Pintura de Josephine Wall
Em regos irrigados de palavras
de adubado e penoso suor,
vislumbro árvores vergastadas
de pequeninas encurvadas.
Roubado seu tempo de meninice,
escravidão que antecipa a velhice.
O pão continua parco. À mesa, uma fina dor.
Em dias envoltos de fantasias
de cheiros sugados nas maresias,
avisto masmorras submersas
de redes e linhas emaranhadas.
Procuras o afago das sereias.
Sôfregas anestesiam tua dor.
O peixe continua caro. À mesa, um canto
sofredor.
Em momentos encantados
de versos soltos pintados,
respingo a alma poética
de viagens desenhadas
onde risco itinerários
e sóis de maias e maios.
A poesia continua apetecida. À mesa, ignoro
lacaios.
Corre-me este temperado sabor,
ver-te livre, trabalhador,
nascido primeiro de Maio,
ainda que imberbe catraio.
Corre-me um destemperado ardor,
se do baralho do teu senhor,
te vejo na rua descartado,
olhar mortiço no chão rasgado.
Mês de marias, de maias e de maios flor…
OF
Pintura de Josephine Wall
O vento de "marias, de maias e de maios flor " trouxe promessas, quebrou-se a rocha das algemas que prendem à terra que dá o pão e a vontade tornou-se farta na mesa de todos.
ResponderEliminarAdorei, OF. Beijos mil
Respingos poéticos em dimensões divinas! Bem vindo o mês de maio! abração
ResponderEliminarQue Maio seja um raio de esperança e nos ofereça maias que nos façam lutar pelos nossos direitos!
ResponderEliminarQuerida amiga, que tenhas um bom 1ºde Maio e te deixo abraços
Um belíssimo poema! Adoro as imagens da natureza que usas, e tempo, sempre o tempo que não traz o descanso e a paz, como neste caso.
ResponderEliminarO peixe continua caro e continuará caro, e quando o pão é pouco, embora o suor possa ter sido muito para tentar adquiri-lo, sentar à mesa nada tem a ver com com o ritual de alegria e de comunhão, mas um triste face a face com as dificuldades.
Pergunto-me neste dia do Trabalhador, de "marias, maias e maios flor", se nem na possibilidade de nos alimentarmos somos iguais, poderemos ser iguais em quê?
Salva-se a poesia. Neste caso de excelência.
xx
Eu que sou Maria, deixo-te um beijo porque hoje é o dia certo, o primeiro de Maio. E porque hoje plantaste uma poesia adequada e apetecida!.
ResponderEliminarQue esse novo maio,traga-nos menos dor
ResponderEliminare se não,ao menos forças para saber-mos
como enfrenta-la valentemente.
Que a mesa volte a ser um canto de alegria
e sonhos compartidos no lar de todas as Marias
e aos seus.
Bisous querida Odete ler-te é sempre
um novo horizonte a descortinar e apreciar.
Quantas mais já nos trouxe maio e o lacaio que não se livra da desdita.
ResponderEliminarUm pulsar contagiante a força da tua escrita!
bj
Um maio repleto de contradições tal como a humanidade.
ResponderEliminarBeijos
épico e grandioso, gostei também da associação com esta bela imagem!
ResponderEliminarUm magnifico poema, um daqueles que é impossível ficar do mesmo
ResponderEliminarjeito depois de lido. Do meu jeito, percebo este poema como "revolucionário",
pois fora a excelência alcançada, ele vai além, ao tocar no sentir humano,
arranhando na essência com esta realidade dorida e sem cor,mas a
poética salvadora de um perfume de flor de maio permanece no
ar (vento) renovador...
Adorei o poema e a imagem numa expressão única,querida amiga!
Beijo e um abraço repleto de afeto...
"À mesa, uma fina dor, um canto sofredor...".
ResponderEliminarGostei do poema.
Beijo!
Cantar Maio é cantar o Dia do Trabalhador é cantar Zeca Afonso é cantar a dor da revolta daqueles que estão caídos no chão. Cantar Maio é cantar Catarina Eufemia ,os campos da imensidão alentejana em ocasos ensanguentados. E tu, querida Amiga trouxeste a voz da tragédia de todo um povo sofredor, neste teu lindo poema!
ResponderEliminarParabéns
Hélder Gonçalves
Belo poema...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
O sofrimento, as carências, a ausência de respeito aos direitos dos trabalhadores, estão presentes no mundo inteiro. Merecem eles um dia de louvor? Certamente o trocariam por mesa farta e um pouco de tranquilidade para educar e manter, dignamente, seus filhos. Magnífico seu poema. Bjs.
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