quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ainda agora era frémito


Obra de Christian Schloe

Ainda agora era frémito
e os contornos das coisas
possuíam-me por inteiro.

Tinha cor o beijo roubado,
de mansinho,
Tinha cheiro o gesto atrevido,
de pertinho.
E o frémito era arrepio.

Eram longos os momentos de presença,
vivazes as sombras de ausência.
No olhar, tudo a ser
a ficar, a de-morar
em mim.
E no banco do jardim,
pela tardinha.

Não fugia o tempo, nem o espaço.
Nem as coisas, nem as gentes.
Nem as encostas, nem as correntes.
Placidamente, acontecia,
entre frémitos de ousadia.

Quando, pela noitinha, dos contornos das coisas,
nada souber dizer,
sei, morreu-me o frémito. De saudade.

OF (Odete Ferreira) – 01-02-17

19 comentários:

  1. Um poema muito bonito. D saudade, do que fomos e vivemos se compõe parte da nossa existência.
    Conseguiu resolver o problema?
    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. A nossa vida é composta por várias etapas e há que saber viver com elas.
    Magnifico poema, gostei bastante.
    Um abraço e boa semana.
    Andarilhar || Dedais de Francisco e Idalisa || Livros-Autografados

    ResponderEliminar
  3. Eram longos os momentos de presença,
    vivazes as sombras de ausência.


    Carregamos ano após anos, felizes saudades, ainda bem que persistem na lembrança.

    Beijo, amiga, bons dias!

    ResponderEliminar
  4. frémito(s) a vibrar (ainda).
    toada de uma música íntima, como murmúrio de nascentes
    que não se podem calar.

    belo e suave, com um gostinho agridoce.

    gostei muito, Odete

    beijo, minha amiga

    ResponderEliminar
  5. Boa tarde, ter saudades é bom, é sinonimo que não se é vazio de sentimentos, o passado contribuiu para o crescimento num todo, o poema é belo e a pintura também.
    AG

    ResponderEliminar
  6. Inesquecíveis são os frémitos de emoção avassaladora,
    emoções intensas e perenemente gravadas nos sentires
    mais íntimos e profundos...
    Belíssimo poema, Odete, sobre um tema no qual todos
    nos identificamos.
    Dias felizes, querida amiga.
    Terno abraço.
    ~~~~~~~

    ResponderEliminar
  7. Por vezes, a saudade faz que não vivamos as emoções com a intensidade habitual. Mas o arrepio sempre volta... é uma questão de tempo...
    Excelente poema. Como sempre, aliás. Também gostei da imagem usada.
    Bom fim de semana, amiga Odete.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  8. O que fomos, o que fizemos, o que ficou por fazer...
    Assim é a vida, Odete. Mas, permite-me, não há ainda tanto por fazer, para lá daquilo que foi? Eu sei que tu sabes, a vida não escarnece de ti.
    (Como vai o Ivo?)

    Um beijinho :)

    ResponderEliminar
  9. Poema belíssimo, o corpo das palavras que viajam em sentires, desejos e
    num romântico clima de gestos, numa entrega ousada na delicadeza
    poética, que se inscreve no corpo e na alma...
    Uma inspiração única (a tua) que harmonizou com a beleza da
    imagem escolhida.
    Apreciei muito!!
    Bjos, querida.

    ResponderEliminar
  10. Lindíssimo este teu poema, Odete. Penso que nos sentimos descritos através das tuas palavras. O frémito, ainda que continue a existir, já é outro. É como diz o Poeta:

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
    Muda-se o ser, muda-se a confiança:
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades. (...)

    E, é verdade, as coisas vão mudando e tomando novas qualidades. Por vezes, temos saudades, vemos as diferenças que não nos agradam, mas depois também vemos que aparecem outras que nos compensam da intensidade (do frémito) perdida.

    Desejo-te um bom fim de semana, minha amiga. Olha, segui o caminho para vir ao teu blogue sem grandes desvios e funcionou. Obrigada.

    Beijinhos

    Olinda

    ResponderEliminar
  11. Odete , um poema belíssimo . Obrigada por partilhá-lo . Quanto ao caminho até seu blog , não tenho encontrado dificuldade pois clico no link dele . Bom domingo e lembranças carinhosas ao Ivo . Beijos , amiga .

    ResponderEliminar
  12. O contorno das coisas a possuir-te por inteiro e as emoções a estremecerem nos sentidos... Magnífico poema, Odete, onde é quase íntima cada palavra que escreves. Parabéns.
    Uma boa semana.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  13. OI ODETE!
    CONSEGUI CHEGAR AQUI SEM PROBLEMAS, PARTINDO DE TEU COMENTÁRIO LÁ NO SÓ PRA DIZER.
    UM DEVANEIO LINDO DE SENTIMENTOS QUE JÁ FORAM TEUS E QUE AGORA PERTENCEM A SAUDADE.
    LINDO AMIGA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
  14. Grato estou pelos comentários gentilmente expressos no meu Mundo.
    "Agora ainda o frémito"...
    Eu sentado na estação ou eu (ainda) no comboio das emoções que rola imparável nos carris da vida. Numa situação ou noutra, a poesia da Odete cumpre o frémito que nos atravessa tumultuosa ou serenamente, humanos que somos.
    Uma poesia delicada, feita do sentir duma alma que vibra no carril da vida.
    Senti e gostei.
    Bj.

    ResponderEliminar
  15. Morreu o frémito... mas vai renascer, de certeza!
    Um poema muito belo, intimista, duma tão grande leveza que quase não se sente...mas faz mossa...
    A imagem é linda. Gosto muito das imagens de Christian Schloe. Tem algumas fabulosas!

    Grata pelas tuas palavras de carinho no Aniversário do meu blog.

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

    ResponderEliminar
  16. Boa noite!
    Gostei do seu muito bem concebido poema.
    Bjjjsss!

    ResponderEliminar
  17. Belo poema...Espectacular....
    Cumprimentos

    ResponderEliminar