Ocorre-me que esta brisa
podia não ser ar em movimento.
Apenas a perceção de ondulação
nos elementos entelados
como hastes curvadas para o chão
que secou as raízes de vontades
e mesmo os ventos da mudança.
Pinturas. Estilizadas ou não.
Minimalistas. Mas em liberdade pinceladas.
Da boca caem palavras azedas.
Nos silvados não as colho,
dilaceram estes dedos enlutados.
Não os vejo, agrilhoados na prisão
de um ventre que já não
engravida filhos com sonhos.
Leda de tempos passados,
vividos nas asas dos pássaros
que sentia em ombros leves.
E partia. E voava.
E pregava nos amanheceres.
E atardava os entardeceres…
A memória é o que resta
da perceção de um eu.
Contudo serei sempre fiel
à História da verdade.
não a histórias de cordel.
Daquelas que continuam a contar,
toadas, em tempos de antena
fazendo do meu Abril
apenas uma farsa, uma data…
Já nem as telas são figurativas.
Os
cravos desbotados
partiram. Emigraram.
Fiquei eu e outros,
Pássaros de voos penhorados…
OF - 23-04-2014
Muito bonita a tua poesia em tempo de cravos !
ResponderEliminarBeijos, minha madrugadora :)
Olá Que linda linda poesia, de versos leves e musicais! abração
ResponderEliminarOs cravos não partiram, deixaram-nos murchar, mas a tua vontade ainda pode voar "nas asas dos pássaros
ResponderEliminarque sentia em ombros leves."
Lindo.
Beijo
Quem sonhou, acordou a ver os cravos murcharem presos em bandas de casacos coçados, outros, hipocritamente, a enfeitarem os mentideros da torpe política liquidatária da esperança da liberdade -do sonho da justiça, enjaulada em bonitos palácios. Ah! Abril dos cravos, quando chega a Primavera?
ResponderEliminarGostei do teu lindo poema
Um abraço
Hélder Gonçalves
Em MAIO
ResponderEliminarrecriar os cravos
Um poema muito eloquente em relação ao desbotar da cor dos cravos, da paciência e da esperança de um alvorecer tão prometedor, mas todo sonho de justiça social e igualdade ficaram por cumprir.
ResponderEliminarO 25 de Abril é hoje para muitos um dia sem significado algum.
Gostei muito do poema. Um pouco azedo porque muito realista.
xx
Minha querida
ResponderEliminarInfelizmente tudo morreu quase à nascença. Pouco ou nada resta dessa alegria que nos aqueceu o coração com a esperança de um novo tempo.
Um poema muito verdadeiro em cada palavra.
Um beijinho com carinho e bom fim de semana
Sonhadora
Finalmente alguém que sabe tratar esta data.
ResponderEliminarSomos pássaros penhorados e de que maneira.
Um poema digno de ser cantado.
Beijinhos
Bem, fiquei sem pio, Pérola...
EliminarSe souberes de alguém que o queira musical cedo os direitos de autor :)
BJO
Ocorre-me que este tempo enegreceu na cor esbatida de um cravo vermelho
ResponderEliminar"Ocorre-me que esta brisa
podia não ser ar em movimento.
Apenas a perceção de ondulação
nos elementos entelados
como hastes curvadas para o chão
que secou as raízes de vontades
e mesmo os ventos da mudança."
São livres as palavras, mas são amargas
Como um corpo caído em manifesto
"Da boca caem palavras azedas.
Nos silvados não as colho,
dilaceram estes dedos enlutados.
Não os vejo, agrilhoados na prisão"
Resta a memória sim
E a vontade
porque, na verdade, são ainda vermelhos os cravos
Gostei muito da força de um poema que é poema-canção.
Bjo amigo
Uma realidade tão triste que não tem ponta por onde se pegue
ResponderEliminarpara negar.
Teu lamento ecoa profundamente dentro de mim,pelo
muito que já ouvi,pelo que já vivi e pelo tudo que senti
e sinto.
De facto abril nunca mais será o mesmo
nem tão pouco os cravos.
E fica Gradôla Morena a morrer lentamente
nas vozes cansadas
E nas asas dos pássaros qe já não sabem para que céu voar.
Bisous querida Odete, que permaneça em nós
uma réstia de esperança.
Ler-te é sempre um prazer.
Nossa engasguei... quão palavras profundas minha amiga... Querida Odete venho te convidar a participar de mais uma Colcha de Retalhos de Amor em homenagem ao Dia das Mães. Aparece na Ilha e saberás :-) um enorme beijo no coração e porta-te mal neste domingo :-)
ResponderEliminar"fazendo do meu Abril
ResponderEliminarapenas uma farsa, uma data…"
Como eu te percebo.
As tuas palavras, como sempre, revelam o imenso talento que tens para as letras. Excelente, é o mínimo que posso dizer acerca deste maravilhoso poema.
Odete, querida amiga, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.
Oi, Odete!
ResponderEliminarUm poema muito bem situado!
Saber a verdade é para poucos e cultivá-la é o que nos mantém "livres" das mentiras da Historia.
Difícil destacar qualquer parte do poema, pois ele é todo muito bem dito e construído!
Beijus,
Querida Odete,
ResponderEliminarUm poema-canção belíssimo que toca profundamente no coração,
com o tom questionador da liberdade do voo, inscrito de história,
vivência e memória...
O voo precisa do alimento dos sonhos e é triste saber
que voar ficou cada vez mais raro...
Sei que a beleza da tua poética percorre o voo infinito do Ser e nos
possibilita voar neste infinito!
Beijos e abraço afetuoso na tua alma luminosa...
Os cravos têm-nos cravado a seu gosto.
ResponderEliminarTivemos Governo e substituiram-no pelo Poder.
Aqueles que não sabem o que é a Pátria, dificilmente se lembram do que é um POVO.
Um magnífico Poema de Intervenção, com todos os ingredientes.
Parabéns. Gostei.
Beijos
SOL
Ainda há quem voe
ResponderEliminarSabe Odete, ao ler cada estrofe imaginei ouvir um fado. A verdade só poucos sustentam!
ResponderEliminarBeijuuss
O teu , o nosso Abril, minha querida jamais será uma data, porque a alegria que sentimos ninguém tem o poder de no-la roubar.
ResponderEliminarQuanto ao tempo de chumbo com que nos sufocam, acabará por cair , plenamente.
Ao contrário do que certa luminária afirmou, a História não acabou!
MInha amiga, abraço forte e fraterno
Seus versos são fortes e traduzem sentimentos que, certamente, estão abrigados no coração do povo. Para voar é preciso que se mantenha a capacidade de sonhar. E ela costuma ficar escassa quando a esperança não recebe alimentos.
ResponderEliminar(Demorei para chegar porque estava viajando). Bjs.