo barco passa
    por uma nrsga de sol

    Bj

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    1. Mas na improbabilidade que haja algo com certezas...
      Bjo, Mar :)

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  10. Olá Odete!

    Pela primeira vez cheguei a este espaço, e talvez não fosse por acaso.
    Primeiro que tudo os meus Parabéns pela criatividade e pela expressividade da escrita.
    Também eu, não me relaciono bem com os domingos, e, talvez este desamor já tivesse passado, não fosse eu arranjar sempre situações, para me zangar com este dia da semana.
    Há uma melancolia escondida no subconsciente, já com muitos anos de vida,que me faz olhar para este dia, com uma certa dose de inquietação. Isto confessou-me o meu sofá, e eu acreditei....
    Beijinho meu....vou adicionar-me aos seguidores...:)

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    1. Obg por aqui chegares, Cristina, e pela avaliação que fazes deste meu cantinho. Em breve irei conhecer também o teu.
      Um conselho: ficarás bem melhor se fizeres algo para que a tua "relação" melhore; não "percas" domingos, olha que a vida é curta...
      Bjo, Cristina :)

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  11. A minha relação com os domingos tem variado ao longo do tempo. E nunca tive grandes ralações com o dia. Mas ir para a estrada nunca foi coisa que me seduzisse...
    Uma reflexão interessante. A última que tinha lido foi uma qualquer canção, que já nem me lembro de quem, que dizia +/- "o que vou fazer no domingo à tarde?"...
    Bom resto de semana, querida amiga Odete.
    Beijo.

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    1. Pois, Nilson, essa do domingo à tarde foi bem oportuna, É da minha lembrança - Nelson Ned. De facto, de tarde a relação ficava mesmo feia :)
      Ainda bem que não "perdeste" domingos!
      Obg, amigo :)

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  12. Bom dia, a relação domingueiro deve de ser criativa sem a planear, isto é, sair de casa sem rumo, assim, algo vai acontecer de agradável.
    AG

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    1. Tens toda a razão, AG! Mas nunca fiz isso :(
      Agora parece-me tarde, mas também já fiz as pazes :)
      Bjo

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  13. Mais uns tempos e deixarás de sentir quando é Domingo... ou outro dia qualquer.
    Acho que passei essas fases, que, na altuira, não me perturbaram o sono.
    Bons textos, inicial e complementar.
    Apreciei.


    Beijo


    SOL

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    1. Mas é isso que não quero, Sol. Talvez seja por isso que acabei com a ralação. Não perturbou o sono, mas não vivi como deveria ter vivido este dia da semana.
      Obg. Bjo, amigo :)

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  14. As minhas primeiras palavras são para agradecer a presença na “festa de aniversário” da minha «CASA». Obrigada!
    As tuas palavras comoveram-me, acredita.
    Mas... adiante :)
    A tua prosa iguala a tua poesia em qualidade, cuja fasquia é bastante alta para ambas.
    Concordo. O Domingo é um dia impertinente.
    Quando eu trabalhava - fora de casa! - o Domingo já anunciava a Segunda-Feira e o regresso ao frenesim de horários a cumprir, etc., etc.. Não é que eu não gostasse do trabalho, mas os fins de semana eram tão curtinhos...
    Agora, que só trabalho dentro de casa :) normalmente passo o dia na casa da filhota, e quando o Domingo chega ao fim... regresso ao lar, sozinha.
    É claro que "não há bem que sempre dure nem mal que não acabe", mas... no meu caso não sei se será uma questão de direcção...

    Até sempre, querida.

    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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    1. Eis o ponto, Mariazita "quando trabalhava"... Logo era segunda-feira... Ainda vou a tempo, visto estarem feitas as pazes! :)
      E tu também encontrarás uma direção, uma forma de gerires esse "regresso ao lar sozinha"; pelo menos assim o desejo!
      Obg, querida :)

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  15. Apesar de não ter Domingos a não ser no calendário, pois para mim são dias complicados, trabalhosos e sempre cansativos, compreendo e até reconheço nas tuas palavras pensamentos que já foram meus.
    Dá para ler, reler e reflectir. Gostei, como sempre gosto :)
    Beijos

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    1. A relação com os domingos depende, essencialmente, da vida que cada um/a tem. E, sendo dias de trabalho, nem sequer há tempo para questionar "a relação" :) :)
      Obg. Bjo, querida D

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  16. Odete , os textos me agradam como sempre . Eu , particularmente , gosto dos domingos . Nasci num deles e minha filha também . Quando tinha os filhos pequenos era nos domingos que reuníamos toda a família ; com os avós , tios e primos deles . Tenho saudades . Belos tempos . Bons domingos . Beijos e ótima semana .

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    1. Aí está, Marisa: nesse caso a relação com os domingos só pode ser de amor e não admira que tenhas saudades.
      Obg. Bjo, querida :)

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  17. Gostei muito, Odete, adorei cada frase desse texto.
    Então, tenha um ótimo domingo amanhã rs.
    Beijos!

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    1. Obg, amiga Shirley :)
      Como já fiz as pazes, os domingos passaram a ser agradáveis. :)
      Bjo, querida :)

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  18. Gostei desta reflexão e, principalmente da forma como vais infletindo a tua animosidade com o domingo. Um dia que sempre me permitiu descontrair um bocado e saborear o convívio. Até a palavra domingo me parece vestida de flores. Tem, em contrapartida, aquela peso de termos de preparar a semana, mas nada é perfeito.
    Parabéns, Odete. Muito bom! Bjuzz
    Beijinhos e parabéns.

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    1. A inflexão teria mesmo que acontecer, mais dia menos dia. Estava (a má relação) condenada a ser uma guerra perdida ! :)
      Agora, nem quero mesmo "preparar" a semana. Faço o essencial. :)
      Obg, querida Teresa. Bjo :)

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  19. Olá AMIGA:
    Vamos lá ser domingueiros.
    Calçar ténis, vestir fato de treino, despojar-nos de objetos que nos determinem horas, entregando-nos há mãe natura.
    Caso de todo for impossível cumprir este roteiro, há sempre um sofá a nossa espera e umas pipocas para acompanhar uma boa matiné.
    Viva a preguiça!
    Já estou a bocejar!
    Ó domingo ao quanto obrigas lol.
    É pa, já esquecia, um grande dia para portar mal!

    JINHOS

    Odete, desculpa lá, mas não sei se já te disse do nascimento do meu novo blog
    RASGAR O SILÊNCIO
    Tadinho ainda é bebé! Lol.
    Como tu tens tido a grande pachorra de aturares os meus escritos és minha convidada.

    http://rasgarosilencio.blogspot.pt/

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    1. Sorrio, Diogo! O que é preciso, de facto, é estar ativo para viver o domingo, seja de que forma for. Aqui para nós: as mulheres não conseguem preguiçar assim tanto, mas, pronto, vai-se fazendo o que se pode...
      Ainda não sabia do teu novo blogue. Vou visitá-lo, sim.
      (E olha que não aturo ninguém, vou por prazer sempre que o tempo me permite.)
      Bjo, amigo :)

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  20. Boa tarde, agradeço a sua visita e o simpático comentário no meu blog, votos de um resto fim de semana excelente.
    AG

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    1. Nada de agradecimentos. O que escrevo como comentário nos blogues é sempre o meu sentir perante a postagem...
      Bjo, AG :)

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