sexta-feira, 24 de março de 2017

Sei do tempo


Sei do tempo pelos rebentos das pedras virgens
e pelos recortes do sol na geometria das traseiras,
redesenhando os canteiros fecundados
em outro tempo de que nada sei.
O que em mim é mistério
revela-se nas coisas simples
e no mundo que invento
pelo olhar de dentro.

Verde, tão verde, é então a cor das palavras.
E o rio, que me lava a alma, toma a cor dos meus olhos.

Silencia-me o canto da terra a subir o tom,
rasga-me o ventre o fruto a fazer-se,
chora-me o orvalho na pétala de cada evocação,
quando este tempo se declara em exuberante paixão.

É estreito o gesto de abrir a janela
e trôpego o passo estremunhado.
Batem asas os pássaros dormidos nos cepos,
que foram árvores encorpadas e desmesuradas
no orgulho de tocarem o céu. Que hoje esverdeou.

Sei do tempo pelo povoamento do pátio das traseiras.
E pelo desordenamento que traz a primavera.


OF (Odete Ferreira) - 22-03-17
Obra de Vladimir Kush

22 comentários:

  1. Um poema lindíssimo, Odete. Quem me dera saber do tempo assim.
    Um abraço e bom fim de semana

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  2. Sabes do tempo e da arte de poetar...
    Excelente poema, gostei imenso.
    Amiga Odete, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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  3. Que maravilha, Odete, pareces ter encontrado o equilíbrio natural das coisas!
    É sempre tão bom ler-te!

    Um beijinho :)

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  4. Que belo, Odete, tudo se encaixa. A obra de Vladimir é fantástica, também!
    O que em mim é mistério
    revela-se nas coisas simples
    e no mundo que invento
    pelo olhar de dentro.


    Beijo, querida, amiga, um ótimo fds.

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  5. Gostei.....muito.

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  6. sabes do tempo, sim, Odete

    pelo mistério das coisas simples
    e pelos relógios de sol, que habitam a tua alma de Poeta

    belíssimo

    beijo, minha amiga

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  7. Como é bom saber assim do tempo, um belíssimo poema minha amiga muito bem ilustrado pela obra de Vladimir Kush.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  8. Maravilhoso cântico à vida que o Tempo faz e desfaz... Os pequenos rituais não nos deixam esquecer e os dias e as coisas correm-nos na alma em sobressalto...
    Muito belo, Odete!
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  9. A complexidade do simples
    Excelente
    Bj

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  10. Um modo magnificamente elegante de saudar a primavera
    que embora tímida e trémula, cumpre o destino infalível
    da renovação.
    Amiga, dias verdes de esperança e contentamento.
    Abraço grande.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  11. Boa tarde, a cor das palavras criam o lindo poema, a primavera tarda em fazer-se sentir, de qual quer modo, é bela como o seu poema.
    AG

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  12. "Sei do tempo pelos rebentos das pedras virgens". amei... lindo

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  13. E tu sabes , querida Odete , do tempo da colheita das palavras quando elas te pedem para teres tempo de as desenrolar em cascata poética onde a primavera se senta ! Soberbo , amiga , soberbo !
    Assim o sorriso também pede tempo para saborear antes da partida !👏👏

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  14. Odete,
    Eu meio que me inspirei no teu excelente poema e cometi este duvidoso soneto.

    Eu e o tempo

    Não sei do tempo, este pra mim não se revela
    Porquanto ele, arrogante, sempre me ignora
    E os recortes de sol que vejo na janela
    Não serão marcações que definem a hora?

    Portanto sequer tenho um mundo, nem o invento
    Pois tudo para mim revela-se um mistério
    Duro como pedra, ou levado com o vento
    De modo a não mover o tempo de seu império.

    Com o tempo não tenho alguma intimidade
    Apenas ele manda, e humilde, obedeço
    Embora o universo lhe deva lealdade
    Porquanto nossa existência pague seu preço.

    Muito mais! O tempo é construtor de saudade!
    Mas etéreo, ninguém sabe seu endereço.

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  15. Gostei de reler o teu excelente poema.
    Bom resto de semana, amiga Odete.
    Beijo.

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  16. Cara Odete

    Embalada na beleza do teu poema que nos desvenda segredos de que se reveste a natureza em tempo de renovação, lembrei-me do meu pai quando olhava para o céu, perscrutando galáxias/constelações, procurando adivinhar se elas prenunciavam boas águas: A estrada de Santiago (Via Láctea) está gorda, bom sinal, ou, o círculo vermelho à volta da lua não traz nada de bom ou, há pássaros em revoada, vai levantar vento e a chuva vai cair no mar... Na maior parte das vezes acertava. Olhos que sabiam ler o que a natureza nos escondia. Sensibilidade e comunhão.

    Beijinhos

    Olinda

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  17. Boas vindas á Primavera que tarda em afirmar a sua personalidade.
    Poema delicioso e belo.
    Parabéns, Odete.

    Beijo
    SOL

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  18. Amiga,
    voltarei com tempo para comentar os dois poemas que já li e
    adorei!
    Beijinhos.

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  19. Poema simplesmente encantador, Odete!
    Beijão pra você e para o netinho!

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  20. essa é uma condução meio quadrimensional, perfurando a malha espaço-tempo e encontrando uma nova mecânica na poesia, namastê!

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  21. Que bom, chegar aqui e deixar-me envolver com a frescura e os aromas das tuas palavras...
    Gostei de saber do tempo que tu sabes...

    Beijinho afectuoso

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  22. Belíssimo!!

    Tu sabes dos tempos interiores que ficam na tua alma,
    a espelhar nos teus olhos, a Poesia viva e surpreendente...
    Eu de cá com os meus olhos agradeço mergulhar neste
    encanto de poema!
    Beijinho.

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